Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



quinta-feira, fevereiro 26, 2009

não temos a mais pequena ideia do que fazemos



(a propósito de uma coisa chamada Limbo que só cessou existência por decreto papal em 2007 e outras coisas de igual alheação que ocorrem todos os dias alegadamente por causa da conjuntura )

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Muito tempo andei eu a matutar, e como dizem os amigos anglo-saxónicos, a procrastinar. Curioso, é das poucas palavras em que eles se esmeraram na dificuldade. Procrastinar é adiar. Porque cada dia me submergem mais acontecimentos pura e simplesmente estranhos/ridículos/descabidos, ou serão antes comportamentos estranhos/ridículos/descabidos.


Numa altura em que o nosso Patriarca, em ruptura com a atitude do Vaticano já há vários Papados, decidiu dizer que é preciso ter cuidado com os muçulmanos. Que ele o pense, é uma coisa, que ele o diga à comunicação social que precisa sempre de um novo sound-byte, é um bocadinho diferente. Estava precisado dos 15 minutos de fama, como o cardeal britânico amnésico sobre o Holocausto?


É que eu aprendi sobre as atrocidades do século em que nasci ainda bem pequena, no "Era uma vez o homem". Anos 70? Já havia muita gente nascida depois da 2ª guerra acabar, inclusivé a minha Mãe. Enquanto se ocupava a nascer, os Japoneses restantes ocupavam-se da rendição incondicional. E ela não me ocultou informações nem fontes, embora não houvesse internet. É triste, não é, que na altura em que devíamos ter mais tento a aprender mais com os erros cometidos na nossa história recente, estejamos mais prontos que nunca a apagá-los da memória.


Pois eu sei, desde que me lembro, que antes de mim houve um Tomás (brincadeira com o presidente homónimo), ou por outras palavras, um primeiro bebé Luís (como eu fui), em Maio de 1973 (estrelinhas, touro & búfalo! estrelinhas, porque não quiseram?). O Tomás, agora convertido em Tommasino ou Tommaso (mais italiano e mafioso) não chegou a nascer, no sentido restrito em que quem nasce, nasce vivo. Foi um nado morto, porque tinha uma circular de cordão (como eu), que no caso dele foi fatal. Houve problemas com os médicos que nunca se resolveram, porque apesar de ele ter deixado de se mexer, não induziram nem logo, nem imediatamente o parto. Foi induzido electivamente, com uma espécie de anestesia inalada em voga na altura que deixou a minha Mãe fora de acção por várias horas. Como consequência, ela não conheceu o Tommasino. Soube que era bonito, perfeitinho, grande e bem nutrido, mas não a tempo.


Sempre vivi com um mano Tommaso numa estrela do céu. Apesar de não nos termos cruzado neste mundo, sempre achei que quando precisasse, ele lá estaria.


Variadíssimas dúvidas teológicas e zangas com Deus depois, ie, cerca de 30 anos, descobri mais uma idiosincrasia da Igreja que totalmente me repugnou. Atenção, as zangas com Deus são como as zangas com um amigo de quem se gosta muito, acabam sempre bem, agora as com a Igreja, são uma história diferente.


Tinha para mim que teria havido uma pequenita cerimoniazinha (católica) e enterro do pequenino. Acontece que os nados mortos não têm direito a ser cristãos. Não são baptizados. Não entram no majestoso reino dos céus...até 2007. Ou seja, o Tomás ficou no Limbo, sim , entidade de uso teológico, que não é o purgatório, mas uma coisa completamente abstrusa, entre 1973 e 2007, anno domini. Foi o actual Bento Prada que o salvou e salvaguardou a sua entrada no domínio do Senhor e das estrelas etc, abolindo o Limbo.


O Limbo é o "sítio" onde permaneciam os bebés que morriam antes de ser baptizados e as pessoas que tinham existido neste mundo antes de aparecerem os adoradores do Nosso Deus - marca registada - mas que tinham sido "boas pessoas", não tinham era credo. Parvoíce do tempo da Santa Inquisição ou antes, não sei, não me interessa. Não reconheço a qualquer Igreja terrena legitimidade para julgar como diferentes estas pessoas por não serem baptizadas. Reconheço sim a tacanhez e idiotice que levaram a que só em 2007, quase por decreto, o Limbo tenha sido extinto. Qualquer dia extingue-se metade da Divina Comédia, por decreto.


É ranhoso - é mesmo esta a palavra que quero utilizar-, que se possa pensar que um bebé não mereça a dita Paz Eterna; é legítimo afirmar que são eles os únicos que nunca fizeram mal a ninguém, nunca aprenderam a ver a ouvir, a falar, a respirar, o Tommaso não viu a cara da Mãe, embora ao menos a tivesse conhecido durante meses.


Creio que no sítio onde está ele nos conhece e não precisou desenvolver as faculdades biológicas que lhe faltaram, embora seja sempre um lindo bebé Luís, como eu.

(e aqui, apesar de muitas imprecações, a net desfez-se, levando com ela o resto do texto que o blog insistiu em não guardar)
Não obstando, ainda estou furiosa com as cripto-ambivalências da Igreja. Que vão passando suavemente como lixo burocrático. Trata-se daquilo em que é suposto acreditarmos acima de toda a prova. A Igreja dos homens não tem lugar no meu coração, pelo menos em grande parte. Porque pelo menos em grande parte não existe senão como hierarquia, sem perguntas e sem respostas. É preciso duvidar para ter Fé. Provavelmente, é preciso duvidar muito, mas chega-se lá. Não com a doutrina instituída, no entanto.
Estudei em Colégios Católicos, fui baptizada ía para os dois anos, fiz o Crisma muito tempo depois de mo "oferecerem", já quando estava no internato geral, em 2001. E depois veio logo a crise de todas as crises, as torres, as pessoas calcinadas, escolher uma especialidade quando se teve uma branca quase absoluta no exame. Fui ao fundo. Ninguém me estendeu uma mãozinha, é habitual (este ninguém exclui a única pessoa de sempre ela sabe que eu sei que ela sabe), onde estava a Igreja de Deus quando eu precisei? Ocupada, está sempre ocupada. Até é difícil marcar uma confissão, quanto mais.
E digo mais, considero-me, tanto quanto possível, Cristã e Católica praticante, em actos e palavras, porque praticar não é ir ouvir a missa de Domingo e apanhar uma estucha. É óbvio que depende do orador, o resto é sempre, tristemente, o mesmo. Devia ser um pitéu, quando eram dadas as missas em latim. Vou à Igreja quando quero, quando sinto necessidade, não necessariamente para assistir a uma eucaristia. Às vezes, a nossa conversa precisa de ser pessoal, mano a mano, sem rituais.
Faltam-me ainda as outras alarvidades que a falta de rede me comeu. O divórcio. Diz a Igreja dos Homens que os divorciados não podem voltar a comungar; diz a Igreja dos Homens que os divorciados não serão enterrados num terreno cristão nem com direito a celebração cristã. Porquê? Manifestamente também não pecaram. Irão para o Limbo? Não, que já não existe. Pecaram porque juraram que iam tentar ser felizes aos olhos de Deus etc e não foram? Bem, ao menos forma honestos em perceber que falharam, como a maioria de nós. Só que antigamente permanecia o status quo. Agora não.
A minha Mãe nunca se engasgou com nenhuma hóstia, nem lhe caiu um raio que a fulminasse numa missa. Porquê, oh irmãos em tudo iguais, filhos de Deus? Prefeririam antes, não digo uma estrela de David, que está muito démodé, mas um laço de uma cor que ainda não tenha sido usada para nenhuma doença. "Minha filha/Meu filho", deste pãozinho não levas. E para mostrar a outra face, a Igreja dos Homens arquitectou também a mais rocambolesca maneira de separar aquilo que Deus uniu, a anulação, tout cour (especializada em jet-set).
As alegações? Idiotices. Já me contaram de um senhor que anulou a ex-cara metade com filhos já crescidos e o Vaticano aceitou. Algum tempo depois, a anulada teve um choque frontal com uma árvore, mas deve ter ido direitinha e imaculada para o céu. Aceitar um divórcio é aceitar um erro das duas partes (o que muitas vezes é caso para longo contencioso- ora não devia ser aí que uma igreja humana deveria intervir, na não litigação, na resolução por comum acordo?), somos humanos, anular um casamento é proclamar ao mundo que nunca existiu nada, zero, niente. Em última análise não é pior que o litigioso? Não é a negação total e absoluta?
Infelizmente, para certos assuntos, parece que ainda é nessa negação que vive a Igreja.

the truth, the whole truth, and nothing but

(e o doido era ele?)

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Não estou aqui

Não, não, não. Só me sai a negativa. Estou em pulgas. Estaria furiosa se...
Não há smileys de trombas bem fundas? Devia haver, beicinho só não chega.
Bem sei que nesta era da informação (lá vou eu) é tudo muiiiiiiito relativo. Para dar o lamiré, Daniel Day Lewis, 2 oscares, catrefadas de prémios, actor etc, decidiu nos idos 90 e tais separar-se da companheira de então, que estava noutro continente a acabar de dar à luz um filho dele. Mandou-lhe um fax. Very polite. Pode achar-se que é delírio de estrela. Blá. É tudo relativo.
Na aldeiazinha global, quarteirão Lisboa e arredores, é muito mais fácil dispensar pessoas porque sim. Exemplos - messenger, hotmail, gmail, google talk, sapo e sms (la crême de la crême).
Hélas, não há pontos baixos na nossa experiência informático/portátil. Hoje, hoje, hoje, sim. Fui vencida por um smiley. Onde há smiley não entra conversa. Só um sorriso. Acerca de quê? Preocupo-me. Smiley? Não tenho vontade de smiley. Trocam-se preocupações por packs de caras amarelas?
Say no more, vou entrar para os Simpsons, mais disfuncional e amarelo é impossível.
E eu chateio-me, fico preocupada, acho que não estou a ser eficaz como amiga nem como conselheira... Mas. Um. Smiley. Bolas.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

domingo, fevereiro 22, 2009

Um pequeno terror diurno

Igudesman & Joo / A Little Nightmare Music
21/02/2009 CCB
Que o poder do You Tube não seja desprezado! De facto, até os próprios músicos fazem referência no seu site aos milhões de pessoas que os conheceram e riram a bom rir através do You Tube.
Não se pode dizer que a única coisa que partilham com a música clássica sejam os fraques white tie e os instrumentos. Eles têm formação clássica e trabalharam reportório clássico antes de lhes dar este vipe. O que me faz lembrar os grandes patinadores no gelo quando lhes dá para fazer disparates depois de um triplo axel, porque está mesmo no programa. Condição essencial, não estar em competição.
Um pequeno pesadelo nocturno é um trocadilho com uma pequena serenata nocturna de Mozart. Embora para Lisboa não fosse bem nocturna, uma vez que começou às 17h... de sábado gordo. Pensei para os meus botões, isto vai estar cheio de criancinhas mascaradas. Não estava. Então porque é que as levam para os concertos da Festa da Música #$%&/%$#? As crianças não têm culpa de se chatearem se não estão habituadas, nem de terem um poderoso dó de peito quando lhes dá para o choro em qualquer escala...Ai paizinhos & mãezinhas...
Adiante. Eles são gozões. Muito gozões, metem Nokias, Beatles, Gloria Gaynor e outros à mistura. Não trouxeram, contudo, os calções, mas não deixaram os créditos do Riverdance em pés alheios. Por isso, ao contrário do que já lhes perguntaram, se não achavam que estavam a gozar com a música clássica, foram peremptórios na resposta negativa (e cá por mim, tinha metido a cabeça da entrevistadora dento do piano e fechado a tampa, discretamente). Eles não gozam, o que manifestam é a própria vontade de rir por detrás da fachada e do status quo dos músicos, que afinal são gente como os outros, eles contentam-se com a nivelação e com o ok, não somos prodígios, mas para além de apreciar uma bela música não é tão bom sorrir às vezes? Destas vezes, às contas dos violinistas e pianistas, e das ideias feitas que músicas não se misturam e Mozart ou Beethoven (ou James Bond...) nunca deram uma sonora gargalhada.
Não só se recomenda (e ao DVD), mas precisa-se de mais, urgentemente. Eles já estão a trabalhar num novo projecto em que dão cabo duma orquestra. Be very afraid!



sexta-feira, fevereiro 20, 2009

listen very carefully


Em breve, num blogue perto de mim, livros e ódios de estimação, um boião de cultura sobre os melhores e os piores em retalho (livros a metro) e qualidade. E sim, Somerset Maugham em Portugal, sem ser em português.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Um pouco mais de tempo (versão livre)

Estes são os dias da mão estendida,
não serão os últimos
olha à tua volta,
estes são os dias dos que pedem e dos que escolhem.

Este é o ano do (homem) faminto
cujo lugar já passou à história
de mão dada com a ignorância
cheia de desculpas legítimas.

Os ricos declaram-se pobres
e a maior parte de nós não tem a certeza
de ter sequer o suficiente
mas temos que arriscar
porque Deus desviou o olhar
parece-me que algures ao longo do caminho
Ele nos deixou sair para brincar
voltou as costas e todas as crianças de Deus
deslizaram pelas traseiras.

É difícil amar, tudo envolto em ódio,
suspende-nos a esperança
quando já não a sabemos procurar
e os céus feridos lá em cima dizem que já é muito tarde,
talvez devêssemos todos (rezar)pedir um pouco mais de tempo.

Estes são os dias da mão vazia
agarramo-nos ao que podemos
e a caridade é uma máscara
que usamos duas vezes por ano.

Este é o ano do (homem) culpado
a tua televisão encarrega-se disso
e descobres que o que acontece lá fora
acontece aqui,
e então gritas por trás da porta
dizes o que é meu é meu e não vosso
posso não ter muito mas tenho que arriscar
porque Deus deixou de se preocupar.
E tu agarras-te àquilo que te venderam
será que cobriste os olhos quando te disseram
que Ele não pode voltar
porque já não tem crianças para as quais regressar?

É difícil amar, tudo envolto em ódio,
suspende-nos a esperança
quando já não a conseguimos encontrar
e os céu feridos lá em cima dizem que já é demasiado tarde
talvez devêssemos todos (rezar) pedir um pouco mais de tempo.
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o original de George Michael é de 1989
não parece agora, 2009, muito mais adequado ainda
mais perto do surreal quotidiano

Praying for Time (unplugged)

sem palavras; não chegam; está cá a canção, todos os dias.

These are the days of the open hand
They will not be the last
Look around now
These are the days of the beggars and the choosers
This is the year of the hungry man
Whose place is in the past
Hand in hand with ignorance
And legitimate excuses

The rich declare themselves poor
And most of us are not sure
If we have too much
But we'll take our chances
'Cause God's stopped keeping score
I guess somewhere along the way
He must have let us all out to play
Turned his back and all God's children
Crept out the back door

And it's hard to love, there's so much to hate
Hanging on to hope
When there is no hope to speak of
And the wounded skies above say it's much too late
Well maybe we should all be praying for time

These are the days of the empty hand
Oh you hold on to what you can
And charity is a coat you wear twice a year
This is the year of the guilty man
Your television takes a stand
And you find that what was over there is over here
oh you scream from behind your door
Say what's mine is mine and not yours

I may have too much but I'll take my chances
'Cause God's stopped keeping score
And you cling to the things they sold you
Did you cover your eyes when they told you
That he can't come back
'Cause he has no children to come back for

It's hard to love there's so much to hate
Hanging on to hope when there is no hope to speak of
And the wounded skies above say it's much too late
So maybe we should all be praying for time

Here I Am

(versão livre, sem conflitos de género, masculino pode ser feminino, vice-versa)

Não faz sentido continuar a andar
quando não sabemos para onde ir
e a estrada que tenho palmilhado
bem, encheu-me os bolsos
mas foi-me esvaziando a alma.

Todas as inseguranças
que me aprisionaram tanto tempo
não arranjei cura para elas
mas pelo menos conheço-as
já não são tão fortes.

procuramos os nossos sonhos no paraíso
mas que diabo é suposto fazermos
quando eles se tornam reais?

Está um ano da minha vida nestas canções
e algumas são acerca de ti
eu sei que não há maneira de escrever/expiar estes erros
Acredita-me
Não posso mentir, feriste o meu orgulho,
deve haver um caminho sem ti.

Mas tu disseste uma vez
há um caminho de volta para cada homem
portanto aqui estou
Será que as pessoas não podem mudar,
aqui estou
Será demasiado tarde para tentar de novo
Here I am.

on being spooked

Não é meu costume ter sonhos que fazem lembrar filmes de terror, embora desde que saí da função pública tenha sonhos com regularidade em que grito e deito chispas pelos olhos a toda a gente que esteve envolvida no imbróglio, isto é, um Serviço inteiro. Geralmente, o sono não é restaurador nessas alturas, e acordo com os músculos doridos de terem estado comprimidos e retesados a noite inteira, como que em posição de combate.

Regra geral, também, por acaso sem excepções, nada do que eu sonho acontece e são muito pouco baseados na realidade (tirando os supracitados). Mas costumo lembrar-me do que sonho de manhã.

Então se não é coisa boa, costumo lembrar-me até por muito tempo. De anteontem para ontem, sonhei com coisas estranhíssimas, a trovoada era negra e a chuva também, e havia lobos disfarçados de pessoas que comiam outras pessoas. Não de garfo e faca, mas obviamente al dente. Não sei se eu entrava no sonho ou se era observadora. Foi incómodo. Não sou capaz de dizer de que maneira, se havia vísceras pelo chão, se havia gente esventrada, penso que sim. É diferente de um filme de terror (não vou à bola com o género), porque ali eu senti qualquer coisa que nem sei bem como descrever. Qualquer coisa má, mesmo escura e má, mas não sei explicar, ou já se me sumiu da memória recente o significado.

Eu até não tenho nada contra lobos, nem os associo a nada de mau, antes os considero animais inteligentes. Mas a impressão durou bastante mais do que o costume. Eles comem tudo?

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Efeméride d+182,5 (entre hoje e amanhã)

Waiting (reprise) - Here I am (Listen without prejudice, vol1)
1990

O meu padrinho deu-me este álbum, na altura, LP, acabadinho de sair, fresquíssimo, nos meus anos. Nem eu sabia se ia gostar dele, porque ainda não tinha ouvido nenhuma faixa na rádio. Não havia FNAC, havia Valentins de Carvalho (ainda) garbosas, como no CC Alvalade (tudo isto uma sombra, veja-se, com 18 anos e meio). Ainda havia casas com animais nos centros comerciais, há muito tempo que foram desratizados, desgatizados, rentokill etc. No living being. Il mundo gira.

Não sei bem a que propósito veio esta introdução, acho que simplesmente me lembrei de ver vida nas pessoas e nas ruas quando era pequena, que manifestamente se retirou e desapareceu. Um à parte. Fiquei surpreendida, porque o meu padrinho não me costumava dar discos, mas prendas dos sítios onde ia de viagem "antes que destruíssem o que restava de África" e muito mais. Daí a minha pedinchice crónica sobre terras distantes (ie, que não a nossa).
Sendo a música uma coisa de que sempre gostei, acho que foi um tiro no escuro. Ele não sabia do que é que eu gostava, sem ser clássica, que é ao mesmo tempo sempre mais fácil e mais difícil, enquanto que acertar na pop é manifestamente mais difícil; podemos gostar de quem canta, mas não gostarmos do disco. Mas acertou tanto na mouche, é um dos discos de que gosto mais - e há coisas do George Michael que gosto e outras que nem por isso. Esta é das primeiras. Gosto de todas as faixas.

Neste post há várias mensagens que não estão sublinhadas. Não é uma comemoração. Não é dar açúcar às formigas desta vez. É pôr a insignificância de uma formiga em cima de um formigueiro rival. É reduzir assuntos á sua insignificância - que por vezes demora tanto a ruminar. Há assuntos insignificantes que tomam a forma de uma montanha.
Somos nós que complicamos porque sentimos uma compulsão de complicar? Sim. Porque sentimos culpa? Sim. Porque sabemos que o dia de ontem não se muda? Sim. Mas hoje é feito por nós, e o amanhã, enquanto cá andarmos, também. Não há tempo para mesquinhezas, há tempo para acordar. Ninguém vive uma vida inteira a uma distância razoável do mundo só porque o mundo é aborrecido. O mundo é aborrecido. Somos nós que o fazemos. O mundo é incerto. Somos nós os descrentes. O mundo é injusto. O mundo é injusto? Então vai-lhe á cara. O mundo merece que lhe vás à cara. O mundo pede até.

Em psicoterapia já ouvi dizer "não podemos ter a veleidade de querer ter sempre a última palavra". Não OK. Há tantos conselhos que são treta. Se não pudermos partir do princípio da igualdade, estamos a diminuir-nos. Eu já me diminui muito, aos meus próprios olhos. Estou sempre a mirar e a remirar a ver quantas saídas são possíveis mas, e então quando sou eu posta fora (situação algo recorrente nestes dois anos, óptima para o ego)? Quando o que tinha por certo deixa de fazer sentido, porque simplesmente deixou de existir? Quem pensa e se vergasta demais também acaba por ter boas ideias quando acorda. Existir. Resistir. Construir. Lutar.
Uns dias menos, outros mais, here I am.

Well there ain't no point in moving on
Until you've got somewhere to go
And the road that I have walked upon
Well it filled my pockets
And emptied out my soul
All those insecurities
That have held me down for so long
I can't say I've found a cure for these
But at least I know them
So they're not so strong
You look for your dreams in heaven
But what the hell are you supposed to do
When they come true?
Well there's one year of my life in these songs
And some of them are about you
Now I know there's no way I can write those wrongs
Believe me
I would not lie you've hurt my pride
And I guess there's a road without you
But you once said
There's a way back for every man
So here I am
Don't people change, here I am
Is it too late to try again
Here I am.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

17/02/2009 - E agora para um momento um pouco cacofónico


Imaginário/André Fernandes 21.30h Culturgest
Pois era suposto ser jazz... e ser bom. Pois era.
Algures no meio da pasmaceira que se torna a programação de verão em qualquer sítio de Lisboa, no ano passado lembraram-se de começar um Festival de Música Portuguesa Moderna no CCB em Julho. Primeiro dia, à noite, grande auditório cheio, grandes nomes: Mário Laginha, Bernardo Sassetti e Camané. Ao longo do programa, impecável, dois pianistas malucos a improvisar entre o clássico, jazz e fado deram-se muito bem com o fadista. Ao longo do concerto percebeu-se que a casa estava cheia por causa do Camané, mas penso que a mistura foi mais que a soma dos três, diferente e muito boa.
No dia seguinte, aparecia na programação um jovem guitarrista jazz a apresentar um álbum - Cubo, juntamente com uma troupe do melhor, o seu " quarteto". Não conhecia o contrabaixo, Nelson Cascais, mas sim "possivelmente o melhor baterista do mundo", Alexandre Frazão (quando crescer quero ter uma bateria igual à dele), e o homem que é feito de música Mário Laginha. Só estes predicados já abriam o apetite.
Apesar do horário pós-prandial, pequeno auditório a meio gás, gostei muito. Por acaso, se calhar, a vida é feita de mudança. O rapaz André (2 anos mais novo que eu) tem site, tem editora própria, teve bolsa nos states. Infelizmente deve pensar que ainda está num protectorado dos states (será?), porque o site está maioritariamente em inglês, os nomes de muitas músicas são em inglês, etc...
Daí não viria grande mal, se ele não achasse que se big is beatifull, bigger still deve soar a Nova Iorque ou a Nova Orleães - ou pior, digo eu, aos dois ao mesmo tempo.

O quarteto base é uma guitarra (electroacústica, conforme o tema), um contrabaixo ou guitarra baixo, bateria e piano. Ás vezes ele canta, mas só para acompanhar a guitarra. Portanto, duas cordas, duas percussões, eventualmente um nadinha de sopro. ok. Lembrou-se de ter convidados e de os por a tocar todos ao mesmo tempo (o que graças a Deus não acontece no CD). Bernardo Sassetti, um piano extra (mais percussão) e um DJ (?) para fazer qualquer coisa que parece que os DJ fazem (supostamente mais percussão). Dá para imaginar o batuque? Não dá.
Quando se põem TODOS a tocar (improvisar?) ao mesmo tempo não há tunning auricular que aguente. Obviamente não soa bem. Pode argumentar-se que não me soa bem a mim, mas acho muito difícil alguém que tenha, nem é preciso conhecimentos musicais, mas o sentido da música dentro de si, não achar aquilo uma estridente cacofonia numa bela sala.
Basta seguir o simples princípio: numa orquestra, ou noutra formação qualquer, desde que sintónica, consegue-se isolar todos os instrumentos que tocam. Ali não. Os pianos tomaram conta do place e não têm culpa, mais a bateria e o contrabaixo ao fundo. A melodia da guitarra desistiu e o DJ não existia. Há um limite para o nosso ouvido. Para o meu, foi atingido. E desliguei.
Curiosamente, estava muita gente nova, mesmo muita, género, universitários, e a sala cheia. À saída comentavam uns para os outros "Ahn... percebeste alguma coisa daquilo?" "Ó pá, eu não, mas é bom, quer dizer, deve ser bom". Estilo deve estar na moda. E não deram um chocolatinho sequer.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Photo mightier than swords?


Há muita fotografia poderosa que nunca passa nas circunstâncias em que devia. Deixemos que ela própria conte a história. vou chamar-lhe "canção de adormecer". Vamos fingir que. Sim?

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Gene Kelly

...E se eu tentar ao menos convencer o Gene a parar a torneira lá em cima, e já agora a ligar um bocadinho o termostato ao sol?
É que eu sei que ele sabe que eu sei que ele sabe que a "serenata" só era "à chuva" no estúdio, e o chuveiro era de água morna... pois, pois, senão era logo uma estrela com dasex do dariz.
We're all pretending to be singing in the rain.

domingo, fevereiro 08, 2009

inflammatory essays (1)

posted on Abrupto; "gamado" by me.

Big Google Brother

Há coisas que não lembram a ninguém...ou talvez não. Vou ainda ter que desenvolver a tese de que está tudo maluco e de que não é só da conjuntura, embora ajude muito, mas é um fenómeno muito mais complicado que é capaz de descambar na descoberta de que o universo não está em expansão e o sol vai explodir dentro de 26 horas.

Adiante. Na minha actual situação de profissional liberal & tradutora freelancer, veio-me parar às mãos uma patente em inglês para traduzir para português. É suposto ser um medicamento pseudo-homeopata, anti-oxidante daqueles que faz bem a tudo, só não se sabe exactamente a quê. Esta gente escolheu o Alzheimer e o envelhecimento cerebral, estão na moda.

Bem, falam de vários compostos químicos / bioquímicos de cujos nomes o bioquímico vulgar de Lineu nunca ouviu falar. E é aí que avança a invenção - o google português. Põe-se o nome que se acha que talvez, e ao contrário de outros motores de busca, ele até sugere "será que queria dizer", e encontram-se as palavras mais desenxabidas e estrangeiradas da língua portuguesa -violá. Um brinco, pensei, está este google, apanham-se as imagens que se querem, quando temos uma dúvida súbita sobre qualquer, mas veramente, qualquer coisa, googlamos. Na língua inglesa já é palavra corrente o verbo to google, o que é no mínimo, óbvio.

Como se vê, no google internacional, pode-se encontrar a biografia inteira das pessoas anónimas, respectiva família e prole. Por cá, circulam gmails sobre outlets nos noticiários. Pior, no google Portugal, tirando as eminências muito pardas, não se consegue saber directamente nada sobre ninguém, i. e. o anónimo vulgar como eu (se se puser blog antes do nome, é que aparece aqui o nome da casa, o que é estranho, porque o blogger é do google), ainda que eu tenha sorte em chegar à segunda página (quanto mais fora do comum é o nome, mais fácil é encontrar coisas sobre ele, tirando quando se tem um parente famoso no século XVI), ou então pode-se cair em sósias, que los hay, duas pessoas com o mesmo nome; nomes inteiros não chegam a lado nenhum, porque o motor põe-se a fazer pesquisas cruzadas, como bom matemático que é, que não liga à semântica.

Então, após "ácido bongkréquico", o meu queixo começou a descer e fiquei um grande bocado de boca aberta. Não se sabe nada directamente, porque a informatização do sr Sócrates não existe - caramba, com a percentagem de analfabetos, analfabetos funcionais, e competências de português e inglês técnico? - por enquanto.

Mas indirectamente... Fiquei por exemplo a saber da existência de um desporto que desconhecia por completo e até tem Federação Portuguesa. Não posso dizer que o Airsoft é uma espécie de paintball em pior, pq os srs grunhos que o praticam fazem questão de dizer logo que não se compara porque não é "honroso" ficar coberto de tinta (???!!!).
Bem, para quem acha -eu- que o paintball é para miúdos que não se satisfazem com as consolas, então este é para militares, paramilitares, que não se satisfazem com o exército, porque não têm oportunidade de matar ninguém, de descarregar as quantidades imensas de testosterona, não com tinta, mas com balas de uma espécie de borracha de velocidade intermédia(?!). Parece que não são as balas de borracha que atiram aos manifestantes, mas são jogos de guerra, resumindo.
 E cuidadinho com as partes moles, que para além da farpela de camuflado só se tem direito a protecção com óculos. Imagino como será à queima-roupa. Fiquei parva, não, completamente estupidificada. Eles falam daquilo como se fosse futebol de 11 e acabam com uma opípara refeição, mas para todos os efeitos são milícias contra milícias.
O paintball é ridículo. O Airsoft é grave. É das forças especiais como o GOE. Imaginem que lá anda o sniper do caso do BES... saiam todos com balas metidas...nos tecidos moles (que são muitos, caso o neurónio militar não saiba). Esta gente não bate. Mesmo. Bem. Da bola. Grande, cá de cima. Aparentemente têm site e fórum e o google tem acesso a tudo, inclusive a quem manda mensagens sem nickname.
Assim como alguns jornais na edição digital permitem comentários online, e até o YouTube (e, Meu Deus, estou a pensar nas dezenas de impressões digitais realmente digitais, online, que se calhar já deixei - sendo que da maior, aqui o LivrodeP, muito me orgulho e não retirava uma vírgula, tirando as correcções ortográficas), parece-me agora que o gmail, com tanta segurança encriptada pode ser um marcador fluorescente, e dentro em breve, outros tb o seguirão, para bem da defesa nacional /internacional/ global. Nos states já houve vigilância activa de mails, não é ficção. Mas o direito a ter opinião e expressá-la há-de reduzir-se à virtualidade de um ecran, a menos que alguma coisa seja feita.
Por enquanto, é uma linha bastante sinuosa, mas existe, e descobrem-se coisas do outro mundo (ou serão afinal todas deste tão pequeno, reduzido finalmente ao seu mais ridículo estado).
Vá-se lá saber a relação entre o Airsoft, o falecido Raúl Durão, e o grupo millenum bcp?

Mais ils sont fous, ces humains, non? (parte 1)

...Pelo menos os portugueses que mandam nas horas desde 1900...Ansiosamente desejosa por saber QUANTO, meu Deus, QUANTO falta para a hora de Verão (embora já se note que as nuvens escurecem mais tarde...), o meu delírio por mais uma hora de dia já punha a hora de Verão no 1º fim de semana de Março, até ao último de Outubro. Ora bem, se a segunda premissa está certa, eu bem tinha um gut feeling que a 1ª não estaria, era desespero a mais, quase nórdico. É pois, o 1º fim de semana de Primavera (ai, ai), a 29 de Março (tic-tac).
Lembrando-me das estouvadices de monsieur Cavacô enquanto nosso premier, que nos levaram quase ao sol da meia noite, já que estava no sítio certo (observatório astronómico de Lisboa), fui ver a evolução da hora legal portuguesa desde 1900... Como em tantas outras coisas, a regra é não haver regra. Mesmo. Mesmo. Mesmo. Fosse monarquia, república ou o sr que caiu da cadeira, valha-me Deus! Não há coordenação! Como querem que este país vá para a frente se está sempre a mudar de horário?
Os computadores mudam automaticamente a hora, e não é por comparação em termos de eficiência, mas aviso, os astrólogos devem andar com a hora legal atrás para consulta. Para já, como ano lunar é diferente de ano solar, uma pessoa pode andar metade da vida a agir como cavalo, sendo que afinal pode ser serpente (isto é mais questão de Janeiro e Fevereiro, que são os meses charneira do 13º ciclo lunar).
Agora a diferença que um ascendente pode ter na personalidade de uma pessoa? Sei lá. Não sei se as pessoas que nasceram no mesmo dia, mesma hora (ajustada), mesmo ano, mesma latitude, longitude e altitude são todas iguais a mim...porque não conheço nenhuma, embora calcule que o Jorge Sampaio deva ser uma EXCELENTE pessoa (sim , o Sócrates tb nasceu em Setembro, pois, pois, pois; tem que haver ranhosos). No meu caso - graça Deus - fica tudo na mesma: 1974 foi um ano EXCLUSIVAMENTE com hora de Verão... talvez isso explique muita coisa...
Mas há anos do tempo-do-senhor-que-haveria-de-cair-da-cadeira que foram faseados, um tempo hora de Inverno, depois GMT+1, depois GMT+2 (super-Cavacô), e depois na descendente idem (neutralidade da WW2?) e anos SEM hora de Verão (oh meu Deus...) (Baía dos Porcos?aniquilação nuclear?), algum deles psicologicamente justificável pelo sr. dos Relógios? Já pensaram nas cartas astrais que voltaram a lixar?
Já para não dizer, que se calhar a culpa da crise...é do relógio.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

cantinho devem estar a gozar

1) Nova Bitória -águia- da Luz... depois daquela da gavote,
ainda conseguiram descer mais um patamar...
com animais assim, quem é que precisa do Berardo
(ou da Betty?)
2) Escritor procura escritora para dar uma voltinha? (ou variantes)
Escritor procura testa de ferro para publicar livro no seu nome?
Escritor que não é escritor procura alguém para roubar ideias?
outros? não sabe/não responde?
Este anúncio verdadeiro vinha na revista Os Meus Livros
(foi de graça, não comprei)
não se enxerguem não
qualquer dia são mesmo os chimpanzés que andam a escrever Shakespeare...

encartada


Visivelmente encartada. Linda, a referência a 1889. Venham eles!

domingo, fevereiro 01, 2009

Só uma coisa



Plise deixem-me chegar à hora de Verão, mais um pequeno esforço... vá lá.

Beautiful day

Para além de ser o dia de anos da minha Avó, e ter de ser comemorado à altura, andei a pensar que este blog tem muitas canções sobre chuva, de maneira que o beautiful day era para impressionar os senhores lá de cima e convencê-los a afrouxar esta porcaria de inverno polar/glaciar/whatever.
Infelizmente o YouTube não tem o vídeo original (aeroporto Charles de Gaulle, anyone?), de onde tenho recordações tão boas... do contacto em movimento uniformemente acelerado do chão de mármore com o meu joelho, com o bobby da Samsonite a assistir pela trela, quase patinagem artística.
Obviamente não sei porque não temos direito ao vídeo original, deve ser uma coisa que viole direitos de qualquer coisa, como os chineses.
NÃO INTERESSA, DESDE QUE VENHA UM SOLINHO, PLEASE.
Ah, gosto bastante da canção embora já esteja naquela fase em que acho o Bono um ser insuportável, gramo muito os U2, até ao How to dismantle an atomic bomb, that is, só o The Edge é que se escapa. Como sempre.


The heart is a bloom
Shoots up through the stony ground
There's no room
No space to rent in this town

You're out of luck
And the reason that you had to care
The traffic is stuck
And you're not moving anywhere

You thought you'd found a friend
To take you out of this place
Someone you could lend a hand
In return for grace

It's a beautiful day
Sky falls, you feel like
It's a beautiful day
Don't let it get away

You're on the road
But you've got no destination
You're in the mud
In the maze of her imagination

You love this town
Even if that doesn't ring true
You've been all over
And it's been all over you

It's a beautiful day
Don't let it get away
It's a beautiful day

Touch me
Take me to that other place
Teach me
I know I'm not a hopeless case

See the world in green and blue
See China right in front of you
See the canyons broken by cloud
See the tuna fleets clearing the sea out
See the Bedouin fires at night
See the oil fields at first light
And see the bird with a leaf in her mouth
After the flood all the colors came out

It was a beautiful day
Don't let it get away
Beautiful day

Touch me
Take me to that other place
Reach me
I know I'm not a hopeless case

What you don't have you don't need it now
What you don't know you can feel it somehow
What you don't have you don't need it now
Don't need it now
Was a beautiful day
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