Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



quinta-feira, maio 20, 2010

o outro lado do espelho

(Não é que se repare muito que tenho andado obcecada por dores de dentes; tenho é andado consumida com dores de dentes)
O grande dia. Sem dores, pensei ah, o antibiótico fez maravilhas, o abcesso não precisa ser drenado / aberto / seja lá o que eles fazem. Como é que raio é que ele vaio tirar um quisto que só viu na radiografia? Mas pronto, antibiótico, sem dores, etc.
Nas primeiras horas o meu pensamento esteve ausente / oxigenado. Levei três seringadas tão grandes de anestesia , num dia de calor em que me apetecia dormir, que a mocada foi total. Apesar de não ter uma ideia no vácuo loiro do meu cérebro, conduzi a viatura até casa sem incidentes (ia acompanhada, é claro). Estava no Nirvana loiro. Sem dores. Falaram-me em alveolite, que dá umas dores terríveis.
Alveolite não é uma doença alérgica dos pulmões?, pensou a minha entidade ganzada. Depois qdo aterrar vejo no google. As anestesias duraram 4h.
O dentista puxou do seu aparelho de raspagem (não foi da broca), mais normal, e como a gengiva ainda não estava fechada, raspou, raspou, raspou e tornou a raspar. Ele tinha dito, acerca do quisto, que iria fazer uma "curetagem". Eu pensei, isto é português brasileiro em terminologia de dentista. Não era. Raspagem vulgar de Lineu, cirúrgica é igual a curetagem. Não se usa é para quistos.
Alvéolos são os espaços ósseos dos maxilares, os ninhos, de cada dente (ai, isto vem antes da anatomia, e só me vinham ao dendrito os alvéolos pulmonares). A alveolite acontece quando o alvéolo inflama/infecta, a maior parte das vezes após extracção dentária traumática. Pode não ser (e não era) purulenta. Segundo fontes fidedignas do google, as dores são lancinantes e muitas vezes o ab não alivia. Só mesmo a raspagem e muitas velas aos santos da devoção.
Quando a anestesia começou a passar, senti o trabalho completo, a sova e o esburacanço. Não chego, contudo a hamster, mas gostava de ter a minha vida de gente de volta. Julgava que ia poder começar a pensar, trabalhar, agir, decidir (caramba, fui responsável por doentes que podiam passar mal, agarrada literalmente a um dente durante15 horas seguidas, emborcando cocktails de aspirina com nimed, nimed com aspirina!). Vai ser lento.
E ao regressar ao meu estado normal embirrento-picuinhas, pensei cá comigo, naquela clínica sabem que sou médica, tratam-me por "dê erre", mas não me explicam um tratamento dentário. Um quisto. Não deposito confiança em quem não é sincero, por isso desde o 1º minuto sou sincera com os meus doentes mais ou menos graves, mais ou menos agudos ou crónicos (excepto na unidade de transplantação em que mentir com todos os dentes era a única opção, tão grande era o iceberg à frente do Titanic).
A verdade é necessária e imprescindível para a confiança. Entre  médico e doente, entre duas pessoas que se comprometem numa aliança terapêutica, de amizade ou qualquer outra, não há o que  sabe, e o outro.
Se servia ser médica qdo perguntavam se tinha analgésico ou antibiótico em casa, porque não explicar-me que o problema não era bem aquele. Não era uma questão de julgamento, continuo a achar aquele dentista da máxima competência; assim é que parece que ele tinha medo que eu o chamasse incompetente. (A raspagem foi a custo zero, logo, conclui-se que ele acha que é consequência da extracção). Provavelmente não mudaria nada, não sou eu a dentista, mas ao menos não andava a explicar a outras pessoas e a mim mesma uma coisa errada.
E, é claro, deixou passar demasiado tempo, 15 dias, embora eu me tenha queixado, etc. É das inúmeras coisas (tantas, tantas) que não havia necessidade. E dói mais que um abcesso (nunca tive), assim como em n (talvez 8) extracções nunca tinha tido esta nova ITE.
Shit happens. Everyday.
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