Pedras Rolantes

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quarta-feira, agosto 19, 2009

translacção, 1

Kip's Lights - cena de o Doente Inglês @ Youtube


O Doente Inglês já foi há tanto tempo... Frase estranha, como pode um filme "ser" ou "ter sido"?
Resposta, se nós o tivermos, mais que apenas visto, ouvido e sentido. Teve a oportunidade de juntar um ensemble que foi mais que a soma das partes - o livro, vencedor do Booker é claramente inferior - a música, clássica, dos anos 30, de Gabriel Yared, mistura-se muito bem; o décor, Norte de África, Itália, grandes planos aéreos (África Minha), a luz, a fotografia, a montagem; os contextos, pessoas que têm uma história própria para além da guerra, afectada ou afectável, o doente, que pode não ser inglês, e sobrevive à custa de morfina enquanto aguentar as suas próprias memórias; a enfermeira que toca piano, a quem todos morrem; os objectos de afecto que são secretamente desesperados (no livro, o Kip também morre).
O par contudo, em descontínuo temporal, é Laszlo/Hanna (Fiennes/Binoche). São eles que sofrem por aquilo que não conseguiram evitar. Esta cena do filme em que Kip arranja uma maneira "radical" para Hanna apreciar os frescos italianos é divina e devia ser vista em modo fullscreen, às escuras. É absoluta poesia. O conjunto todo é. Marcou-me numa altura importante, estava a passar dos anos básicos para os clínicos na Faculdade, estava quase com o Proficiency do Cambridge, conhecia pessoas novas, e chorei chorei chorei chorei absolutamente baba e ranho com este filme. Comprei logo o CD com a banda sonora original, ouvi ouvi ouvi, sei lá, é linda.
Pensar no filme na história, nas personagens, deixa-me logo de canto do olho húmido. E ver agora, sim agora, o Ralph Fiennes tão...novinho. Mais novinho só na Lista de Schindler a fazer de encarnação do mal, mas tão bem. Era nessa altura mais novo do que eu sou agora. Suponho que n' O Doente Inglês deveria ter a minha idade. Aquele timbre de voz é inalterável, mas por exemplo, n' O Fiel Jardineiro está ainda melhor, benzó Deus, há gente comó vinho do Porto. (A administradora do blog vai desviar-se do assunto principal e suspirar, 'Ah, bonzão...' e logo de seguida acrescentar, muito bem acompanhado pela Juliette Binoche).
O assunto é a memória, ou os recantos em que ela se perde quando lhe dão asas? No meio de tanta tragédia somada, não nascerá nada mais que a tag line do filme ("in memory, love lives forever")? Acho que sim, o final de um bom filme é sempre aberto qbp a nossa interpretação pessoal. Nascerá tudo o que nós quisermos.
Por isso faz tão bem ver e recordar filmes assim.


É como se o tempo nos fizesse mais espertos. É como quando estamos mais ocupados é que conseguimos resolver mais coisas. É como se tivesse que mudar tudo de sítio para chegar de novo ao princípio, mesmo que o princípio seja completamente diferente, mesmo que o princípio seja completamente igual. É começar.
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