Gostava de dizer que colecciono cadáveres, mas não é verdade. Todavia colecciono memórias mortas, de coisas que já não são, ou não estão. Colecciono pessoas que desistiram. De mim, da vida, de alguma coisa em concreto.Como não estão cá, fisicamente, colecciono-as na cabeça.
Colecciono um chorrilho de asneiras mental. Não insulto Deus, porque sei que a parte de nós que O fazemos ainda está acima disso, mas estava capaz de insultar meia humanidade.
Pelo que fazem, pelo que culpam, pelo que dizem, pelo que não dizem mas fazem, pelo que erram. Nascemos sem lógica mas a tentar encontrá-la, é uma sina muito parva.
O mundo não é normal, a humanidade é paranormal, o clima é surreal, e ainda só pensei neste planeta em geral.
O inaceitável tornou-se a moeda de troca de todos os dias. Os civis alvos a abater sempre que possível (afinal estamos todos a estragar o zen do planeta, portanto é justiça kármica). As pessoas, coisas a desprezar todos os dias. É difícil ver o Génesis e a Revelação (Apocalipse). Há sentido nos dias?
Colecciono memórias mortas e gosto de ler livros de pessoas que já sabiam que iam morrer quando os escreveram. Será gory? Tony Judt não deve estar contente com tanto balde de gelo.
Quando uma pessoa tem consciência de que vai morrer porque todos os músculos vão parar, inclusivé o diafragma, e consciência pura de que vai sentir com cada fibra tudo o que lhe vai acontecer, é preciso ter uma certa organização mental para não bloquear. Isto é no caso da ALS (ou ELA), com que faleceram também José Afonso e Carlos Paredes. Há muitos outros terríveis exemplos que fazem sentir a nossa pequeneza gritante. E poucas almas que se importem.
A morte, que já a vi de soslaio, a levar-me tantos doentes, é uma passagem e não um mensageiro. A vida, essa é que é bem lixada.
Não gosto de afixar seguidores; quem me seguir, saberá de si e não precisará de contabilidade pública ou privada. As estatísticas, números e embelezadores de blog estão a mais, uma folha em branco não precisa disso (e do que eu mais preciso é de uma folha em branco).
Podar é preciso, farto-me de dizer. As plantas morrem se não cuidarem delas, se as regarem com líquido dialisador ou com gasolina.
Depois admiram-se das armas de destruição maciça quando há genocídios vegetais e animais (e também de humanas partes) à nossa beira.
Não, não quero ser seguida, não quero ter o blog mais lido de Portugal, que ideia tão triste. Quero escrever o que me apetece, quantas vezes o disse?
Mas quantas vezes acabei a escrever, a esgatanhar circunstâncias?
Mais uma vez ando a limpar a casa (esta casa). Small is beautiful, and more mine.
"(...)Sometimes it's like someone took a knife baby edgy and dull and cut a six-inch valley through the middle of my soul
At night I wake up with the sheets soaking wet and a freight train running through the middle of my head Only you, can cool my desire Ooh ooh ooh I'm on fire(...)"
Penso que estou a retrair-me, a retirar-me. Estar acordada é o contrário de estar a dormir, logo estar a dormir é melhor. Como a vida, para além de moderadamente f*****da também é politicamente (e na generalidade) incorrecta, a minha raiva incorrecta não poderia ficar-se por ali.
O tempo vai passando, a dormir ou acordada, sabendo mais ou menos o que se pássa com os casos de internamento naquela estrutura já tão cinzenta que é o hospital. Antigamente, não se devia ir ao hospital por dá cá aquela palha, ainda se acabava internado e com complicações graves. Hoje pode-se ter alta ainda pior, ou ir-se desfalecendo na inércia das urgências pagas.
A minha vontade de dizer à doente directamente o que pensava teve tempo para agir um dia. O único acesso parou. Está agora internada com uma espécie de "solução final" - o fim da linha - um catéter colocado directamente numa veia central, que para além de ser último recurso quase inviabiliza hipóteses futuras. É como se a luz ao fundo do túnel tivesse sido apagada. A da vida de uma pessoa. Segundo sei, ela não está a reagir bem; simplesmente não está a regir.
De todas as invenções e maravilhas da ciência e da técnica, ainda ninguém descobriu o que se faz quando tudo é irrealizável. Na minha especialidade, chama-se "acabar com o sofrimento" - há pessoas que afogam os doentes em quimioterapia até ao fim, penso que o senso comum é se não matamos a doença, deixemos a pessoa viver o melhor que possa e quanto possa.
Ter a vida dependente de um tubo é para mim um bocado diferente, é absurdo mas é verdade. Complications. Quando (não é se) o catéter trombosar ou causar ele próprio uma trombose, não há mais rim por máquina, é imersão mais ou menos rápida no mundo da urémia. No outro mundo.
É irónico,pois é, que o destino tenha vindo oferecer à doente aquilo que de outra maneira ela pareceu ir à procura. Não consigo raciocinar sobre isso. Fiquei fora de mim com a "tentativa", mas perante este facto não tenho palavras. O meu egoismo retirou-se. O meu coração ficou encolhido e pensei "mas então, não há mais nada?".
Já me perguntaram pela face da morte. É verdade que já a vi rondar, algumas vezes com alívio, permito-me pensar, para doentes moribundos. É a sombra pelo canto do olho. É a passagem para o outro lado. Respondi a essa pergunta que pela morta há que ter respeito, ela não vem maltratar quem cá está, pura e simplesmente vem, na altura certa.
Não sei qual será a altura certa para esta doente, esperava que fosse a muitos anos daqui, mas agora, nestas circunstâncias, a vida a prazo, com tiques de austeridade ainda é mais uma surpresa para a qual não estava preparada. Mais uma vez, se ela voltar à clínica, não sei como se lidar com a situação -improvisando, como sempre.
Muito sinceramente, estas injecções de orgulho nacional, melhor dizendo, de national pride, por em inglês gostamos mais de ser enganados provocam-me uma urticária nos neurónios que é como se me nascessem lombrigas na cabeça.
Desde aquela célebre cena do Portugal this e Portugal that que as cabecinhas de medusa deste pardieiro decidiram mandar como recado à Finlândia que percebi que a pseudo-insuflação do ego faz parte do portuguesinho-olé. Os Finlandeses responderam "nós não nos esquecemos de quem nos ajudou", tão simples, a propósito da 2ª guerra mundial. E prontos.
Depois vieram as mensagens feelgood do prof Marcelo à troika... Não é a troika que precisa de vídeos, somos nós, como inteligentemente intuiu o Sr-seu-padrinho não sei se prof se doutor, também Marcelo, com as Conversas em Família.
Nessa altura não era dobrado em inglês e não havia "o papel higiénico mais trendy e sexy do mundo".
Sim, portuguese people, orgulhemo-nos, produzimos o papel higiénico mais sexy do mundo. Estamos a ir ao fundo em fashion. Em plain british a isto chama-se ser plain dumb.
Rejubilai, pois, e Like Portugal (porque gostar ou amar, é complicado, só precisamos de vender a ideia a esses milhões de estrangeiros que estão desertos para nos salvar). Portugal é o lugar to work, porque a população activa já se pisgou toda, o lugar to live porque é o melhor destino de golfe e praia da Europa (só falta é falar do SNS, da corja que nos desgoverna, etc), É o lugar para crescer (nomeadamente porque a luz a fim do túnel já é tão pequenina...).
Insuflemos britanicamente as nossas supostas qualidades - fado, vinho, azeite, bacalhau, café... e pasteis de belém. E eu a pensar que havia mais, mas afinal de que sabem os servos da gleba?
Há muitos países que confiam em nós, isso, e aquela coisa, windfarms, nunca tinha ouvido falar, julgava que era energia eólica, mas para quê, se continuam todos com o olho no pitrol, e nas nossas priviligiated relations with Brazil, Angola, Guinea, Mozambique (carrada de zs, felizmente os Açores parece que não são motivo de orgulho: não falam a língua nativa, certamente) e por último, mais importante, porque é o Sponsor Guest (TM), Spain.
Onde iríamos nós sem o nosso irmão mais gordo? Neste momento, lamento dizer-vos, nuestros hermanos, o vosso inglês like shit with some fat flies não vos salvou dos imensos sapatos de cimento com que a imensa Mafia Mãe Europa (+Rajoy + Juan Carlos em pessoa) vos empurrou para a fossa das Marianas.
Neste momento, o irmão fracalhote está á deriva na jangada de pedra com os tubarões à volta, e é a eles que apelamos para que nos comam em versão polilingue e financiada por um banco (espanhol), que almejando o bom iberismo, também patrocina uma milionária liga de futebol.
A ser enganada, prefiro ser enganada pelo meu banco, que eu financio até ao tutano como regular contribuinte desta espelunca. O meu status de analfabetismo financeiro é, pelos vistos, menos mau que o do FMI, mas de qualquer modo não me permite olhar de soslaio e ver alguma coisa que goste em Portugal, actualmente. Certamente não as fibras do fato de banho do Phelps e os sistemas de GPS.
Alguma vez um like salvou alguém, srs banqueiros? Façam favor e vão à swap que vos pariu.