Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



domingo, agosto 28, 2005

28.08.2005 - Tirado de agosto

" As plantas acenavam ao vento de
agosto nas suas hastes finas
e verdes. E disse-me a mais
faladora de todas, alta e trigueira:
- Dás-me 10 anos da tua vida?
Eu só tinha 5 anos, pus-me a
contar pelos dedos, vi que ia ficar com muito pouco.
- Dou - disse eu.
E ainda hoje, que nunca mais
soube de mim, vou com o vento,
balouçando. E agosto é todo o ano
para mim."
Ruy Belo
Para mim, não é season, muito menos silly.

27.08.2005 - Encarcerada

A principio, quando comecei a fazer Urgências Internas de Medicina ( no Hospital Egas Moniz, em que estava um médico de chamada a todos os pisos de Medicina e especialidades Médicas), achava que o bip era um estranho prolongamento da Matrix (uma rede comandada pelas linhas telefónicas).
(Nessa altura ainda só conhecia A Matrix; Reloaded e Revolutions estavam no segredo dos Wachovsky, onde deviam ter ficado).
Agora, com o meu bip, responsável pelo serviço de Hematologia (com uma unidade de transplantação), grosso modo 30 camas e muitas intercorrências, e por todas as emergências hematológicas do hospital e urgência central, sinto-me agarrada ao chão, embora da janela do 7º andar veja o Aqueduto das Águas Livres, o eixo norte-sul e mais ao longe as luzes da ponte, o Cristo Rei e os aviões em aproximação.
O chão cria raízes em mim.

26.08.2005 - Who wants to live forever?

Sangue arejado às golfadas sai pelo tubo por onde devia entrar o ar.
O Ambu parece uma pêra de boxe, luto contra um dilúvio imparável.
Não parei para ver a alma sumir-se, mas sabia que já se tinha ido sem adeus.

quinta-feira, agosto 25, 2005

25.08.2005 - Cinefilia: Close Encounters/ET vs Guerra dos Mundos

O meu primeiro Spielberg foi ET, o extra-terrestre; depois disso, para mim, o mundo mudou - havia capacidade para sermos bons e nos sentirmos bem com isso. one small step for man, one great step for mankind. Parecia que éramos capazes de evoluir e integrar diferenças.
Um miúdo levava um extra-terrestre na parte da frente da bicicleta e passavam à frente da lua.
Não sei quantas vezes vi o filme, ouvi a música, chorei baba e ranho. Tinha 9 anos.
Agora as televisões estão a tentar transformá-lo no filme mais intragável de todos os tempos, juntamente com a Música no Coração e o Feiticeiro de Oz (O Triunvirato do Natal). Nenhum deles o merece. Nunca os vi no Natal.
Os primeiros ensaios (Duel, Something Evil, Sugarland Express) vi de relance na televisão. Tubarão apareceu já tarde, depois de Close Encounters e dos primeiros 2 Indianas; nessa altura, já era uma fã fanática.
Encontros Imediatos do 1º grau é outro mimo, várias histórias convergentes, a comunicação pela música, o monte no Wiscosin (parece-me) feito de puré de batata, o mestre Truffaut. Mais uma vez , o encontro, a troca, a tolerância, o crescimento.
Depois há o outro lado da obra de Spielberg, as crianças (rapazes) no meio de famílias desfeitas. As mães nunca têm muito protagonismo porque estão elevadas ao pedestal do complexo de Édipo (ET, Império do Sol, AI, Relatório Minoritário). As mulheres não têm preponderância senão em AI (Monica) e Relatório Minoritário (Agatha); mantêm-se endeusadas e intocadas (a fada azul).
Os rapazes/ homens, estão sempre em carência, em perda e necessidade ( de carinho, família e sentido para a vida). É um padrão, Spielberg tem uma lição de vida a ensinar-nos em cada filme (provavelmente uma lição da sua vida).
Chegamos então a essa alarvidade que é Guerra dos Mundos (o A teve que cair). Sinceramente, a hipótese de matar os bichos com um vírus de computador em ID4 parece-me mais uma actualização do original que este. O compromisso é tanto, que como sabemos que não podemos chamar-lhes marcianos, chamamos-lhe tripods (velociraptors, anyone, ?).
Claramente não há uma mensagem; pós 9-11? O Terminal já tinha uma mensagem de repressão. Claramente Spielberg (gulp) foi tarefeiro de Cruise e fez o filme pelo dinheiro (DreamWorks down the drain).
Expliquem-me um filme de Spielberg sem feel-good, sem mensagem (nem história, já agora), em que um pai (um pouco alheado) mata uma pessoa com as próprias mãos (Tim Robbins; que tem 2 metros de,altura vs Cruise?) sem ser em legítima defesa da família. O argumento não existe. Os refugiados não existem.
O que se vê é maldade em estado puro, como a cena do jipe, e caos (o 747 que aparece do nada). O Homem Mata e não controla Nada.
Se é assim que Spielberg amadurece, prefiro o Aviador.

24.08.2005 - Hard bone

Um tipo de dor verdadeiramente chata (no sentido literal do termo a pain in the ass); não é cólica, não é moínha, às vezes é pontada, às vezes é ruminante.
Parece que o tronco é um peso insuportável que a cintura (pélvica) não aguenta.
Parece que o lombado e o sagrado se querem desatarrachar.
Não mata mas mói. É quando não me apetece, que algo me obriga a estar deitada, quieta.

23.08.05 - O Chão que eles pisam

Só quero acender uma vela.
Quase todos eles conheci, de quase todos eles tenho muito a dizer e muito que saudar (como em igual a ter muitas saudades). Não sei porque não estam cá, alguns deles deviam e podiam estar, não fosse ter desfalecido o seu anjo da guarda. Tenho raiva do destino.
Uns foram depressa, outros sofreram demais. Hoje, em nome de Um deles, é o dia deles. Em que se passeiam por um chão que já é feito de estrelas, porque deles já não é este mundo, ou vice-versa.
Ainda estou a aprender como se faz o luto e vocês estão demasiado cá dentro para poderem algum dia sair; não os deixo, as vossas lembranças fazem-vos vivos e bem. Ao pé de mim.
In Memorian: José Guilherme Jordão
Maria Alice Neto
Alberto Pedro Matthioli
José Manuel Cruz Santos
Jorge Marreiros
Julieta
Carl Sagan
(mortos enquanto estavam
demasiado ocupados a viver)

22.08.2005 - Salas de Chat(os)

Há uma coisa profundamente repelente na internet, chamada Chat. Entra-se com um nickname para uma "sala", aparentemente temática, onde estão para aí 100 pessoas que nem respondem a um Olá e cujo interesse é muito específico: querem saber quem são os boys e quem são as girls para irem "chatar" em privado.
Tudo o que vem à rede é fixe. Primeiro, começavam por ser sobretudo adolescentes imberbes, agora há de tudo (e de todos). Conversar (=chat) é que é virtualmente impossível. São salas de papanço, e para alguns também servem para falar de futebol.
Os meus nicks são sempre bastante elusivos (ninguém sabe quem foi eecummings, quanto mais se é boy ou girl e donde tecla). Caí uma vez na asneira de responder que era médica; em menos de um segundo apareceram todos e queriam consulta.
Haverá maneira ou lugar neste planeta/ nesta web para coisas sérias?

21.08.2005 - As regras da casa

(Quase) tudo o que aprendi de informática foi por minha conta. Sobre blogs também.
Deu-me um trabalhão, mas arranjei uma fotografia expressiva. Gosto da chuva e das flores, querem dizer muito.
As regras que me imponho dizem-me que vou ter de ter uma paciência imensa para aprender a brincar com isto.
1ª regra: Este blog não é um diário; nunca gostei de diários nem me sinto à vontade para escrever tudo o que acontece na minha vidinha ( isso dava um Guerra e Paz ou À procura do Tempo Perdido volume 140...ou talvez não); não quer dizer que não me venha a habituar a desabafar com um computador - será terapêutico?
2ª regra: não há regras na escrita -poesia ou prosa (eecummings).
3ª regra: a política mete-me nojo (nesta fase da nossa involução colectiva global, toda a política me mete nojo, e política = economia = petróleo = globalização = Bush = Al-Quaeda).
4ª regra: sou não alinhada e não filiada por convicção (por exemplo a pré pré pré campanha por Lisboa é a coisa mais ridícula que já vi a seguir ao Santana Lopes).
5ª regra: adoro o Abrupto e o Inimigo Público; os meus amigos da Política Virtual andam muito preguiçosos.
6ª regra e MAIS IMPORTANTE: disciplina, disciplina, disciplina: começar a escrever todos os dias (de preferência cada vez mais e sem ser só sobre medicina). Lembrar-me dos Sem Dias. Lift off.

20.08.2005 - Viagem pela costa com mar bravo

Vejo o sol, o mar azul e bravo, vento e areia dentro do carro.
As ondas rebentam de fúria mas não matam o mar.
As pessoas de pés dentro de água, ao despique com a espuma.
Sem vento, só sol, fruta e curvinhas.
Muitas praias.

19.08.05 - Cinefilía: Charlie e a Fábrica de Chocolates

Depp e Burton são mágicos. Divertem-se um com o outro a fazer de conta que as histórias para crianças (que eles são), são para crescidos. E conseguem, é totalmente verdade.
Todos os heróis de Burton são solitários e meninos que não cresceram, desde The nightmare before Christmas, a Eduardo (mãos de tesoura), ao comprometido herói com um passado n' A lenda do cavaleiro sem cabeça, a Ed Wood e o seu fetiche por roupa interior feminina.
Em Charlie... os 2 solitários são Charlie Buckett (o moral da história) e Willie Wonka (o amoral da história).
Burton e Depp brincaram muito com as perguntas sobre Michael Jackson, mas qual pode ser a comparação? - Willie detesta a infância e as crianças (ou os males do mundo, já que é com um prazer sórdido que vemos os Oompa-Loompas despacharem os pecados terrenos em forma de crianças).
Burton desmistifica o facto das crianças ou adultos serem boas ou más -geralmente são uma mistura bem contada como em O Grande Peixe. No único filme com terríveis marcianos (bem melhor que A Guerra dos mundos), só os humanos são deveras humanos, e sardonicamente humanos; acabamos por derrotar os marcianos com Tom Jones! Não é delicioso ? ;o)
Depp é como sempre, psicadélico e atrevido. Venham mais que estamos precisados.

18.8.05 - Cinefilía: "A Ilha"

Fui ver a Ilha com uma pulseira azul no braço. Agora é moda. Ao que parece, nos states os "action movies" é que deixaram de dar $$$. No caso concreto, o produtor ( o mesmo d'O Gladiador, por acaso), disse a bandeiras despregadas que os protagonistas (ainda) não eram estrelas de 1ª grandeza...
Parece-me estranho que digam isso de Ewan McGregor, o nosso Obi-Wan charrado do Trainspotting que até sabe cantar e dançar. E isto no mainstream. Sinceramente, até quase que pagava para o ver de kilt...
Quanto a Scarlett Johansson, apesar de não gostar do loiro falso, é inegável o charme desde o Encantador de Cavalos até o Amor é um Lugar Estranho.
Obviamente que nem um clone dos supracitados podia assemelhar-se a Bruce Willis ou Schwazenegger. É precisamente por isso que a Ilha não é Armageddon ou Pearl Harbour.
A ideia é extremamente inovadora e joga com a nossa ética nos limites. Depois há kiss kiss bang bang, mas também isso está salvaguardado no próprio argumento, que fixa a inteligência emocional dos agnatos nos 15 anos.. o que estavam à espera, sinceramente? Michael Bay também tem 15 anos (assim como os seus fiéis angariadores): quem é que acredita que, se houver um meteoro em rota de colisão com a terra, estão dois, repito dois shuttles prontos e não incineráveis para salvar a humanidade?
A ingenuidade dos 15 anos de Lincoln e Jordan é muito mais verossímil - como eles se divertem/aprendem numa espécie de evolução mágica e violenta da power-box, é apenas lógico que se defendam pregando um adversário à porta com muitos muitos pregos.
É também muito interessante a ideia de que os tecidos/orgãos não se desenvolvem sozinhos, precisam de um organismo completo, e a de que uma célula somática tem capacidade de aprender (para além do programado).
O filme levanta aspectos, que se não se estão já a passar hoje, não estão a 10 anos de futuro. E é precisamente por ser tão adolescente que capta os que são capazes de o reconhecer, e não a presente geração de playstations.
Esse é que é o verdadeiro inimigo dos blockbusters modernos.

quarta-feira, agosto 17, 2005

16.08.2005 - Há muito tempo, no século passado

Lembro-me, lembro-me bem dos Armazéns do Chiado e Grandella no Natal, e os miúdos embasbacados com as montras (já havia uns joguitos Nintendo de 2 andares; o ZX estava para aparecer, era tudo tão palpável). As bonecas, que não Barbies, mas da Famosa (R), os jogos, os legos e os comboios (que entretanto desapareceram)...
Lembro-me de não haver telemóveis nem portáteis (essa é fácil).
Lembro-me de haver muro de Berlim e deixar de haver muro de Berlim e pensarmos que já não haveriam mais guerras. Depois começou o Golfo, parte1, Bush1.
Lembro-me da minha mãe me ter trazido uma réplica do Concorde da Air France em esferovite.
Lembro-me do 109º andar da Torre Norte (ou seria Sul?), das hordas de japoneses, do urso que salvei do desastre, de pensar que se estava tão bem lá em cima, com o Empire State tão longe.
Lembro-me de ver o shuttle passar uma vez no céu estrelado.
Não me quero lembrar de mais nada.

segunda-feira, agosto 15, 2005

"u dos". 14.08.2005

Podia ser a minha última decepção, se não tivesse começado em Fevereiro, quando foi suposto porem bilhetes à venda.
Dirty shame, Bono! Mister Integrity que anda aí a fingir que se preocupa com os outros. Pudera, quanto mais ele se preocupa, mais dinheiro ganha.
Foi uma máfia do princípio ao fim, isto dos bilhetes. Nunca vi coisa igual, com Paul Simon, Phil Collins, Genesis, Sting, Bryan Adams, Mark Knopfler... Coldplay, que estão calmamente a esgotar oPavilhão Atlântico.
A música não é um concurso, nem um discurso, Mr Bono (In the name of Love)...
Antes, quando Where the streets have no name, I still haven't found what I´m looking for, One, Numb,  Beautiful day ou Electrical storm, vocês 4 eram YOU TOO (ou uma metáfora com os u-boat).
Agora, são simplesmente U DOS (1,2,3,14)...
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