Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



domingo, setembro 28, 2008

Blue eyes

"Blue eyes, baby's got blue eyes
Like a deep blue sea
on a blue blue day.
Blue eyes, baby´s got blue eyes
When the morning comes
I'll be far away
and I'll say

Blue eyes holding back the tears,
Holding back the pain.
Baby's got blues eyes
And he is home, again."
Elton John/Bernie Taupin,
excepto último verso
não me interessa o porquê
interessa-me o porque sim
nem eram os olhos azuis
mais devastadores do mundo
azuis-cinza, mas eram azuis
isso me basta, rest in peace


Desalinhada

Às vezes, cada vez mais frequentemente, salta-me a tampa para as bocas da reacção. Intelectuais de esquerda, direita, centro? Se fossem intelectuais, não faziam parte do nosso status quo político (atrever-me-ia a dizer, do status quo político global, cambada de pasteis).
Sinceramente nunca alinhei, repugna-me a simples ideia de "militar, ser militante de". Simpatizante ainda vá lá, mas o que é que sobra? Num mundo normal, diria que no meio está a virtude, pensando que à esquerda o estado controla o capital e à direita o capital controla o estado (em termos genéricos, devia ser esta a diferença, a gestão dos nossos fundos, das contribuições de quem trabalha). Num mundo normal...
Pois. Desde há muito tempo estas são as minhas canções de "desalinho" - nada de político. Curiosamente, "nasceram" para aí com um ano de diferença, 1989-90, e pouco antes de o vocalista dos INXS aparecer morto. Disappear e Sit Down, Ladies & Gentlemen.


Disappear/INXS

Say I'm crying
I'm looking at what's on T.V.
Pain and suffering
And the struggle
To be free

It can't ever be denied and I
Never will ignore
But when I see you coming
I can take it all

You're so fine
Lose my mind
And the world seems to disappear
All the problems
All the fears
And the world seems to disappear

Say you're mine
And give yourself to the
Feelings that you know
I'm needing
All that you can give me
All the things
That you do so well
Words are healing
Sweet anticipation
Making spells
As the shadows close in
Fall across all our yesterdays

You're so fine
Lose my mind
And the world seems to disappear
All the problems
All the fears
And the world seems to disappear

You're so fine
Lose my mind
And the world seems to disappear
All the problems
All the fears
And the world seems to disappear

Disappear
Disappear
Disappear
Disappear
Disappear
Disappear
Disappear

Say if I could
Look into myself and reason
But I could never never see or
Make sense of the dealings
Turn around
Am I looking at salvation
Make me realise all that I am
You put the light inside this man

You're so fine
Lose my mind
And the world seems to disappear
All the problems
All the fears
And the world seems to disappear

You're so fine
Lose my mind
And the world seems to disappear
All the problems
All the fears
And the world seems to disappear

You're so fine
Lose my mind
And the world seems to disappear
All the problems
All the fears
And the world seems to disappear

You're so fine
Lose my mind
And the world seems to disappear
All the problems
All the fears
And the world seems to disappear



Sit down / james

I'll sing myself to sleep
A song from the darkest hour
Secrets I can't keep
Inside of the day
Swing from high to deep
Extremes of sweet and sour
Hope that God exists
I hope I pray

Drawn by the undertow
My life is out of control
I believe this wave will bear my weight
So let it flow

Oh sit down
Sit down next to me
Sit down, down, down, down, down
In sympathy

Now I´m relieved to hear
That youve been to some far out places
Its hard to carry on
When you feel all alone
Now I've swung back down again
It's worse than it was before
If I hadn't seen such riches
I could live with being poor
Oh sit down
Sit down next to me
Sit down, down, down, down, down
In sympathy

Those who feel the breath of sadness
Sit down next to me
Those who find they're touched by madness
Sit down next to me
Those who find themselves ridiculous
Sit down next to me
Love, in fear, in hate, in tears

Down
Down

Oh sit down
Sit down next to me
Sit down, down, down, down, down
In sympathy

Oh sit down
Sit down next to me
Sit down, down, down, down, down
In sympathy

Down

Caixinha de reclamações (2)

Esqueci-me, já estava para reclamar no outro dia, mas aceitam-se sempre sugestões.
# De quem, pergunto de que cabecinha ignobilmente brilhante, saiu a ideia deste título, para um livro já MUITO conhecido, então vá lá: "A Quinta dos Animais" (iá-iá-ô)?
Ok, há muito muito tempo o George Orwell, que também era um pseudónimo, deu-lhe o nome de "Animal Farm". Como é que foi traduzido para português, não sei se no tempo do outro senhor, ou no tempo dos novos capitães, é um fait divers.
TODA A GENTE conhece, com a excepção da Lili Caneças, provavelmente, e se não conhece devia conhecer "O Triunfo dos Porcos".
Mas o que é que aconteceu? passou a ser politicamente incorrecto? Para os porcos Snowball e Napoleão? Para os outros animais? Para o dono da quinta? para os animais que são todos iguais mas uns são mais iguais do que os outros? Bolas! Re-bolas!
Um dos poucos casos em que o título português não era só chamativo, mas tão bom como o original ou melhor (atrevo-me a dizer), em vez de ser uma porcaria embestalhada como sempre, que não tem nada a ver com o original... E agora atiram-nos precisamente, com o original!
Deve ser para não vender e para as pessoas se esquecerem que ele existe. Ideias perigosas, porcos nós, todos? Que inestético, que injustiça, que...estupidez...
Eu cá continuo, orgulhosamente porca.

sábado, setembro 27, 2008

Adeus Lenine

Talvez seja excessivamente triste, por isso ao mesmo tempo tão cómico tudo o que o filho faz para não perturbar a paz do antigo regime. Vindo de pessoas tão quadriláteras como os alemães, consegue ser sensível e levar-nos a pensar no que realmente muda, quando as coisas mudam, na farsa tão grande que é o homem tentar imitar a sua própria história, passando a imitação à realidade.
E não foi com isso que os cidadãos alemães do pós-guerra tiveram de viver? Eu se fosse alemã e tivesse vivido durante a guerra, todos os dias pedia desculpa por estar viva e todos os dias recomeçava de novo, numa Alemanha negada.
E não é com a "cobertura", ou melhor "com o encobrimento noticioso" que vivemos hoje tão bem, como há 10, 20, 30 anos. Isso assusta o íntimo que há em nós. Queremos reparar?


Depois há também a música de Yann Tiersen (Amélie), e esse jovem com ar nada alemão e bastante versátil e bem parecido, Daniel Bruhl.
...E quem se lembra da RDA, RFA, CCCP? Estranho, não é?

caixinha das reclamações

Sim, este blogue tem caixinha, ou livro amarelo ligado directamente à ASAE para reclamações.

Eu reclamo.

# Não pode haver caloiros de qualquer espécie a pastar (oops, passear) em Setembro. Já basta a porcaria do primário e do secundário. Dia 1 de Outubro era um excelente dia, já era odiado há gerações por procuração (isto para os mais novos). Por acaso aprendem, já não digo MAIS, mas melhor?Então porque é que a resposta a qualquer pergunta é Dahhh (ou será Duhhh?)... Deve ter a ver com qualquer coisa do Jurássico.

# Não pode haver mais exploração comercial do Mamma Mia senão dá-me um chilique grave. Sim, algures muito longe, numa galáxia distante, houve anos setenta. Eu nasci nos anos setenta. E nããããããão, não era mamma mia numa ilha grega no verão em karaoke (não havia karaoke, as ilhas gregas eram para larilas -e ainda são, e nunca gostei particularmente da canção). Ao contrário de outras dos ABBA, bastante boas, não o comum euro-trash. Mas os Srs suecos B&B depois de incinerarem o grupo, decidiram incinerar as músicas. Podem ficar podres de ricos, mas como diria a sua canção, Déja Vu vezes de mais.

# Televisão portuguesa; não vejo, nunca, excepto se estiver a dar desporto que me interesse e enquanto me interesse, cada vez menos documentários alternativos da 2 com a chancela da National Geographic (o que nalguns casos duvido muito) ou uma ou outra não-anunciada-política-ecológica-transgenicamente incorrecta corrida de forcados. Em geral o resto são séries de cabo, que já não enchem os serões da semana inteira. Sinto-me feliz e realizada. TV is a laxative for the mind.

Ah, e excepto o Marcelo, dá-me vontade de rir, ás vezes.

# É inadmissível que já estejam já a pensar no Natal. Pode haver uma guerra nuclear antes, pode ganhar o Obama, pode haver um degelo, mais o ozono e o sistema nacional de saúde...
>>>>O prémio fura vidas do mês vai para Jorge Palma, por tão facilmente se ter dado a encostar ao BCP. Porreiro pá. Assim também eu. Há algum banco que precise duma carinha laroca a fingir que é a Carla Bruni?(Isto com photoshop vai lá)

quinta-feira, setembro 25, 2008

Paisagem, com pomar e figuras

Como trabalho de rentrée (em férias tínhamos lido os Maias e Viagens na Minha Terra), a nossa stôra (tratemos as pessoas pelos nomes ) de Português, que achava que as pessoas da área A Saúde tinham que ser uns néscios na língua pátria, mandou-nos a todos à Exposição Temporária da Gulbenkian sobre Impressionistas da colecção Reader's Digest. Eu e um grupo de colegas até já lá tínhamos ido antes, pelo que foi fácil, escolher um quadro e escrever.

Não percebo nada de pintura a óleo, inventei, como se se fizesse um quadro num dia, sem esboço nem nada, discorri no que achei mais natural serem os focos de atenção do quadro.

Com um título espantoso, diga-se de passagem. Mas enfim, a stôra mais uma vez engoliu os pergaminhos e como gostava tanto de se ouvir, leu-me alto e bom som a toda a turma. Já de seguida. (eu e ela adorávamo-nos de paixão, percebe-se não é?)


PAISAGEM COM POMAR E FIGURAS
CLAUDE MONET - ÓLEO SOBRE TELA - 1879


O sol desabrochava por entre os montes distantes.
Lentamente, a vida começava a despertar: já se ouvia o cacarejar distante do galo, o canto suave e melodiosos dos pássaros, os movimentos discretos e silenciosos dos mais madrugadores.
O meu quarto iluminava-se, recebendo, agradecido, os primeiros raios de um sol de Primavera.
Levantei-me e corri para a janela. Embora ainda estivesse em gestação, eu sabia que este dia seria muito especial.
Em pouco tempo, estava pronto a sair para um passeio no campo. Paleta, cavalete, tela, óleo, não faltava nada...
Os meus passeios não eram planeados nem pré-determinados. De vez em quando, saía da pequena casa que tinha alugado, e andava pelo campo, dialogando com a Natureza, tentando captar o que ela realmente tem para nos dizer.
Ah, que diferença: a calma bucólica do campo, contrastando com o permanente bulício de Paris... Sinceramente, é aqui que eu me sinto mesmo bem.
Passara já campos de papoilas e terrenos cultivados, pequenas ravinas escarpadas, e vales que serviam de leito a ribeiros, pequenas aldeias fervilhando de actividade, e longas florestas onde apenas se ouviam os murmúrios da Natureza.
Cheguei ao cimo de uma colina. Nesse preciso momento, descobri o que me havia motivado desde o princípio do dia. Instalei o meu cavalete e as minhas tintas. Tudo estava pronto.
A paisagem que se vislumbrava diante dos meus olhos era imensa. Porém, eram as árvores e o céu que captavam a minha atenção.
O céu, apesar de Primaveril, tinha aquela cor clara, levemente enevoada, de um dia de Verão, onde se desenhavam os reflexos cor-de-rosa das nuvens dialogando com o sol.
Comecei a pintar. Misturei azul, branco, amarelo e rosa. Espalhei as cores suavemente, com pinceladas fortes que expressavam a minha visão daquele céu preso num ténue tecido de algodão.
Depois, a colina, altiva e imponente, destacava-se do fino bordado do céu, pelos seus tons verdes frios, cinzentos e castanhos esfumados. Espalhei-os na tela com pinceladas largas, sem rumo, ora diagonais, ora horizontais.
Lá ao longe, vislumbravam-se perfis de uma casa e de árvores, que se encadeavam já na teia azul e branca, parecendo desprender-se da ténue linha do horizonte. Escolhi uma mistura de verde e azul, castanho e cinzento, para formar uma cor que mostrasse a distância, a separação total daquele panorama que se apresentava aos meus olhos.
Quanto ao solo, ao substrato, a todo o fundo essencial para completar toda aquela panorâmica de beleza, embora começando por ser uma mescla de verde esbranquiçado, cinzento azulado e castanho, que escondia um vermelho quase provocante, tornava-se, à medida que cobria a tela, uma mistura mais homogénea, de um verde escuro, verde-negro, quase opressivo, como que subjugado por uma natureza em êxtase que o rodeava.
O fundo estava pronto. Podia agora passar ao primeiro plano. Poderia passar agora ao motivo, à razão de ser daquele esboço que se começava a desenhar naquela tela junto de mim.
À minha frente encontrava-se um vale, e em primeiro plano, um pomar.
As árvores em flor, com o seu vigor e brilho, contrastavam com a natureza que as rodeava, quando comparada com elas, quase inerte e sem sentido.
Primeiro desenhei os troncos, finos e esguios, erguendo-se para o céu; uns em tons de castanho e branco, apenas com um pouco de preto, para contrastar com o verde escuro e suave do fundo, eram os que captavam os raios solares em toda a sua intensidade; outros, do lado direito da tela, eram pintados em tons de castanho e predominantemente preto, pois encontravam-se na sombra.
Mas o que mais me impressionou foi a vivacidade e multiplicidade de cores das flores. A partir dessa altura, deu-se uma simbiose total entre o pincel e a minha mão. Febrilmente, compus as folhas e as flores como inúmeros pequenos toques leves, graciosos e multicolores: brancos, rosa, azuis, amarelos e até encarnados, dando uma impressão de vida e de movimento, mas de um movimento suave, como uma aragem.
Da mesma forma que espalhou pelas árvores as graciosas flores, o meu pincel cultivou outras plantas, mais rasteiras, por entre a relva bravia, no seu verde escuro, agora coberta de múltiplos pontos e traços de várias cores.
Todo o resto da paisagem era secundário: duas pequenas casas, simples, brancas, com telhado vermelho, tentavam sobressair, embora discretas e singelas, por detrás da manifestação de exuberância que a natureza me exibia.
Secundárias eram também as personagens: uma mulher sentada na relva alta - umas poucas pinceladas cremes e castanhas -, uma outra, inclinada, debaixo das árvores - para além do castanho e creme, uma breve mancha branca, sugerindo um vestido - e uma terceira, com uma criança nos braços, passeando no jardim deslumbrante, quase oculta pelas árvores em flor.
A obra estava pronta. Falando modestamente, a verdadeira obra estava num vale, já ao fim da tarde de um dia de Primavera, à frente dos meus olhos, e eu tinha-me limitado a passar à tela a minha visão do espectáculo esplendoroso que é a Natureza em flor.
Guardei as tintas, os pincéis, desmontei o cavalete, e olhei uma última vez para o vale florido, que recebia agora os últimos raios do pôr-do-sol... Como o tempo passara depressa !... Mas aquele dia fora realmente especial !
Cheguei a casa e pensei num nome para o quadro. A sua grandiosidade estimulava-me. Depois de muito ponderar, cheguei à conclusão que, por mais belas que fossem as palavras, só o quadro falaria por si. Singelamente, acabou por ficar, apenas, Paisagem com Pomar e Figuras. Assinado Claude Monet.

quarta-feira, setembro 24, 2008

e porquê este poema ?

Como todas as pessoas de que me lembro, na altura, vi várias vezes Il Postino, o Carteiro de Pablo Neruda, no cinema Mundial. Toma liberdades em relação ao livro (que só lhe ficam bem) e para além de tudo o resto, a música (do chileno condizente Luiz Bacalov) também é um primor.
O CD trás como bónus a leitura de poemas por pessoas mais ou menos conhecidas, Julia Roberts, Glenn Close, Ralph Fiennes (sendo que este último podia recitar a lista telefónica da frente para trás e de trás para a frente, que eu não me incomodava minimamente), Sting, Andy Garcia (com o seu cubano accent), entre outros, e Madonna, que leu precisamente este, "If you forget me".
Descobri aí para o you tube que ela até fez uma espécie de vídeo, simultaneamente tiques de diva, actriz e leitora de poemas. Mas a dicção é boa, o poema está bem lido. Levei vários para as aulas interactivas do Cambridge (o mais dificil é a língua falada). E cá ficou. Tanto que não resisti a umas modificaçõeszinhas "my love feeds on your love beloved", o meu amor do teu amor se nutre? é pouco! Feeds, alimenta, suga, como o suco da vida.
É isso que gosto em Neruda, não é um homem de meias tintas, pode contemplar o deserto de Atacama ou o mar na Isla Negra, mas vem-lhe sempre uma imagem, uma fruta à cabeça, um nervo, um lata.
Sim uma lata, se te fores embora eu parto logo no caminho contrário, mas oh se não fores... Pablito, quem não te conhecer, que te compre... con el sangre del mio sangre, con el sangre de mi corazón.


para Massimo Troisi e Philippe Noiret, estrelas já maiores que as outras.

e que tal um poema?

Se tu me esqueceres
Quero que saibas
uma coisa.
Tu sabes como é:
se contemplo
alua de cristal, os ramos rubros
do outono lento na minha janela,
se toco
ao pé do lume
a impalpável cinza
ou o corpo enrugado da lenha,
tudo a ti me conduz,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
em direcção às tuas ilhas que me esperam.
Ora bem,
se a pouco e pouco deixares de me amar,
deixarei de te amar, a pouco e pouco.
Se de repente
me esqueceres,
não me procures,
que já te haverei esquecido.
Se consideras longo e louco
o vento de bandeiras
que percorre a minha vida
e decidires
dexar-me à margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
nessa hora,
levantarei os braços
e as minhas raízes irão
procurar outra terra.
Mas
se em cada dia,
a cada hora,
sentes que a mim estás destinada
com doçura implacável,
Se cada dia em teus lábios
nasce uma flor que me procura,
ai, meu amor, ai, minha,
todo esse fogo em mim se renova,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor do teu amor se alimenta, amada,
e enquanto viveres continuará nos teus braços
sem nunca abandonar os meus.
Pablo Neruda
Os Versos do Capitão
trad Albano Matins (e eu mesma, a partir do inglês)

segunda-feira, setembro 22, 2008

e já agora, um pouco de Dunquerque e de Omaha Beach

Ah, estas tecnologias modernas... Só para complementar o post de alguns dias atrás - a diferença de tom, mas um tom sempre ferido. (porquê só nos filme, e não antes de se meterem nestas coisas?)






Dario Marianelli e John Williams, stay with me.

domingo, setembro 21, 2008

É assim uma coisa mais este estilo, que eu tinha em mente...


wild child (agora em movimento?)

Palavra de honra, agora até já o You Tube tem tiques e fica parado?
Está uns dias atrasado, mas a culpa é doutro tube, mais orgânico...



Wild Child/ Enya

Ever close your eyes.
Ever stop and listen.
Ever feel alive.
And you've nothing missing.
You don't need a reason
Let the day go on and on.

Let the rain fall down.
Everywhere around you
Give into it now.
Let the day surround you
You don't need a reason
Let the rain go on and on

What a day, what a day to take to
What a way, what a way to make it through.
What a day, what a day to take to a wild child

Only take the time.
From the helter skelter.
Every day you find.
Everything's in kilter.
You don't need a reason.
Let the day go on and on

Every summer sun,
Every winter evening.
Every spring to come
Every autumn leaving.
You don't need a reason
Let it all go on and on.

What a day, what a day to take to.
What a way, what a way to make it through
What a day, what a day to take to a wild child.
What a day, what a day to take to.
What a way, what a way to make it through.
What a day, what a day to take to a wild child.

What a day, what a day to take to.
What a way, what a way to make it through.
What a day, what a day to take to.
Da-da-da
Da-da-da-da-da-da
What a way, what a way to make it through
Da-da-da
Da-da-da-da-da-da
Da-da-da
Da-da-da-da-da-da
What a way, what a way to make it through
What a day, what a day to take to a wild child
(Não sei, sou só eu, ou devia haver mais wild childs por aí, sobretudo que se valessem umas às outras quando estivessem forçosamente de baixa. O mundo devia ser feito de Calvins e de Calvinettes, e de Hobbes e Mafaldas e Earls e Moochs e Shtinking Puddings...)
What a day, what a day to take to a wild child.

wild child

Menina
não sonhes demais
sabes
aquilo
que sabes,
tens
uma vida
inteira
querida,
para mais saberes
mas também
sem mesmo o quereres,
para correres
e brincares,
para VIVERES!
Manuel Alves Castela
23/06/1981

quarta-feira, setembro 17, 2008

Gabriel

O vídeo está muito bem feito e aguenta perfeitamente a visualização expandida.
O estar de férias não obsta a que ache a canção espectacular, e embora não acredite em anjos (boa metáfora no entanto), acredito em pessoas. E gosto do nome Gabriel, independentemente do que possa significar em hebraico.


Gabriel / Lamb

I can fly
But I want his wings
I can shine even in the darkness
But I crave the light that he brings
Revel in the songs that he sings
My angel gabriel

I can love
But I need his heart
I am strong even on my own
But from him I never want to part
Hes been there since the very start
My angel gabriel
My angel gabriel

Bless the day he came to be
Angels wings carried him to me
Heavenly
I can fly
But I want his wings
I can shine even in the darkness
But I crave the light that he brings
Revel in the songs that he sings
My angel gabriel
My angel gabriel
My angel gabriel

terça-feira, setembro 16, 2008

Dão-se Alvíssaras...


Tou de férias. Pronto. É capaz de chover o tempo todo, ficar pior que na Sibéria e tudo. Já estou de férias há um tempo. Na teoria. Porque na prática, ui. É como na velha máxima: mantém os teus amigos perto e os teus inimigos ainda mais perto...

Neste mundo inspirado, estou suspensa de 100 cordéis para dar um passo. Férias, que é isso? Incontactável, não pode ser. Imagine-se o caso de acontecer uma catástrofe e eu não puder estar presente... Tenho a certeza que se pode chegar a um consenso quanto à melhor hora e local. Cambada de... portugueses.

E não só, arranjam crises internacionais só para chatear, novas guerras frias, Chávez e crash da bolsa que desta vez é que vai lixar os contribuintes. Desta vez? Mas onde é que os soutoures analistas televisivos viveram até agora? No Allgarve?

Qual é a presença de espírito para assistir à ruína e à Madonna, e resisitir só para mostrar a lua de Setembro. A administradora tira férias de blogue, sobretudo de coisas sérias e que dêem muito trabalho. Já tem a cabeça um bocado para o desaparafusado e prefere mantê-la.

Está tudo em jogo. Eu saio do jogo sem pagar para ver. Férias, by demand. Dão-se alvíssaras a quem amanhã encontrar este país...

worst - doctor - ever

E está de volta com a sua acutilância e o seu brilhantismo para salvar doentes depois de quase os matar ou vice-versa. De volta aos televisores americanos, bem visto.
Os soutores europeus andam piurços com a malpractice do homem, que pode levar doentes a quererem ser atendidos por médicos como ele (????)... O homem que dispara antes de perguntar, nem sequer tem practice, ou noção de que seja ética e o jibberish que eles inventam na série tem um nome e não é medicina, é McGuffin. Não sabem o que é? Vão aprender á Cinemateca.
O mote é Everybody Lies (sobretudo, nunca confiar no doente, ou em ninguém) e House mais do que ser médico, gosta do seu lado sado-maso, ultra dependente de opiáceos e bengala. It's a living. Politica, hierárquica, científica, anarquicamente incorrecta.
Por favor, não confundir ainda mais com a realidade.


Ps: será que alguém já os avisou que andam a pendurar os Rxs ao contrário e o corações ficam todos, hmmm, um pouco à direita? SNS, anyone...

segunda-feira, setembro 15, 2008

A guerra, agora a frio - da Normandia de Ryan a Dunquerque de Expiação

Penso que não erro muito ao dizer que entre estes filmes se passaram aproximadamente 10 anos. Têm uma guerra em comum e tudo diferente. Spielberg vs BBC, ianques vs bifes, história de combate vs história de amor. Um é baseado num romance, outro numa história que podia ser verdadeira. Acabam os dois mal, com é óbvio, acabam todos como heróis? Nem tanto.
Spielberg devia ter cortado a cena do cemitério militar, mas foge-lhe sempre a câmara para os finais redundantes... depois de um filme tão tocante, não havia necessidade. O desembarque da Normandia é visto de uma forma brutal, não a preto e branco, mas quase em sanguínea, ao nível dos soldados que se vão descobrindo como carne para canhão. Não são os aliados em todas a sua glória, mas são os aliados em todo o seu poder descontrolado.
A patrulha do capitão Miller, o homem como os outros que até era professor, e agora treme descontroladamente, não é divina, enviada do céu para matar nazis e salvar a humanidade e arredores. É humana também. Por vezes nem sabem como reagir perante um inimigo que também tem cara e braços e pernas como eles.
Dez anos depois, a humanidade afundou-se, em Dunquerque são os ingleses e franceses que retiram, que fogem, que destroem paradeixar ao inimigo apenas terra queimada. O livro é ainda mais literal na agonia da desistência antes de uma verdadeira batalha. Os ingleses nem têm expediente para retirar os seus soldados do continente. Acabam de se ver sozinhos na guerra contra todos e a França (e a Bélgica) caíram com o sopro. Tanto que a única opção é fugir, até ver o mar, e na praia, desesperar.
Um fumo negro. O soldado mais que raso Ronnie-que-podia-ter-sido-médico-e-ter-vivido-o-seu-grande-amor-não-fosse-ter-sido-preso-e-trocado-a-prisão-pelo-exército mantém-se vivo (ou morto) perante a miragem de regressar, de voltar para. Um coro de soldados canta a cantiga mais triste que é possível. Não volta para. Era tudo miragem. Do outro lado, Londres é bombardeada e nos hospitais vêem-se calamidades. Uma expiação paralela à linha central do romance seria - Porque é que Ronnie se alistou, sabendo que iria combater numa guerra imensa? Para regressar? Numa altura em que já se suspeitava o que significava exactamente regressar (como a geração anterior, ao regressar das trincheiras)? Ou para se perder? Suspeito que todo o filme, o seu tom, é feito desta desencantada desistência.
O 1º filme ganhou óscares (menos o "escândalo" de melhor filme, bastante untado pelos produtores de Shakespeare in Love), o 2º globos de ouro e BAFTA, nada de óscares, tirando a partitura original. Isto diz muito acerca das actuais posições europeia e americana perante "os mundos" em que hoje o mundo se divide.
Já não há humanidade nem esperança. Desperdício, desespero, nunca voltar.

É só para me gabar...

... os amigos do Abrupto também têm dado por ela, pela minha Lua de Setembro! ora ei-la, no dia 12, a nascer...
Hoje já não estava no meu campo priveligiado de visão. No problema, desci ao rés-de-chão e voilá full-moon, mais watts que os candeiros. Para a minha pobre e ultrapassada máquina, muitos efeitos especiais naturais de distorção cromática, inda mais linda... Saravá.

domingo, setembro 14, 2008

Pré-requisitos da princesa e da ervilha : uma árvore, um livro, um filho

Acho que no original, livro devia vir no fim, afinal é um mote, pelo menos do século 19. A árvore primeiro, demora mais tempo a crescer e a cuidar, é uma preparação, que podia começar no fim da infância e prolongar-se pela vida fora. A responsabilidade de adubar, podar, tomar as decisões para o crescimento da árvore tornaría-nos capazes de tomar essas decisões para nós mesmos e em prol dos nosso próximos?
Como plantar uma árvore na cidade? Um bonsai não conta. Não é uma réplica da natureza, é uma miniatura. Não se vive nem se faz filhos a tratar de miniaturas seja com toda a arte e destreza do mundo. Furando o cimento? Adjudicando uma dessas árvorezecas que as juntas de freguesia de vez em quando se lembram de deitar por aí, com um letreiro "propriedade de fulano de tal".
A metáfora da árvore é o crescimento, o saír suficientemente da casca para perceber as competências que se pode usar para subsistir, primeiro, e depois consegui assegurar a subsistência dos filhos. Por isso, sem a tradicional família alargada em que todos vivem perto, desde os bisavós aos bisnetos, e os nascimentos e mortes são vividos pelas famílias, diria mais, dentro das famílias, em vez de despachadas, sobretudo as mortes, para longe da vista e do coração, os pais e filhos separam-se (e agora estranham que os filhos fiquem em casa tanto tempo... se calhar, é sobrevivência, e já foi assim há muito tempo).
Nesta minha cosmologia individual, passo ao livro. Antes, pelas dificuldades de impressão, seria um livro de memórias. Agora, qualquer pessoa escreve um livro pela net, nem que seja em linguagem sms. ddtcl? Ninguém lê, verdade seja dita, mas toda a gente pode escrever, ou por um vídeo no youtube. As recordações tornaram-se efémeras e inócuas. parece que já não há ninguém que recorde. As fotografias que se permeiam são de guerra no World press photo. O "nosso" mundo está a deixar de ser fotogénico, até como recordação para as gerações que se hão-de seguir, que também já não estão interessadas. Em nada.
Isso leva-nos ao filho, o primum movens. Às maternidades e paternidades tardias. E depois? Não é suposto pela equação fundamental, que estamos a cuidar deste mundo emprestado, porque na realidade é dos nossos filhos? Sinto que não estou a cuidar de nada, e que ainda estou a aprender a cuidar de mim (porque por ironia do destino, me deixei a mim para o fim), embora suspeite que saiba melhor cuidar dos outros. E que a responsabilidade de podar, de endireitar, de ninar, de abraçar, de ouvir, de respeitar já foram adquiridas ou vieram de fabrico em bom estado, ou tive boa professora nalgumas das competências.
A de me auto-sustentar, na forma de suprir o meu futuro, estraga-me as estatísticas. Neste momento não imagino o meu futuro, não posso inventar a estabilidade que não tenho para levar sequer um filho ao infantário quanto mais à faculdade, neste país ou no próximo. Nesta cidade ou noutra. Onde assentar o meu ninho. A minha incapacidade natural de olhar por mim em benefício dos outros também não seria problema. Teria que olhar para mim em benefício de um filho.
Na teoria mais que idiota do presente em que vivemos, poderia ter hoje uma filha ou um filho de 20 anos. Eu! Sim, eu! 20 anos! Daqui a um ano passarei a estar feliz e automaticamente incluída no grupo de possíveis gravidezes de alto risco.
Tem piada. Tudo isto nunca foi coisa que me incomodasse. A constatação do geral é que pesa. A falta de condições. O ter escolhido e plantado uma árvore que não cresceu porque não fui eu que tratei dela (mas sou boa "jardineira de interiores"), o ter escrito um livro que não me afundou o ego, porque nesse particular ele é à prova de Margaridas Rebelos Pintos e distribuidoras e regras de mercado. Os cabelos brancos que me começaram a nascer aos molhos assim num repente (terei que tirar uma fotografia para mostrar ao meu filho/a: "olha, não te preocupes, não foste tu que os fizeste"). O apontar de binóculos a ver se o meu futuro aparece.
(Reduzindo, tudo, ao absurdo: futuro = condições de finanças estáveis para não me prover só a mim, mas conseguir poupar (?!?quando, quanto, quando?!?); variáveis = um bom/boa ginecologista/obstetra, idem pediatra, idem seguro de saúde, muito muito muito mais idem um pai para a criança; opcionais (não sou esquisita) = adopção onde quer que seja, mesmo por intermédio da Angelina e do Brad)
Futuro, futuro, aparece.

september moon

Não foi preciso chegar à janela. Ela vê-se através do cortinado. Branca e luminosa. Grande enorme, sol branco na noite escura.
Uma ou outra vez já vi luas de Setembro com luar mesmo; no dia dos meus anos mesmo, na única altura em que me lembro de na praia do Guincho estar bandeira amarela uma semana seguida e os windsurfistas (ainda não estava na moda o kyte-surf e outras variantes) e mesmo os surfistas sofrerem em terra com um mar "quase" flat. A célebre Boca do Inferno vendia gelados, mas o diabo havia de se ter escaldado. O mar estava calmo, a lua tinha luar. Era Verão, mesmo a sério, como os verões devem ser.
Agora estamos em aulas, os dias fecham-se cedo, daqui a pouco Natal, etc. Mas há lua de Setembro à mesma, daqui não lhe pronuncio o luar, mas o brilho surpreendente e o tamanho, e a alvura. E entretanto voltou a Música, embalando-me a cabeça que começa a ouvir lentamente.
Assim que eu me desligue, o mundo pode recomeçar.
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sábado, setembro 13, 2008

A Solução Final aka Circo de Feras

I- A ameaça“Quando o sangue de um inocente é derramado, é derramado o sangue da Humanidade. Do mesmo modo, quando uma vida é resgatada, é a vida de toda a Humanidade que é resgatada.”
Imã Mohammad Gemeaha

Passaram mais de 3 meses…parece que passaram anos, e no entanto… É a primeira vez que me atrevo a reunir as peças para falar sobre o assunto. Fiel à sua etiologia, terrorismo é a ciência de inspirar terror. Não só na televisão, no mundo dito “civilizado”, lá fora, mas no nosso mundo próprio interior. Uma vez estilhaçado, custará muito mais do que 100 “Justiças Infinitas/Liberdades Duradouras” a reconstruir. If ever.


II- A cidade
A cidade, pela primeira vez na sua longa história, é destrutível. Uma simples formação de aviões do tamanho de um bando de gansos pode acabar rapidamente com esta ilha de fantasia, queimar as torres, transformar as passagens subterrâneas em câmaras letais, cremar milhões. A sugestão de mortalidade passou a fazer parte de Nova Iorque: no som dos jactos no céu, nos títulos a negro da última edição de um jornal.”

Na mente de qualquer sonhador perverso(…) Nova Iorque deve manter um charme magnético e irresistível

E.B.White, jornalista e escritor, conhecido dos americanos sobretudo pelas suas brilhantes histórias infantis, escreveu em 1948-49 “Here is New York”, pequeno livro sobre a sua cidade, não um guia turístico, mas uma visão e pressentimentos íntimos, dos quais escolhi os dois acima transcritos.
NY sempre teve consciência da sua magnanimidade, dos guetos de negros e da esquina com a 5ª Avenida. NY é o mundo americano, palpitante, vivo, desembaraçado, só e plural. Manhattan é o nome de um filme de Woody Allen que nos faz lembrar Gershwin, a ponte de Brooklyn e as torres, à noite, um skylight a preto e branco de uma cidade hiperpovoada que começou a crescer para cima.
A 11 de Setembro dois aviões comerciais embateram contra as duas torres gémeas do World Trade Center. Estive lá, no Ground Zero, 109 andares acima, há 1 ano; vi as pessoas nos seus escritórios agriolhados por pequenas frestas metálicas em forma de janela; vi o céu lá em cima, Central Park lá ao fundo, a estátua da liberdade tão pequena lá em baixo.
Foi megalomania construir as torres? Não creio que Deus ou Alá se pudessem sentir tão desafiados. Afinal demoraram mais de 20 anos a desenvolver a maneira mais eficaz, televisiva e que matasse o maior número de almas possível. E resultou.
Para alguém da minha geração, pondo de parte o aspecto das perdas humanas, no espaço de um ano, assisti ao colapso de 2 instituições de alta tecnologia que nasceram comigo, ou o seu reconhecimento/sucesso foi meu contemporâneo : o Concorde e as Torres do WTC. Inabaláveis, diziam. Shaken, not stirred. Mares de chamas. Na era dos riscos calculados, o terceiro milénio brindou-nos com acidentes considerados inverossímeis mas que diminuíram a nossa fé no futuro radioso que sonhávamos viver. Cada dia que passa, a televisão, esse incrível aliado do infortúnio, trata de nos desinformar um pouco mais e deprimir até à dependência absoluta das suas imagens irreais.
Os nova-iorquinos fizeram o seu luto colectivo, acenderam as velas, cantaram os seu mortos, desfraldaram as bandeiras, enquanto o país procurava o seu presidente, temporariamente perdido no Air Force One; depois o presidente viu-se forçado a procurar um culpado (que não os organismos de segurança do estado, NSA, CIA, FBI) e um nome mais adequado que Justiça Infinita (pelos vistos, a inspiração no Corão soava demais a Al-Quaeda). Depois, foi o que foi e um dia será, o gato e o rato com algumas perdas colaterais pelo meio.
O mundo recompõe-se, os analistas económicos respiram e é Natal. Mas este ano não há Menino Jesus e o Pai Natal encontra-se refugiado num bunker algures na Gronelândia.

III- As vítimas
Não sei se o mundo vai ser pior ou melhor. Mas vai ser diferente.”
Edson Athayde

Desta vez não bastou ser filho de um deus maior, havia a promessa de um paraíso que só podia surtir efeito após uma lavagem cerebral. Em que pensariam os pilotos suicidas ao guinarem a bomba relógio de gasolina, velocidade, peso e reféns contra o alvo/gaiola? O que pensariam os passageiros desviados da sua rota ao verem dois prédios colossais cada vez mais perto? Há uma psicologia interna que nos escapa e que os últimos telefonemas não desvendam. Há um desespero surdo e surpreendido. Porquê eles? Porquê, sequer? Porquê terroristas culturais especialistas em destruir o que restava do Afeganistão, se tornaram tão sedentos de sangue humano e espaço assegurado no prime-time?
Porquê tanta ignorância acumulada em forma de ódio cego e demolidor. Porquê matar tanta gente inocente? Não há nada que se possa dizer que o justifique. Quem tentar é masoquista ou perdeu a razão. O que não é difícil. Nestes dias, razão e justiça são difíceis de encontrar.

Not only do you need the courage of your convictions, sometimes you need the courage of your doubts.”Adlai Stevenson
Tanto foi já escrito, dito, mostrado por centenas de cadeias de televisão, como se mais depressa se apagasse o fogo por tanto falar dele. O que melhor retrata o non sense pós-traumático de uma geração que nunca esteve debaixo de uma guerra real foi precisamente a comparação com os filmes de Hollywood. O Apocalipse em Nova Iorque, revisitado, nunca tinha sido (publicamente) visionado de maneira tão incisiva e cruel. Sinais dos tempos, a arte não imita a vida, a vida imita as playstations.
É muito mais fácil carregar no botão e ver à distância arderem 100 Hiroshimas. Mas o factor humano muda tudo…Pensávamos nós que nos conhecíamos melhor no terceiro milénio (dC). Pelo menos nestes últimos dois séculos o lema olímpico “mais depressa, mais alto, mais forte” pode com muita propriedade aplicar-se à nossa capacidade de aniquilação.
Hoje, sabendo o que sei, tendo visto o que vi, posso dizer que tenho medo, muito medo. Há 10 anos preparava-me para um mundo sem fronteiras, sem muros de Berlim, as ameaças votadas ao esquecimento. Hoje, tenho medo do ontem e do amanhã, porque realmente nem sei se um ou outro aconteceram ou virão a acontecer.
Por isso odeio religiosamente (e religiosamente tem um sentido diferente de fanático) quem quer que seja que tenha destruído esta ordem (exterior e interior). Porque a mim me roubaram o meu deus. O D grande ficou entalado nos escombros do WTC, cremado, partido, amortalhado, esquecido. Os que vão morrer Te saúdam.
A religião não me interessa, monstros há-os em todas, que delas se servem para os seus propósitos. Daí que, Ossama ou Adolf seja puramente indiferente, a Solução Final é a mesma, a impunidade perante si próprios coberta pelo mesmo manto hipócrita e ridículo, a sordidez e planeamento do embuste iguais.
Não a despropósito, Apocalipse quer dizer Revelação.

13 de Dezembro de 2001

Nesse belo tempo em que o Diário de Notícias era um jornal de referência e no DNJovem se escreviam às vezes coisas sérias (meu habitat natural), aproveitei para espremer alguma da desgraça que trazia agarrada desde o 11 de Setembro. Quem me conhece bem, sabe que em mim as desgraças se vão colando como post-its umas às outras (mas com muito mais cola), até chegar a compêndios de tamanho enciclopédico.
Posso dizer que o 9-11 me marcou de uma maneira tão estranha que é difícil explicar. Não sou americana, pro-americana, contra-americana, pro-republicana, pro-democrata convicta; conheço-lhes uma quantidade ínfima de país e aeroportos, conheço-lhes gaziliões de coisas que me entraram ao longo dos anos pelos olhos e ouvidos dentro ( e os Haagen-Dasz, e os Ben & Jerry...), conheço-lhes os truques da língua.
Se calhar, conheço-os mais do que gostava. Em Nova Iorque ou noutro sítio qualquer, quando me ocorria pensar "Esta gente tem toda licença de porte de arma, a maioria anda armada, uma data de gente morre por isso, SOCORRO". Eles sempre tiveram medo de ser os polícias do mundo; há 7 anos eles demonstraram-no publicamente, aceitando que as suas liberdades fossem restringidas a favor da segurança, e que o oligofrénico que eles escolheram pelo menos uma vez os levasse não para a Mãe de todas as guerras, mas para a última guerra americana.
Li, li muita coisa sobre o atentado, ruminei até me sair pelos poros. Não me dou bem com o caos que não seja natural, isto é, produzido pelo homem. Com o caos e o desnorte cirurgicamente implantados na cabeça das pessoas. Não é terror, é tirania.
No próximo post, um texto publicado no DNJovem 3 meses depois. Then & now...

Só porque sim e não porque é melancólica


A canção é bonita mesmo. Letra & Música (e vídeo). Para variar, como tudo o que vem da Anatomia de Grey, é radiogénica. Para variar, como sou do contra, não vejo a Anatomia de Grey (1º, Anatomia? 2º, cirurgiões?). Prefiro o House (esse é homem para Rolling Stones, Pink Floyd e The Who) e E.R. (que já foi à vida nos states, mas é mais Annie Lennox e tristes baladeiros quando há uma catástrofe pessoal ou profissional). Pronto, lá vamos nós. Mas esta música é misteriosa e melodicamente Zen, com Z grande.

Chasing Cars  / Snow Patrol

We'll do it all,
Everything,
On our own.

We don't need
Anything
Or anyone.

If I lay here,
If I just lay here,
Would you lay with me and just forget the world?

I don't quite know
How to say
How I feel.

Those three words
Are said too much.
They're not enough.

If I lay here,
If I just lay here,
Would you lay with me and just forget the world?

Forget what we're told
Before we get too old.
Show me a garden that's bursting into life.

Let's waste time
Chasing cars
Around our heads.

I need your grace
To remind me
To find my own.

If I lay here,
If I just lay here,
Would you lay with me and just forget the world?

Forget what we're told
Before we get too old.
Show me a garden that's bursting into life.

All that I am,
All that I ever was
Is here in your perfect eyes, they're all I can see.

I don't know where,
Confused about how as well,
Just know that these things will never change for us at all.

If I lay here,
If I just lay here,
Would you lay with me and just forget the world?

ligthen up

Faltava qualquer coisa diferente assim, para dar a volta ao blog. Assuntos muito sérios, cabeça muito cheia. Agora, só muito depois do pôr do sol.
(National Geographic: Vancouver Island, Columbia britânica, Canadá)
E são mesmo gaivotas.

Botão de pânico

É azul com letras a branco e diz "ELIMINAR ESTE BLOGUE".
Devia ser proibido eliminar blogues, por mais fatelas que sejam e Kw de electricidade que consumam ao mundo cibernético. Esta coisa do Blogger é suposta ser user friendly e pergunta (amigavelmente) se queremos eliminar o blogue (aos administradores) ?
Agora, só porque me apetece, vou apagar um livro. Como? Não sei. Apanho uma livraria a jeito, escolho um autor de que desgoste particularmente e apago as folhas todas. Fica em branco. Ainda pode ser vendido para caderno. Ou então, eliminar a sua existência física, mas isso implicava uma coisa mais noite de cristal, estilo juventude hitleriana.
Um dia destes, infelizmente, há-de ser possível. Tido será digital e virtual. Aulas virtuais, diários clínicos virtuais, processos virtuais, cada simples anónimo munido da sua PDA (nos países industrializados) ou PDA a pedais (nos países sem cheta, que essa do 3º mundo já não convence ninguém).
Cada cidadão do mundo saca da sua PDA/telefone/impressora-mini/cartão de crédito/bilhete de identidade/ história clínica/banda larga/leitor mp10/fotoscan dados vitais em tempo real (Relatório Minoritário?) e num piscar de retina, está feito, refeito, apagado, transmutado, teleportado.
A importância que se dá hoje em dia às coisas feitas manualmente (loiça, porcelana, artesanato, algum vestuário) passa por ser tudo feito por milhares de chineses anónimos. Por isso se valoriza tanto a "arte" que consiste numa tela com 2 pontinhos e um segmento de recta, alegadamente desenhados por mão humana
Não por muito tempo, parece-me.

sexta-feira, setembro 12, 2008

trovas


Há mais de uma semana que ando com esta canção na cabeça. Ao princípio não ouvia acompanhamento, só uma voz indistinta a cantar algo também indistinto, triste e sentido. Depois foi surgindo o timbre da voz e a letra, e descobri.
Tanta coisa que ainda nos escapa. Quem dera ao George W umas cançõezinhas destas (duvido que entendesse). A tristeza, ainda mais que o fado /destino, tem copyright em Portugal.
Somos os mais orgulhosamente tristes de olhos lavados e lágrima perene do mundo. E até isso estamos a perder.
Trova ao vento que passa
Música: António Portugal
Letra: Manuel Alegre
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira

Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
E o vento cala a desgraça
O vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
(Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.)

quinta-feira, setembro 11, 2008

o dia seguinte


Afinal o mundo não acabou. Só se tornou mais sádico. E estúpido. O acelerador linear de partículas ainda não está totalmente operacional para gerar buraquinhos negros ou descontinuidades interdimensionais. O Luke Skywalker bocejou e na Enterprise deram uma festa.
The prey becomes the hunter. The hunter becomes the prey.
And the Art of War begins. I'm on it till my guts drop out.
Brush up your grammar if you please.

nine-eleven





Foi há sete anos. Estava a sair do Hospital para casa (ainda não perdi a mania de escrever hospital com H grande), ao encontro de uma sessão de marranço com um livro descomunal em 2 volumes que eu aprendera a odiar lentamente ao longo de vários meses.




3ªfeira, 17 de Outubro de 2001, havia exame para concurso nacional de entrada para as especialidades (entretanto extinto, assim como os Internatos Geral e Complementar, que se fundiram para sem duvida formar gente mais competente; médicos? não me parece). Não atingia porque é que havia de ser sistema digestivo, cardiovascular, respiratório, nefrológico e hematológico. Vários deles tinham partes que não entravam e que agora sei perfeitamente. Tive uma branca nesse dia, começando 1º por Outubro. A Hematologia e a Pneumo é que me salvaram (fiz o pleno nas duas... e pouco mais).


Aliás, primeiro, disseram-me que havia qualquer coisa errada, que uma das torres do WTC estava a arder, depois na rádio para casa, eram duas, havia gente no telhado, um helicóptero, chamadas telefónicas, caos em Manhattan.

Fiquei em branco desde que liguei a televisão e todos os canais estavam a dar a CNN em directo. Em Julho desse ano tinha ido a um congresso no hotel entre as 2 torres. 5 estrelas. Marriott WTC.

Na praça central que se assemelhava segundo Rui Tavares, estranhamente à espiral de uma mesquita, a "praça do mundo", tocavam Jazz ao fim do dia. Imigrantes brasileiros vendiam toda a panóplia do I heart NY. Havia banquinhas da fruta. Estava lá a Cow Parade e havia duas vacas/torres gémeas.

A estação subterrânea de metro e ligação a comboios suburbanos tinha um centro comercial com lojas interessantes, sobre a natureza, uma loja dos Looney Toones na qual comprei montes de coisas.

Nos prédios do Winter Garden, de onde se via os pássaros voar pelas cúpulas transparentes, lembro-me de passar tempos e tempos a salivar na livraria Barnes & Noble (deve haver para aí 500 em NY, nas fotografias estou sempre ao pé de uma). As malas vieram abastecidas de Emily Dickinson, a 1ª americana com coragem para ser poeta, W.H. Auden (do Funeral Blues), eecummings, Walt Whitman (oh captain, my captain), sei lá.

Achei a cidade mais feia do que nos filmes (ao contrário de Paris), e os arranha céus menos imponentes do que parecem. Decidimos subir ao WTC, preterindo o Empire State 1º, porque estávamos mesmo lá, e os japoneses faziam à mesma uma fila dos diabos e 2º, porque iam lá estar sempre os 2, demos prioridade ao mais novo...

Foi espectacular o 109º andar. As 2 torres, os minaretes a chamar os fieis.

Em casa lembrei-me das pessoas que se viam dentro das estreitas janelas entre ferros (não eram bem janelas sequer, porque nem abriam), a trabalhar todo o dia. Em NY o dia tinha acabado de começar. Bem depressa começou a acabar. mas demorou tanto tempo a repetição slow-motion do acabar da agonia do espanto do medo do choque da impotência.

Fiquei sentada, a km e a horas daquilo tudo a acontecer. Estavam lá pessoas amigas, mas longe.

O fumo, a infâmia. Destruíram os meus sonhos, destruíram a glória yuppie dos anos 70/80 (e 60, que aquilo para construir ainda levou tempo). Destruíram os ícones do mundo que era o meu, o mundo do passado e do futuro, as estátuas em pedra dinamitadas. Aviões carregados de gente contra edifícios enormes que anda não estavam cheios de gente? kamikaze? terror? a minha liberdade prescindo-a se atacarmos o Afeganistão? aviões em terra, air force one no ar? importam-se de repetir?

A nuvem cinzenta, o rasto da civilização, o esboço do petróleo a arder que tudo há-de consumir, até, por super-aquecimento, uma estrutura de aço, e a confiança dos americanos na sua inexpugnabilidade.

Lançar o terror é sádico, doentio, demente, deliberado. Não os vencemos pela força, vamos vencê-los pelo medo. Medo puro e absoluto. Da morte, da queda, do calor, da asfixia, dos voice mails ouvidos tarde demais.
A internet (em Portugal, ainda sem banda larga) deixou de funcionar. Literalmente, o mundo parou, sentou-se e chorou, porque quando se chega a actos de selvajaria onde não só os fins justificam os meios, como as vidas humanas deixam de ter interesse ou valor, tudo é possível.

Nestes 7 anos, tudo tem sido possível. O mundo do futuro afundou-se (Concorde, Columbia, WTC), apesar de termos alegadamente descoberto a cura pª o cancro umas 500 vezes por ano. Que cancro? Apesar da nossa sequência genética ter sido descodificada. E as proteínas que funcionam senhores, são menos de 5% do genoma.
Que parte da árvore e da floresta não entenderam? Que parte de o mundo está a mudar e não é para melhor é que ainda não entenderam? A Terra nunca terá piedade de nós, nós estamos longe de contribuir para o equilíbrio. Somos estúpida e alarvemente pequenos e com uma mania das grandezas incongruente.

Quando vi o excelente filme United 93, chorei e tive medo. Por todos nós.

Obviamente, fiz uma pesquisa no google e escrevi 911; preparei-me para o pior, para a náusea de reanimar a memória. Uma página só. Na seguinte, passam para o Porsche 911. As moscas continuam as mesmas, tal e qual.

Be. Very. Afraid.

E curiosamente, eu que sou tão ligada de um modo quase masoquista ao sofrimento dos outros, não me vou lembrar este 911 das imagens chocantes e cruéis e longínquas. Entretanto, subrepticiamente, mudaram-se mais aqui para o pé de nós.

Terror, querem-me fazer crer, é cada dia que se passa e que se calam os quatro cavaleiros do Apocalipse, tão felizes, por verem que nos estamos tão bem a sair sozinhos.

Pantomina

mummer= actor de pantomina
Grande canadiana ruiva, a música da terra saúda-te.



LOREENA MCKENNITT
THE MUMMERS' DANCE
When in the springtime of the year
When the trees are crowned with leaves
When the ash and oak, and the birch and yew
Are dressed in ribbons fair

When owls call the breathless moon
In the blue veil of the night
The shadows of the trees appear
Amidst the lantern light

We've been rambling all the night
And some time of this day
Now returning back again
We bring a garland gay

Who will go down to those shady groves
And summon the shadows there
And tie a ribbon on those sheltering arms
In the springtime of the year

The songs of birds seem to fill the wood
That when the fiddler plays
All their voices can be heard
Long past their woodland days

And so they linked their hands and danced
Round in circles and in rows
And so the journey of the night descends
When all the shades are gone

"A garland gay we bring you here
And at your door we stand
It is a sprout well budded out
The work of our Lord's hand"

quarta-feira, setembro 10, 2008

aiiiiiiii




Deve haver qualquer coisa no ar no éter na atmosfera, no ozono, nos raios gama e no comportamento das margaridas! Acabei de por o Abrupto em dia - o mundo vai acabar hoje... Ninguém me disse nada. Juro que aquilo da mão não foi um sobreaviso.


Hoje, 10 de Setembro do ano da graça de 2008, o Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), vai por a matéria a girar a alta velocidade, para provar essas maravilhosas tretas quase metafísicas em que também se tornou a moderna física quântica e nuclear (negar o que está certo e o que está errado, porque de uma maneira ou de outra, quanto mais fundo escavam, mas as contas dão para o torto).
Não sei exactamente o que é que eles pretendem provar que existe, matéria, anti-matéria, quarks, electrões, positrões, fusão a quente, cisão a frio. Da última vez que me informei, fiquei confiante de que não ia haver desgraça - só queriam simular o sol debaixo dos Alpes. Alegadamente, agora, podem transformar-nos em buracos negros.

E nem veio nas notícias. Sinceramente, se acontecer, acho que até o Altíssimo se ria.

certo 18 de Setembro,

No tempo em que o verão ainda entrava por Outubro sem pedir licença, numa festa de aniversário, comemorava-se. Não consigo precisar o ano, é estranho, embora tenha a nítida noção de que era o 21º, ou seja, a idade da maioridade. Feitas as contas, +- 1995, +- 3º ano da faculdade.
Isto é, na verdade, "a partir de agora vais ver bem como te dão com os pés". De facto, em menos de 2 anos, todas as presentes desapareceram (4) por moto próprio e muito voluntário, deixando o nó do liceu pendurado lá em cima à espera de vítimas.
Curiosamente, se é o mesmo verão em que estou a pensar, em que houve sol quase até às onze da noite, promulgado pelo agora cavaco Presidente, foi um dos verões mais bem passados, com férias de qualidade, á maneira, sem chatices com exames e com direito a excursão algarvia ainda sem telemóveis, madeleines e all that jazz.
Bem, uma colega do liceu, que sempre tinha sido da turma de Economia e Gestão e estava a tirar o curso de gestão na Católica, tinha andado a fazer umas experiências mediúnicas excepcionais. A médium, a bem dizer, era uma agulha metida num fio, e a vasta experiência adquirida na semana anterior a decifrar esoterismos e linhas da vida.
Mas não é que nas Mães, pais, e "crescidos" parecia bater certo? Ao menos à aniversariante havia de sair boa coisa.
Mas... as palmas das minhas mãos dizem que eu sou inteligente, sensível, dada às artes, a ponta dos dedos polpuda rara, que sou particularmente sensível e emocional, do resto lembro-me pouco da correspondência, o importante, caso com o amor da minha vida aos 30, temos um filho (só um, uma filha, depois a agulha pára) e já agora, vivemos felizes para sempre, yes?
, qu'ideia! A/as (já não sei que mão ou se as duas) linha da vida, hélas, pára aos 30 também.
Sou brilhante, caso com um príncipe, tenho uma filhota e morro? Aos 30? Dizem-me isso aos 21?
Fiquei traumatizada. Sempre soube que a convencionada "linha da vida", em termos gerais, na minha mão esquerda, com muito sacrifício e boa vontade chega a meio, e na direita, parte-se em várias paralelas pouco depois da partida...
5ª dimensão? mundos alternativos? As probabilidades são uma falácia. Juntar o útil ao agradável é reduzir as probabilidades ao mínimo, porque é acontecer isto E isto E isto n vezes é improbabilíssimo.
Curiosamente, era a única que morria nova. Por acaso, ou coincidência, não estou disso minimamente à espera. O prazo de validade não é coisa que me incomode. Mas dar cabo de uma festa dá.

terça-feira, setembro 09, 2008

beleza ou arte?

É a beleza que muda, ou a nossa concepção de beleza?

Ou afinal o que muda é sim a beleza da nossa concepção?

A preto e branco ou a cores, em tela ou em película.




a pen mightier than all swords

Mesmo com as devidas precauções que me suscitam as ONG (e basicamente o mundo inteiro), actualmente, este vídeo é fora do vulgar.

Quem dera que fosse esta a maneira de resolver os nossos problemas.

segunda-feira, setembro 08, 2008

And now for something completely different...

Acabei de ler um livro, facto já de si inédito, uma vez que nos últimos dois meses foram mais os que comecei, e que foram ficando em stand-by, do que os que acabei. Na lista de espera ficam ainda Umberto Eco, Pablo Neruda, Joseph Mitchell e Susan Sontag.

Há espaço, há tempo(?), haverá disponibilidade...

Acabei de ler Os Palhaços de Deus, de Morris West. Fiquei de rastos. Não faz completamente o meu género porque mete uma ou outra subtrama que não aquece nem arrefece, e o enorme McGuffin sobre o qual se baseia é um pouco...difícil de digerir.

No entanto, é fácil descortinar (basta ler uma página), que não é Dan Brown et al, que atira uma espécie de quase ideia que se calhar pode quase ser verdade se uma data de outras quase verdades pudessem quase existir (vende muito e não leva com muitos processos da opus dei). Não, este homem trata o boi (o Vaticano) pelos cornos, no que é aliás especialista. Escreve muito bem e consegue ser tanto filosofo como poeta. Misturar a parte mais intimista com a política internacional do pé para a mão (os americanos são piores, os agentes da CIA quase que se arrependem, mas depois arrependem-se de se arrependerem, é como se fizessem o trabalho de Judas).

Finalmente a trama, é ao mesmo tempo boa e insuficiente. A mensagem não tão subliminar é a de que o Vaticano se devia deixar de rococós e vir ter com os fieis (ideia perigosíssima...baseada no senso comum), que o pensamento cristão devia ser baseado nos crentes e na sociedade e comunidade de crentes e não no sr. cardeal que veste Prada (28 anos depois). Tudo bem. O pior é que o McGuffin se torna personagem, o fim do mundo e o Filho do Senhor, que cirurgicamente se fartaram da treta do livre arbítrio e decidiram trucidar-nos, salvo uns tantos que passam a viver como os primitivos cristãos.

 Se é preciso que do caos venha a ordem, porquê deste caos, porquê sermos todos palhaços de Deus, porquê as crianças com trissomia 21 serem os petits buffons? O meu Deus não conhece o mal, ama-nos e ao seu filho, que não vem para negociar mais uns dias antes do fim do mundo e dizer este pode passar este não. Torna-se num soldado nazi à porta do supremo campo de concentração... Mas Ele não morreu para nos salvar (a todos)?

É-me portanto um pouco difícil engolir o final, embora admita que é corajoso ( o tio Dan punha algum ET a salvar-nos com muito glamour...). É feito de desespero, e de descrença em nós próprios, e se em 1981 havia a guerra fria e as ogivas nucleares, a bem dizer, há hoje alguma coisa que nos "salve" mais do fim do mundo? Simplesmente suspeito que ele não se vai fazer anunciar, vai acontecendo todos os dias.

A premissa de que se as pessoas soubessem que o mundo ia acabar se suicidariam em larga escala é lógica, mas também implica uma certa dose de lógica interna que não sei se existiria nos dias de hoje, sendo remetida para aquelas seitas marginais.

Não me considero marginal como cristã; acredito em Deus pelo coração, não é coisa que se prove; pratico-o sempre que posso (muito mais do que rezar o terço) com todas as falhas inerentes. Não posso acreditar neste fim. É um bom livro, excessivamente triste e pessimista (embora às vezes tente amenizar a dureza dos temas). Brinque-se com o Vaticano, mas não com os Palhaços.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Contas em dia

Hoje vou ficar agarrada à cadeira, já não mais me levanto. Tenho tanta coisa a por em dia com este blogue, ou seja, comigo própria, que a ordem de entrada me vai parecer muito arbitrária.
Minto, não vou ficar sentada aqui o dia inteiro, mas tenho que me ir escrevendo o dia inteiro.
Lembro-me de qualquer coisa, uma série, um teledisco (no meu tempo... os vídeos chamavam-se telediscos e havia aquela coisa velhotas, como se chama, a MTV...raridades), um filme, não sei, em que uma pessoa ía sendo toda escrita, literalmente toda a pele um livro.
Duvido mesmo assim que desse para todos os livros que nos passam pela cabeça pelo facto de estarmos vivos. Bastava a nossa "base de dados" orgânica, o famoso "life support system", para dar um diário maior que as várias incarnações da Enterprise (ah, eu também sou do tempo 1)do Caminho das Estrelas série primitiva em repetição; 2) dos filmes com a tripulação original engordada; 3) da nova geração; 4) não liguei pevas ao deep space nine e não sei palavra de Klingon).
Curioso que life support system pareça tão pomposo, mas ninguém ligue ao pequeno "milagre" entre aspas (para cépticos), que é, não só estarmos vivos e continuarmos vivos, mas funcionarmos (e continuarmos a funcionar). Comparado com isso, o resto torna-se um bocado small potatoes, mas fomos programados para nem sequer reparar que respiramos ou que o nosso coração bate ou que os nossos olhos piscam, a menos que alguma coisa corra muito mal.
Devíamos pensar mais nisso - de vez em quando, pom pom, pom pom - e na relatividade que atribuímos à nossa vida, à nossa segurança, à nossa importância. Só assim podemos dar toda a importância ao que é realmente importante e acessório. E agradecer, ou continuar sem dar por isso.
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