Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



quinta-feira, novembro 27, 2008

Hunting High & Low

Antes de ter reparado no Money for Nothing, de ter reparado que até gostava do Mark Knopfler e que este, vídeo não, teledisco, tinha mudado o mundo há tempos atrás, este foi o meu teledisco preferido (e os A-Ha continuam a ser uma banda com canções espectaculares).
Sucede que esta foi a primeira que vi/ouvi e não o Take on Me. Para a época, ai velhinha de mim ( e deles, e de uma data de gente, o tempo pássa a gente é que não vê...) são preciosidades high tech que se calhar agora qualquer youtuber de trazer por casa consegue fazer sozinho.
Mas tinham sido high tech,tinham originalidade, tinham orquestralidade, o vocalista tem uma voz mesmo fantástica -e hei-de falar aqui sobre vozes-, aquilo que falta muito hoje em qualquer lado, por isso a música se banaliza como tudo o mais.

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Sim, e há uma razão para me ter hoje lembrado dela.

on ne será pas toujours quelque chose fou?




terça-feira, novembro 25, 2008

Hoje o mundo está estranho diluído e frio sem vírgulas nem pausas.
A minha Avó contou-me várias vezes, aliás afiançou-me que os fantasmas existem, estão cá e fazem os vivos sentir-se arrepiados  e estranhos. Quando ela era pequena morava no Bairro Alto, não a coqueluche de hoje, mas de outra maneira muito diferente, um bairro com vida. Ela contou-me que ao lusco-fusco, antes de ser bem noite, contra as velas se viam sombras de pessoas sem corpo para fazer frente à luz. E não podia ser outra coisa qualquer não senhora.
Está frio muito frio e chove formam-se poças leitos rios mares. Tenho frio quero rodear-me de velas acesas. Hoje vi pessoas dissolverem-se e tornarem-se fantasmas. Positivo/negativo, gémeas univitelinas de fotografia convencional mas não normal. No princípio do século XX, um inglês decidiu que havia de fotografar fadas. E fotografou. Mas ninguém senão ele as via nas fotografias. Talvez as fadas se dissolvam e os fantasmas gostem de velas.
Mas as pessoas dissolvem-se, os fantasmas são líquidos, como o homem do Magritte ceci n'est pas une pipe chovendo do céu com um parapluie? O inacreditável é que eu não acredito em fantasmas, embora certas fotografias do google me tenham feito arrepios na espinha.
Um fantasma não vive, ergo não tem células, tecidos, coração, oh sim coração, cérebro pulmões guarda chuva? Não existe e no entanto é está e foi-se pelo seu pé.

Be. Very. Afraid. Very.

Apanhei-o no Abrupto de que sou fã incondicional, embora também por vezes diagonal. Mas esta crónica publicada no Público dia 22 é tão desesperadamente verdadeira que até arrepia. E vinda de quem vem, ainda deve ser levada mais a sério. É caso para termos muito medo, mesmo.
"Tempos Sombrios / José Pacheco Pereira
Ter opinião nestes tempos de miséria não é fácil. Apetece não ter ou calá-la. A opinião é um irritante a mais em tempos em que o que não faltam são irritantes. Se é "pessimista" é depressiva. Se não é uma espécie de raio de sol por entre as nuvens, ou seja "construtiva", uma coisa que tenho muita dificuldade em saber o que é, encastra-se num ambiente já de si sombrio. Tudo é ou parece um beco sem saída, ou sem saída nos nossos tempos. Que outra coisa se pode fazer a não ser mais um artigo gloomy, sempre que se começa um "ano", ou seja, quando a rotina do trabalho já está implantada e as férias são um longínquo desejo ou uma memória que não passa das fotografias digitais, que nem servem para mostrar no emprego?
Como há-de ser de outra maneira quando o país está a empobrecer mais depressa que o costume, já estava antes da "crise", e acelerou com a "crise"? O empobrecimento nas suas várias formas, desde as mais drásticas como o desemprego até às menos visíveis como a dívida, corrói a qualidade de vida e dissolve toda a esperança. E pior ainda, para quem discute no espaço público, com o empobrecimento vai muita da independência e da liberdade, já tão escassas antes, agora ainda mais débeis. Escrever para uma sociedade que está essencialmente a ver se não perde o pouco que tem, que está virada para a sobrevivência aos seus vários níveis e que está disposta a trocar independência e complacência pelo emprego, pelas benesses que ainda tem, torna muita crítica incómoda. E, no fundo, quem pode julgar moralmente de alto este retorno sobre si mesmo, de quem tem pouco e não quer ficar com nada? Não, não são tempos fáceis estes em que o espaço público se encolhe e por isso fica mais miasmático, menos saudável, mais claustrofóbico, mais conflituoso nas minudências e menos atento às grandes questões vistas com impotência, menos sensível aos valores da liberdade e do espírito crítico. São bons tempos para os governos autoritários e para o populismo e maus para a liberdade, a independência e autonomia do espírito.
O nível de vociferação cresce, mas o do espírito crítico esmorece. As pessoas implodem, protestam, dizem coisas apocalípticas sobre "eles" e retornam a um quotidiano cansativo, pouco feliz e aborrecido. Como podia ser de outra maneira, se a maioria das pessoas vivem "vidas de merda", tão longe dos seus sonhos e dos seus desejos? Imagino uma repartição pública às cinco da tarde, coada pelo néon e cheia de papéis, já quase de noite, com trinta pessoas aborrecidas até ao limite a pensarem só na hora de irem para casa, sabendo, as mulheres mais do que os homens, que vão trocar uma repartição por outra. Sabendo que, antes de chegarem a casa, têm um longo caminho de transportes públicos, maus, lentos, sujos, nalguns casos perigosos, ou uma fila de carros que não anda e uma rádio que repete ao infinito as mesmas notícias. Imagino uma escola em que uma professora de meia idade entra na aula e olha para trinta bárbaros vestidos de igual, dizendo grosserias e obscenidades, entre telemóveis ainda vivos e fios dos MP3, entre roupa "de marca" comprada na feira do Relógio e cabelos em bico com gel, os rapazes a pensarem no wrestling e no skate e as raparigas vestidas para matar a pensarem nas fotos que vão colocar em trajes menores no Hi5. Que olhar pode ter a professora, já com várias aulas em cima, para uma audiência desatenta que a última coisa que quer saber é o que é uma raiz quadrada ou um soneto, numa sala húmida e pouco iluminada, perdida num subúrbio policiado? Imagino o que seja o desespero das contas feitas ao fim da tarde do velho comerciante na Baixa, numa loja perdida numa rua secundária, que vive do seu trabalho e de um seu "empregado", com meia dúzia de artigos comprados já nos supermercados e centros comerciais, que revende aos vizinhos que "há muitos anos" lhe compram umas coisas, mas cada vez menos. Ele olha para as cartas das Finanças que de repente começam a chegar em Novembro, com a urgência do fisco em arrancar todos os centavos em dívida, a pedir mais dinheiro, todas a ameaçar de penhoras e confiscos, e não sabe o que fazer. Não chega, o "negócio" não chega e oculta da sua velha esposa a situação da "loja" que vai ter que fechar, o cataclismo da sua vida, o atestado da sua inutilidade. Imagino o que seja chegar às seis ou sete da manhã às obras numa carrinha que andou a recolher trabalhadores nas esquinas ou nos postos da gasolina, casacos grossos contra o frio, entre um ucraniano sorumbático e violento, meio a dormir, e outro trabalhador com gripe que mesmo assim tem que vir trabalhar, esperando um dia miserável às ordens de um capataz, de um subempreiteiro de outro subempreiteiro, para, ao fim da tarde, após discussões sobre o pagamento a que falta sempre qualquer coisa combinada, se ir para o café beber cerveja e ver futebol e chegar-se a casa embrutecido e rude.
Ao crepúsculo tudo se ensimesma, à chuva tudo se complica, milhões de pessoas perderam a esperança de viver melhor, têm medo de viver pior, e acantonam-se sobre si próprias. Olhem com atenção para o friso de faces num autocarro, com as janelas embaciadas, e procurem um traço sequer de felicidade. Nem Diógenes com um holofote da II Guerra Mundial seria capaz de encontrar um sorriso.
Por sobre tudo isto há um murmúrio de vozes a que ninguém liga quase nada. São as vozes dos jornais, da política, as nossas vozes, que contam muito menos do que imaginamos. São pouco mais do que um murmúrio, visto de baixo como alheio e hostil - no fundo somos "nós" que governamos - e visto de cima como decisivo e importante. Vale muito pouco para a vida comum da maioria das pessoas e valerá muito menos se se afundar em irrelevâncias, se engolir tudo o que o Governo quer que engula, se se tornar numa patrulha política do pensamento - será que fui racista ao falar do ucraniano? Será que posso descrever os "jovens" assim? Será que estou a favor da evasão fiscal das pequenas e médias empresas? Será que tenho que fazer a rábula da "esperança"? Há de facto muito pouca paciência para estas patrulhas do pensamento que proliferam em tempos de crise.
Vale a pena? A resposta podia ser a pessoana do lugar-comum, mas mesmo assim vale. Em tempos de crise, mais do que nunca é preciso não desistir de olhar as coisas com um olhar crítico, até porque proliferam nesta altura as piores das "soluções", os piores dos aproveitamentos, e cresce a mediocridade. E nós estamos a ser governados tão mediocremente que todo o pessimismo é pouco. Os tempos estão difíceis, mas os que nos vêm outra vez com o Marx deles, e com o Estado e com o "diálogo", estão-nos a vender produtos tão tóxicos como o subprime. Parece uma Alemanha de Weimar cansada e ainda mais triste."

segunda-feira, novembro 24, 2008

sábado, novembro 22, 2008

200 disparates, tão pouco tempo

Esta serve para comemorar a "postagem" nº 200, relativamente tão pouco tempo depois da 100. Não que sirva de conforto como opinion maker ou jornalismo /ficção de referência, mas quer dizer que as coisas estão a sair. Cá para fora. O que é diferente.
Hoje, Lumiar calmo e solarengo, ontem filas para abandonar Lisboa até às tantas. Tive a infeliz ideia de ir ao Blockbuster. Estava CHEIO, abarrotando de pessoas a barricarem-se de dvds para o fim de semana em casa. E do simulacro riem-se.
Só eu é que fiquei piurça e aquilo nem me afecta pessoalmente? Só a mim é que a ideia faz urticária na alma? Pelos vistos....
Tem que se admitir, são espertos, os do Allgarve - dêem cabo da metrópole mas não nos espatifem os ingleses, ainda se encontrava a Maddie debaixo do cimento e tal. Não, uma nova tag line, depois de "Alcochete jamé", inunda-se Alenquer, mostra-se que a própria margem sul corre o risco de submergir e surge "Benavente, a tremer desde 1909". E mais uns mata-moscas todo o fim de semana em Lisboa. É que não é sério, não é preciso, não é utilitário, e o vulgar cidadão de Lineu continua a saber, em caso de sismo, o melhor mesmo é rezar.
Estamos todos assim. Tão. Parvos?

quinta-feira, novembro 20, 2008

Sôtour António Costa, lá que o exmo sr viva em Sintra, não estou a perceber a piada


Por exemplo, propunha mandar o Cascaishopping pelos ares, mais o Guincho a Praia das Maçãs e os Carrilhões de Mafra, entre outros monumentos nacionais da sua área, como a Lili Caneças, o IC 19 ou a Quinta da Marinha. É lógico e justo, e aumentar isto para o Allgarve, então o outro sismo não teve o epicentro a sul do cabo de São Vicente, cámone.

Vamos gozar um bocadinho com o Marquês?

A meu ver, o sismo não devia acontecer a 21 de Novembro mas obviamente no dia de todos os santos, á hora da missa. Não calha ao domingo? Chatice. Sôtour António Costa, escolheu o melhor FDS de 2008, os "serventes" alfacinhas recebem o 14º mês e atira-lhes na 6ªf às 17.30h com um sismo em 3 tempos? 6ª, sábado, domingo, Sheraton, Colombo, Telheiras. A concepção é tacanha, ridícula e ensimesmada. Não é só o INEM, a protecção civil tá louca, encerra-se uma cidade pª um exercício "aos bocadinhos"? Os terramotos/maremotos "atacam" aos bocadinhos? O Colombo e não a Colecção Berardo de todos nós. Tenho a impressão que o Marquês vai fugir da estátua com o seu felino...
Segue ipsis verbis o que está escrito no site do SOL ás 15h do dia do senhor 25 de Novembro de 2008, um dia antes da calamidade.
"
A Protecção Civil vai testar durante três dias a resposta das autoridades a um possível terramoto em Lisboa. Para este exercício, serão evacuados diversos edifícios – como o Centro Comercial Colombo -, assim como o Metro de Telheiras e outras empresas e universidades.
As principais vias cortadas serão o Túnel de Entrecampos, a Avenida de Ceuta, a Rua do Ouro, a Rua da Prata, a Praça da Figueira, a Rua da Junqueira, o Túnel do Marquês e muitas outras artérias.
Nesta sexta-feira, pelas 17h30 dá-se o ‘sismo’. Passados cinco minutos, as autoridades terão de lidar com falhas nas comunicações móveis e terrestres. Às 17h45 serão evacuados vários edifícios, tais como o Hotel Sheraton e a Faculdade de Ciências.
Já perto das 18h00 serão repostas as comunicações de emergência. Por esta altura, vai dar-se um acidente com derrame de matérias perigosas na Praça de Touros do Campo Pequeno, do qual resultarão quatro mortos e 50 feridos.
Às 18h45 será simulado um incêndio na Faculdade de Agronomia e às 19h00 um aluimento de terras na encosta adjacente do Cemitério dos Prazeres.
No sábado, o exercício arranca com a evacuação do Colombo pelas 9h05. Há ainda o colapso de vários edifícios da zona oriental ribeirinha e a queda de uma viatura ao Rio Tejo, no Cais das Colunas.
A simulação continua à tarde com um incêndio num posto de combustível em Alfama, na Rua da Alfândega. Pelas 15h30 ‘vai cair’ um viaduto em Alcântara-Mar. O exercício termina com o risco de derrocada de uma ala de hospital na Faculdade de Ciências.
No domingo, o dia começa com uma fuga de gás com incêndio na Torre da Galp, no Parque das Nações, e com a ruptura de uma conduta de água e consequente inundação no Campo de Santa Clara.
Pelas 10h00, o metro de Telheiras será evacuado devido ao descarrilamento de uma composição entre as estações de Telheiras e Campo Grande.
Este exercício será também realizado em Santarém e Setúbal.
andreia.coelho@sol.pt"

quarta-feira, novembro 19, 2008

2 planetas na cidade




Ainda antes do colega Pacheco Pereira espreitar o céu, ou os observatórios da NASA, aí estão, quais luzes de Natal, quais quê! Marte e parece-me Vénus na nossa elíptica láctea, no meio da cidade. Fotografias se seguirão do evento...
... e aqui se vêem juntar. Acima Marte, mais baixo, menos brilhante e mais amarelada, Vénus

(27/11/08) E após pouco aturado estudo de binocular amadora astronómica, confirma-se. Marte ao alto, Vénus mais baixa, mas a "estrela" mais brilhante da tarde e da alvorada. Pena é estar frio, pena é ser noite escura.
(6/12/08) Não muito aturado estudo no hemisfério Norte...Vénus E Júpiter. Mais a 6/12. Obrigado OAL.

Paciência...?

Paciência / Mafalda Veiga & João Pedro Pais @ You Tube



Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não pára
Enquando o tempo acelera e pede pressa
Eu recuso faço hora ponho a valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo o mundo espera a cura do mal
E a loucura finje que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é tempo que lhe falta para perceber
Será que temos esse tempo p'ra perder
E quem quer saber

A vida é tão rara, tão rara
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, eu sei
A vida não pára
A vida não pára não

Será que é tempo o que me falta para perceber
Será que temos esse tempo p'ra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, eu sei
A vida não pára
A vida não pára não

quinta-feira, novembro 13, 2008

A Vida como Windows Vista (marca registada)




Estou a falar por mim, mas eu tenho esta sensação, e penso que qualquer pessoa que tenha nascido depois dos anos 50 teve essa mesma sensação quando pequeno/a.
Nasci quando já havia antibióticos, até sem ser só a penicilina (!), vacinas em plano nacional e se conseguiu pela primeira vez erradicar uma doença - a varíola (menos em certos laboratórios etc etc) a nível mundial. A tuberculose tinha cura. A UNICEF fazia figura. 1979 foi o Ano Internacional da Criança. As pessoas começavam a preocupar-se com coisas que valiam a pena, como erradicar a malária, a mortalidade infantil caiu décadas a fio por boas práticas hospitalares e pediátricas. Houve mudanças. Tendencialmente, havia saúde e educação para todos.
O mundo subia para cima, para baixo, para os lados, todos se chegavam uns aos outros, todos chegavam aos arranha céus do mundo rico, tínhamos aviões comerciais mais rápidos que a velocidade do som, tínhamos chegado à Lua, tínhamos conquistado o direito ao voto para as mulheres (Hillary) e para as pessoas de cor (Obama).
No meu 1984 - curioso, ao menos vivi no título de um livro, já que falhei o sputink, o Evereste, a baía dos porcos, the eagle has landed e o 1º voo supersónico, p ex - não me fazia confusão não haver leitores de mp3, walkmans, discmans. Não ía andar de LP e gira-discos ao peito, pois não? Não pensei uma única vez em telefones portáteis que não fossem calhamaços instalados em carros, ou em walkie-talkies, que tinham mais piada. ~
Nunca me passou pela cabeça alimentar Tamagochis virtuais com peneiras, nem passar a vida grudada a um écran a jogar uma coisa que nesse tempo se chamava Nintendo, tinha 2 pilhas estilo relógio e tinha uns movimentos algo limitados (atenção -havia uns de dois andares - os meus ainda funcionam!). Os vídeos beta ainda não tinham sido derrotados pelos VHS e a palavra digitalizar soava a estranho.
No advento da Informática (graaaaaande Zx Spectrum, busca Bobby, busca), por fases, e pelos meus próprios meios, aprendi linguagem BASIC, PASCAL, MS DOS e depois o tio Bill achou que não valia a pena um mundo tão fechado e descolorido sem janelas, e de aprendiz passei a utilizadora das enésimas versões do Windows. Não sei programar, só utilizar.
Mas sei isto. Em 1984 já havia modems, só que eram telefones modificados. Já tinham inventado o filme War Games - Jogos de Guerra. O homo sapiens sapiens nicles é só peneiras. Esta mania que a inteligência artificial nos há-de ultrapassar... Enquanto for posta "ao serviço do utilizador" ou seja, a dar pilim à Microsoft, nunca vai mudar nada, como nós. Habituámo-nos.
Quando precisamos de alguma coisa, o computador, a internet, o cartão multibanco... Em 1984 estavam a funcionar - talvez- os primeiros ATMs em Portugal, não sei... Agora os multimédia, a informação em tempo real. (O tanas - é aquela coisa chamada anglo-saxonicamente delay, que faz com que os comentadores em sítios distantes a falarem em directo possam ser ouvidos repetidamente se não cortarem o som)
Tudo o que estamos a ver AGORA já aconteceu. Há 30 segundos, há menos, mas já aconteceu. Ao menos as estrelas não mentem. Anos luz são anos luz e no livro Contacto de Carl Sagan, estavam precisamente a responder às nossas primeiras imagens enviadas para o éter, um homenzinho detestável de bigode nos Jogos Olímpicos de 1936. Tétrico.
Os computadores evoluíram, evoluíram tanto e miniaturizaram-se. Nos anos 40 ocupavam edifícios inteiros. Depois descobriram que não precisavam de transístores nem de fitas magnéticas e veio o silício.
Mas o processador de um computador tem um vício que a mente humana não tem. Trabalha em série e não em paralelo, só que muito depressa. Cada vez mais depressa. Por isso é necessário inventar sistemas operativos que disfarcem essa pressa, essa potencialidade toda. O Vista faz coisas que não só não imaginamos, como nunca vamos precisar até ao fim dos tempos (e sinceramente, não tenho interesse nenhum em saber o que são nem para que servem, é como se fossem centenas de GPS que eu gostaria de libertar da memória do computador). Está sempre a pedir-nos licença para fazer tudo. É isto ser inteligente?
A curiosidade nisto tudo é que se abandonou a arte, a vida imita o Windows, o Windows imita a vida. Somos processadores. De imagem, de texto de ideias, de bases de dados, de folhas de cálculos, de bibliotecas mp3 ou mp4 ou de surfistas do myspace. Substituímos os neurónios pelo chip alheio. Os neurónios ficaram vazios de funções mas não se recandidataram, deixá-los, dá muito trabalho, já imaginaram se tivéssemos realmente tempo para pensar nas coisas importantes...
Como como o mundo mudou desde 1984, não necessariamente para melhor ou pior, mas para mais estranho, decerto. E sobretudo o que acontece quando uma coisa falha. O Vista já não responde bem ao control-Alt-delete. Bloqueia. Desesperamos. Acabamos por fazer aquilo que provoca enfartes aos informáticos. Desligamos directamente o sistema da fonte de alimentação. Segundo consta, vai criando erros irreversíveis no sistema. Há alguns anos, os computadores tinham um botão de reboot, para além de outros terem atrás um on/off de segurança para além do principal. Hoje não têm. Deitam-se fora e as impressoras gastam rios de petróleo.
Nós gastamos rios de petróleo e deitamos fora tudo aquilo que nos parece incoerente, ridículo, velho, estúpido, ultrapassado, déja vu, e também, às vezes, que já não funciona. Mas deitamos fora para onde? Não interessa, para um sítio ecológico qualquer que financie os produtores de petróleo, aquela coisa que segundo as previsões de 1984 devia acabar entre 2010 e 2030. Tenham muito medo. Não há plano de contingência na crise, na política, na economia, no capitalismo, na saúde e na doença, na tristeza e na alegria. Simplesmente não há. É como o tio Bill, deixar andar.

Lua de Novembro



Este ano as luas estão umas invejosas; já ontem estava linda - começou linda 'inda era só um círculo do "D".
Hoje, vi-a ainda com aquela cor do nascer, ás 5 da tarde, toda reflexo de sol, ainda não candeeiro chinês. Agora segue para o alto da claridade.

domingo, novembro 09, 2008

e depois the scientist

Come up to meet you,
Tell you I'm sorry,
You don't know how lovely you are.

I had to find you,
Tell you I need you,
Tell you I set you apart.

Tell me your secrets,
And ask me your questions,
Oh let's go back to the start.

Runnin' in circles,
Comin' up tails,
Heads on the science apart.

Nobody said it was easy,
It's such a shame for us to part.
Nobody said it was easy,
No one ever said it would be this hard.
Oh take me back to the start.

I was just guessin',
At numbers and figures,
Pullin' the puzzles apart.

Questions of science,
Science and progress,
Do not speak as loud as my heart.

Tell me you love me,
Come back and haunt me,
Oh on I rush to the start.

Runnin' in circles,
Chasin' our tails,
Comin' back as we are.

Nobody said it was easy,
Oh it's such a shame for us to part.
Nobody said it was easy,
No one ever said it would be so hard.
I'm goin' back to the start.

Ahhooooooooooooooooo
Ahhooooooooooooooooo
Ahhooooooooooooooooo
Ahhooooooooooooooooo

desta vez vou fazer umas coisas ligeiramente

ao contrário/ The Scientist.
Envelhece bem.

sexta-feira, novembro 07, 2008

é só um sinal ortográfico

Há um ponto de interrogação novo no fim do subtítulo do livrodepoemas, Acho que se justifica.

SIM, NÓS PODEMOS (marca registada)...mas será que queremos?

Umas das lições que Andy Dufresne (Tim Robbins) deu a todos na prisão de Shawshank foi a de que enquanto tivermos a ideia, a esperança de liberdade, de música, de Mozart, do que quer que seja que nos ilumine, na cabeça e no coração, essa música, essa ideia, essa esperança não morre nunca.
Será verdade, neste nosso mundo, real como Red (Morgan Freeman), que a esperança é uma falácia porque quem espera morre do sonho em que se meteu? Não haverá nada?
É mais simples viver de costas para a parede e ignorar a possibilidade de que realmente, se quisermos, podemos? Inclusive deixarmos de ser poeira e passarmos a ser pegada -one small step for mankind, one great step for men? E deixarmos tantas pegadas que seja impossível não as ver, ou este mundo que nunca foi nosso, nem por empréstimo, vai continuar cinzento, sozinho, orgulhoso, autista, fechado e calado?
A minha dualidade não me convence:  apesar do filme acabar bem, é um filme, uma improbabilidade. As nossas vidas são improbabilidades. Morreremos sem sonhar ou por causa de termos sonhado? Nós podemos, mas será que queremos? Tentar?

c'mon piple

Este é o meu filme preferido, se não tivesse uma pilha deles atrás a morderem-me os calcanhares.
O livrodepoemas mudou, de forma. É mais à minha maneira, não sei se ficará mais profundo ou acintoso, sonhador ou diversificado. Sou uma navegadora de bolina mas que aprendeu sozinha e yô sabe nadar como um prego (mais ou menos).
As novas preciosidades do blogger, vou-as descobrindo toooodos os dias. Ainda não me dediquei profundamente aos erros de português, uma vez que o meu abc não funcionava e agora deu para corrigir tudo para inglês... Nice. Não se pode ter tudo, mas pode sonhar-se com isso uma vida inteira.
& that's that.
Uma grande cena de Os Condenados de Shawshank para a rentrée. Nada melhor para depois explicar a minha fixação por música, literatura e cinema. Tim Robbins e Mozart



Sugestão: modo expandido, luz apagada, som bem alto...
What dreams may come...

quarta-feira, novembro 05, 2008

mudança de imagem


em teste

(mas fica sempre bem em dia de eleições)

terça-feira, novembro 04, 2008

Coisa Ruim (3) e espero que última


Resumindo uma longa saga, várias vezes durante o tempo de faculdade (algumas até quase por pedido da minha Mãe, "afinal ele é teu pai"), tentei as tais aproximações. Para ele tinham sempre água no bico e fazia questão de acentuar com cobras e lagartos os maus caracteres que sempre foram a minha Mãe e Avó, apesar de eu frisar que não queria estar no meio de uma guerra nem ser mensageira.
Ao longo dos tempos, teve sempre citações felizes. A primeira, que eu ouvi quando tinha 5 anos (peri-divórcio) era de que eu não devia ter nascido. Passou o restante tempo de antena que algumas vezes lhe dava a dizer que estava fora do contexto.
Fora do contexto como? Não estava a haver uma discussão quando entrei no escritório, ele olha para mim e diz isto. Pá... eu tinha 5 anos... Era. Melhor. Não ter. Nascido. Porque os meus pais claramente já não se amavam quando me conceberam. Dava psicanálise para a vida inteira. Dá psicanálise para a vida inteira. Dá para sentir aquele bocado de coração que diz Pai cheio de coraçõezinhos a mirrar ou a entrar em arritmia. Dá para sentir raiva devagarinho até ser muita.
Outra citação feliz foi de que os filhos são um investimento. Perante o que já foi dito, não tenho nada a acrescentar.
E penso que para finalizar a trilogia foi ele que inspirou no meu subconsciente a ideia de que se o Tomás (o meu irmão mais velho, que nasceu morto com uma circular de cordão) tivesse vivido, não teria havido Patrícia. É estranho, porque desde que realmente "concretizei" a figura do Tomás (coitado, como o Almirante Américo, e eu era a Gertrudes -modelos ancient régime...) na adolescência, como alguém que apesar de não ter nascido / vivido (muito menos comigo, que nasci ano e tal depois), ele existe algures e por vezes "penso" com ele, e nunca o senti como "inimigo" ou competidor.
Ele sempre quis ter um filho, sublinhando o O. Devem ser coisas de macho com defeito. As circulares de cordão e os abortos no fim do tempo são frequentes na família dele. Numa perspectiva puramente darwiniana, deve querer significar que o pool genético dele é tão fraquinho que a natureza o queria impedir de deixar descendência (eu também tinha circular de cordão...). Esta foi má. Como ele.
Últimos tempos. A função pública dispensa-me. Ele, assim espontaneamente (afinal com grande empurrão materno) oferece-se para me ajudar com 1000 euros por mês até arranjar emprego. Como ele não fazia a mínima ideia do que é que eu era (em termos médicos), foi atirando por carta porque é que eu não fazia uma especialização no estrangeiro, um mestrado, uma treta qualquer.
Desde a última vez que pus os pontos finais na conversa, há oito anos e tal, nunca mais lhe dirigi a palavra. Fui fazendo a tal parede. Pelo menos para dentro, para mim é uma verdadeira lástima, é tal e qual o muro das lamentações. De fora ele não vê, mas lança granadas, para mim, para ferir a minha mãe. Porque o facto é que para ele eu sou uma coisa chata no meio do caminho que sempre foi aproveitada para fazer mal por procuração. Ele prefere fazer a mim o mal, porque percebeu que isso atingia muito mais a minha Mãe do que algum mal que lhe pudesse fazer a ela. Apetecia-me dizer agora, mas que besta de homem é este?
Portanto, o tempo passou e o emprego não apareceu de mão beijada. Os 1000€ devem fazer-lhe uma falta tremenda, uma vez que já não tem dependentes para tratar. Depois deu-lhe uma coisinha má e teve que fazer um bypass (certamente porque eu não arranjava emprego, a arteriosclerose cerebral deslocou-se toda para o coração). As cartas mensais e sms à minha Mãe continuaram cada vez mais idiotas e contundentes. Eu não falo, só choro quando vejo a última idiotice anexada ao cheque que vem pelo correio.
Sou uma vendida, ele comprou o meu silêncio. A minha vontade era de gritar, de o esganar, sei lá o quê. Desta ultima vez quase não houve 1000€. Veio só carta a dizer que eu não lhe falava porque tinha um orgulho besta e que a minha obrigação como filha era tomar conta da saúde dos meus pais (logo arranjar um emprego e não viver às custas deles, ó tosca), arranjando uma história arrepanhada de como se importava com a saúde da minha Mãe que não tomava medicamentos por minha causa.
Não tivessem havido já gotas de água suficientes para transbordar o copo. A vontade de ser mesmo violenta em palavras actos e omissões. A vontade de. Chorar. Preciso do dinheiro porque não dei consultas. Quando dou consultas, é a soma dos dois que equivale ao que um médico especialista deveria ganhar de ordenado base, portanto, que sobe a bitola dos indispensáveis para algumas coisas que gosto. Sou. Uma. Vendida.
Tenho que cauterizar o coração que diz pai, não bate junto com o resto, agora é tudo por cateterização e laser. Essas fibras têm que morrer antes que a arritmia passe a fibrilhação e seja o resto do coração e de mim a serem desfibrilhados por causa de um homem que me insulta sem saber sequer quem sou.

489. The Tiger



TIGER, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?

And what shoulder and what art
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand and what dread feet?

What the hammer? What the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears,
And water'd heaven with their tears,
Did He smile His work to see?
Did He who made the lamb make thee?


Tiger, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?

William Blake. 1757–1827
***
Ontem fui abraçada por um tigre, e abracei um tigre, prova de que os tigres se podem abraçar sem o mundo tremer e com as garras recolhidas. Uma das pessoas mais bonitas que conheço (e nem era preciso dizer 'bonito' no sentido de pessoa), já vai para tantos anos. "Grandes felinos" podem trazer energia positiva para os outros, mas quem lha dá a eles?
Só somos fortes quando podemos, não quando queremos.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Muda de Vida (2) - 31/10/2008, a outra noite


Este ano tive em termos musicais várias agradáveis surpresas. Sendo mais correcta, o meu ouvido começou a tornar-se mais curioso no ano passado depois de ter ouvido o Mário Laginha e o Bernardo Sassetti numa ménage à deux no CCB tocando "Grândolas", variações sobre temas de Zeca Afonso. E o meu coração abriu-se para o jazz (dito"moderno") português e não só.
Sim, porque para o Zeca nunca esteve fechado, é como se fosse daquelas pessoas património cultural que nasce com a gente.
No princípio deste ano o Jorge Palma deu um concerto no CCB. Confesso que só daquelas pessoas que o apanhou de fugida no "Deixa-me rir", "Frágil" e "Bairro do Amor", é claro e depois no super êxito agora encostado ao BCP (shame on you, Jorge).
Com timbres completamente diversos, conhecendo eu relativamente pouco dos respectivos reportórios, sempre achei que o Palma tinha um timbre mais bonito, uma voz particular (especialmente quando sóbrio), mas que ambos cantavam canções com mais letra que música.
Já não acho tanto isso do Jorge Palma, ele habituou-se a meter as sílabas todas lá dentro com mel (como os Toranja), assim como também saiu das cantigas alternativas directamente para a RFM e para concertos cheios de tios e tias, primos e primas que passaram a ser a sua falange de apoio, entre outros fãs mais antigos que se sentiram invadidos pela VIP.
O José Mário Branco sempre foi radicalmente do contra, pelo menos é essa a ideia que eu tenho. Não obsta, tem uma formação musical fascinante (os dois, o Tio Jorge e o Tio Zé, afirmam que vão "beber" a inspiração a Brecht e Weil) e um dó de peito escondido naquele corpo extremamente franzino.
Bem, sexta feira foi um dia diferente "mudam-se os tempos mudam-se as vontades", "eu vim de longe" e uma colaboração estreita com o Zeca, Adriano, Janita, Vitorino, Fausto, Zé Barata Moura (ex-Magnífico Reitor da Clássica e do Fungagá da Bicharada)e mais alguns cujo nome agora não me recordo (ei, já não nasci no tempo do outro sr, nasci no tempo dos PRECs de 30 em 30 anos).
Ah, mas foi muito melhor, era ele, mais a "falange" do piano/acordeão, percussão contrabaixo e sopros, a "falange" do quarteto de cordas (a nossa "Jota", como ele lhe chamou), e a "falange" excepcional dos Gaiteiros de Lisboa (muito melhores do que em disco), na formação dos quais ele também participou. Pelos vistos o ZMB participou em muita coisa. Eles têm umas vozes, uma percussão, e já agora, umas gaitas (e outras coisas estranhas também) excepcionais.
Cantou coisas antigas e modernas, com uma roupagem clássica e tradicional muito bem conseguida e chegou á conclusão (realmente difícil) que as canções que valiam há 30 anos valem o mesmo agora, e em 3 tempos "Muda de Vida", porque este mundo está todo ao contrário (etc, acaba sempre por acertar nas razões com algum humor), "é preciso mudar o pensamento". É como acaba. Finalmente sugerem alguma coisa os ditos "intelectuais de esquerda", mudar o pensamento, aí está um começo.
O ministro da Cultura estava lá e não foi enforcado, embora fosse das 3 únicas pessoas com gravata. Parece que as pessoas fizeram de propósito para ir mal vestidas (não serem reconhecidas ou fingirem que são mesmo assim?).
Não sendo apologista da canção com finalidade política pura (e religiosa ainda menos cruz credo!), achei que o ZMB pode ter cor, mas antes de mais é músico, é poeta e tem esperança. E tudo isso lhe chega.
PS: Depois do concerto fui-me meter virtualmente nos cds - népias, népias népias.You tube grandes porcarias...hmmmm lápis azul ou falta de fundos? Gaiteiros idem.
Deixo um link para o post abaixo (Noite, de ZMB, que não se pode trazer para aqui #$%%&%$#) e uma canção de Natal Alentejana que os Gaiteiros cantaram, que está toda a preto. Toca a descobri-los.

A Noite:  http://br.youtube.com/watch?v=qqTlE2sejO

Muda de Vida (1) - A Noite

"Com que passo tremente se caminha
Em busca dos destinos encobertos!
Como se estão volvendo olhos incertos!
Como esta geração marcha sozinha!
Fechado, em volta, o céu! o mar, escuro!
A noite, longa! o dia, duvidoso!
Vai o giro dos céus bem vagaroso...
Vem longe ainda a praia do futuro...
b)Em tudo que já fomos está o que seremos
No fundo desta noite tocam-se os extremos
E se soubermos ver nos sonhos o processo
Os passos para trás não são um retrocesso
A noite é um sinal de tudo quanto fomos
Dos medos, dos mistérios, das fadas e dos gnomos
Da ignorância pura e da ciência irmã
Em que, sendo passado, já somos amanhã
A noite é o espaço vago, o tempo sem história
Em que as perguntas nascem dentro da memória
Em tudo que já fomos está o que seremos
Mas cabe perguntar: Foi isto que quisemos?
Em tudo que já fomos está o que deixamos
No ventre das marés, nos portos que tocamos
O rumo desvendado, o preço da bagagem
É tudo quanto resta para seguir viagem
A noite é parideira da contradição
Que existe em cada sim que nos parece não
Olhando para nós, os grandes dissidentes
No meio da luta entre lemes e correntes
Será esta viagem feita pelo vento
Será feita por nós, amor e pensamento
O sonho é sempre sonho se nos enganamos
Mas cabe perguntar: Como é que aqui chegamos?
a)Vem longe ainda a praia do futuro...
É a luta sem glória! é ser vencido
Por uma oculta, súbita fraqueza!
Um desalento, uma íntima tristeza
Que à morte leva... sem se ter vivido!
A estrada da vida anda alastrada
De folhas secas e mirradas flores...
Eu não vejo que os céus sejam maiores,
Mas a alma... essa é que eu vejo mais minguada!
b)Em tudo que já fomos estão os nossos mortos
E os vivos que ficaram entram nos seus corpos
Na noite do amor, na noite do sinal
Naufrágio de fantasmas na pia baptismal
A noite é o impreciso e escuro purgatório
Que alinha as nossas almas no seu dormitório
A culpa dos heróis é serem sempre poucos
Acaso somos mais? ou tão-somente loucos?
Temos que descasar a culpa e o prazer
Naquilo que fizemos ou deixamos de fazer
Para reconstruir os corações cativos
Mas cabe perguntar:
c) Mama, meu menino, o leite é como um rio
b)Acaso estamos vivos?
a) Eu não vejo que os céus sejam maiores!
Irmãos! Irmãos! amemo-nos! é a hora...
É de noite que os tristes se procuram,
E paz e união entre si juram...
Irmãos! Irmãos! amemo-nos agora!
Vós que ledes na noite... vós, profetas...
Que sois os loucos... porque andais na frente...
Que sabeis o segredo da fremente
Palavra que dá fé - ó vós, poetas!
b)Em tudo que já fomos há um sonho antigo
Conversa universal de cada um consigo
São sombras e brinquedos, tudo misturado
E o vago sentimento de nascer culpado
c)Mama, meu menino, o leite é como um rio
b)Será um sonho absurdo este olhar para dentro
E o nosso destino, só, servir de exemplo
Andamos a fugir à frente desta vida
Mas cabe perguntar: Existe uma saída?
a)Irmãos! Irmãos! amemo-nos agora!
É de noite que os tristes se procuram!
Sim! que é preciso caminhar avante!
Andar! passar por cima dos soluços!
Como quem numa mina vai de bruços,
Olhar apenas uma luz distante!
Irmãos! Irmãos! amemo-nos agora!
É de noite que os tristes se procuram!
Heis-de então ver, ao descerrar do escuro,
Bem como o cumprimento de um agouro,
Abrir-se, como grandes portas de ouro,
As imensas auroras do futuro!
c)Mama, meu menino, o leite é como um rio
Que nunca pára de correr
O leite branco
É o remédio santo
Com que tu vais crescer
Entre as duas margens quentes e fecundas
Mama, meu menino, sem parar
Rio sem fundo
Que corre devagar
Mama o leite, meu passarinho,
Mata a sede sem temor
Este rio é o teu caminho
O cordão do meu amor
Mama, meu menino, mais um poucochinho
Que eu páro o tempo só p'ra ti
Seiva de vida
Com que fui enchida
Quando te concebi
Um pequeno esforço, mete-te ao caminho
Duas colinas mais além
Asas de estrume
P'ra te dar o lume
Oh meu supremo bem
Mama o leite, meu passarinho,
Mata a sede sem temor
Este rio é o teu caminho
O cordão do meu amor)
Irmãos! Irmãos! amemo-nos agora!"
José Mário Branco

domingo, novembro 02, 2008

Sibéria


Até parece que ando com grande poder implicativo contra as nossas gloriosas EPs que nos tomam conta da casa... ou era suposto. Estes caramelos, estando anexados a essa grande empresa petrolífera que enriquece tugas todos os dias é suposto trazerem em segurança o gás natural até às nossas casas (nossas, do banco, do governo, do hedge fund, da Islândia, de Jesus Cristo que não percebia nada de finanças...). Pois.
Aí há uns anos decidiram com a coisa dos pipelines, mudar o gás de cidade para gás natural. E mudaram. Para o prédio não explodir, na altura, fizeram alterações nos contadores, puseram válvulas novas, mudaram fogões que não eram compatíveis. E o gás gaseou.
Bastantes anos depois (não me lembro se antes ou depois do prédio de Setúbal ter ficado com uma nova penthouse), a GDP, GDL agora Galp Energia lembrou-se de ver se as casas para onde tinha bombeado o gás tinham fugas... sei lá, para aí 10 anos depois ou coisa. Metade do prédio ficou com o gás cortado.
Este ano, depois de muitas tentativas para encontrarem o "montante" - não sei se foram lá ter com uma forquilha ou se levaram aqueles pobres canariozinhos amarelos das minas - descobriram!... o prédio inteiro tem fugas...a montante. Nestes últimos 10 anos conseguiu não explodir nem cheirar a gás. Já aconteceram outros disparates, mas esse não.
Este prédio tem pelas minhas contas 25 anos, e não é um prédio, são 3 - é um lote todo junto com comunicação interior em todos os andares. Por alto, 72 inquilinos. Sem gás há uma semana. Não tenho fogão eléctrico. Tenho micro-ondas pequenino e chaleira eléctrica. Onde quero chegar é que o fim de semana não foi frio, foi gelado. E na Sibéria as pessoas também se lavavam quando não havia água quente... como, meu Deus, como?
Duche de água gelada? Era incapaz. Hoje lavei a cabeça com muita calma. Enchi um bocado o lavatório com água semi-quente au micro-ondas e meti a cabeça lá dentro. Os meus neurónios ainda estão a hibernar. Acabei por decidir que shampôo x2, amaciador e máscara só mesmo atordoada, água fria, vinde a mim! As revistas de moda & cabelo não estão sempre a dizer que o amaciador/máscara é para tirar com água fria. Experimentem quando souberem que nas Penhas Douradas vai estar -1ºC. Ainda se estivessem 40º á sombra...
É uma experiência que nunca vou esquecer e quero agradecer pessoalmente à Galp Energia por tanta energia térmica e tão pouca cinética (nos carros), sem esquecer, é claro, o perturbadíssimo Administrador do Condomínio nº 26-28-30 que, de certeza, benzó Deus, tem gás em casa.
PS:Ah, é verdade, enquanto andaram a arranjar o estaminé, o incolor inodoro etc gás cheirava em todo o lado, janelas abertas, clima ártico.
Como compensação deviam oferecer viagens aos trópicos, quando os condónimos descongelarem, lá mais para a Primavera.
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