Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



domingo, setembro 26, 2010

Actos, palavras & omissões

O Expresso estaria ainda debaixo da mesa, se eu não tivesse delineado os rascunhos do estado da coisa real, aka crise invencível e assuntos por demais flagrantes. Acontece que as barbaridades passam por direito próprio à frente, sobretudo as que se vêem à frente dos olhos - ou no monitor.
Está também na lista de ofensas, digo, de posts, a minha experiência no "livro (ou país) dos rostos", aka Facebook, nunca sendo demais relembrar que foi inventado por um miúdo para classificar as colegas da faculdade...

Estava a incorporar o regresso à rotina, regado com muitas séries do AXN/FOX etc, para dar por isso mais de mansinho, e estava a por blog em ordem, coisas como limpar o pó, que têm que ser feitas até que a camada de cotão imobilize a hospedeira.
Entretanto passei pelo Face, não sei se tinha muito que partilhar, não me lembro, só pego em coisas com piada para o meu cabaz, não me seduz a cultura do clique e dos amigos de conveniência. Sei que não se pode opinar grande coisa no Face, senão cai-nos um grupo do contra em cima - é isto a co-existência pacífica num dos maiores países do mundo?

Portanto, democracia e tolerância à parte, que já vi e tenho que escrever, como certas pessoas, vá-se lá saber porque carga de água, cascam noutras depois de estarem mortas (Evento Saramago vs Monárquicos do Alentejo). Sugeri tolerância em vez de chamarem ao novo defunto filho da p e outros adjectivos impublicáveis. Lá que não tenham conseguido passar da 1ª página do Memorial do Convento, por manifesta falta de predicados de leitura, seria com eles.
Passou para asneirola pegada com pessoas que eu não conhecia, e já conseguia ver um pelourinho à minha espera algures no Alentejo. É pena. Quanto mais desciam, mais superiormente moral me sentia para gritar a tolerância e reagir às provocações. Mas como era no Face de um amigo, que respeito, mandei-lhe uma mensagem a pedir desculpa só por lhe estragar a Face, e que me mandasse àquela parte (no face, é deixar de ser amigo, castigo supremo) se achasse que a sua integridade e valores estavam a ser tão devassados.
Ele parou a chacina. Eu bloqueei a cambada de paspalhos que até já andavam a snifar nos nossos faces (meu e da minha mãe) se éramos comunas e comíamos crianças ao pequeno almoço apesar de sermos tão cultas, e uma de nós apresentar "nome italiano" (sic).
Se ele tivesse decidido de outra maneira, para mim quem ficaria queimado era ele. Não era por isso que deixava de os achar uns atrasados mentais que aproveitam uma morte para pisar o morto.

Adiante. Li o mural tipicamente em E, á moderna. E vi uma coisa que me pareceu do outro mundo. Uma instituição que cuida de burros em Mafra, a Burricadas (que visitei no ano passado, e foi aqui apresentada nos burros a pão de ló), supostamente amiga de animais (e nós também somos animais, com um grande ponto de interrogação sobre o racionais), pôs no seu Face a seguinte notícia para comentar:
Morto à pancada por violar animais -exclusivo CM -Correio da Manhã
Conhecido por roubar galinhas para actos sexuais,
 Jaime Pires do Ó, 68 anos, foi assassinado
 à porta de casa com golpes no peito e junto ao ânus.
 com o seguinte lamiré - "Alguém na comunidade foi levado a fazer justiça por suas mãos, porque a nossa justiça simplesmente não funciona."
Desde quando é que a "nossa" justiça funciona? Não é esse o principal problema deste país, que permite tanta corrupção, tanta impunidade e, até, tantas mortes na estrada e atentados à cidadania como o que aconteceu por exemplo com a gata Vip? Todos partilham o sentimento de impunidade, quanto aos polícias, quanto aos juízes, quanto aos políticos!
Mas isto, isto senhores é diferente. É do Correio da Manhã e comenta-se e aplaude-se e chacina-se o homem várias vezes no Face (curiosamente, quase tudo senhoras...). Bem feito, não há nada como a justiça popular, davam-lhe mais, matavam-no com mais força. Onde é que já se viu roubar e violar galinhas, meter paus pelo ânus de um burro, violar uma senhora que tanto estava acamada como não e tinha algures entre 83 e 92 anos.
Diz a muito pouco senhora Carla Valverde - "Todas as pessoas têm direito a existir, a viver a sua vida, a ter prazer, mas nunca á conta de outro ser vivo, galinhas ou não". É uma máxima tão profunda que não sei que sentido lhe tire, se não o de que a pouco senhora não tem absolutamente nada que fazer, e nada dentro da cabeça à parte um conceito idiota de ter sempre razão e matar os anormais (de uma maneira um pouco nacional-socialista, ergo, nazi, para que não se pense noutras coisas).
É difícil esmiuçar uma notícia destas, no CM, que é o que sabemos, o senhor de 68 anos tinha história psiquiátrica conhecida desde jovem, mas nunca ninguém lhe tinha oferecido ajuda. Com trabalhos ocasionais de pouca monta, mal visto pela aldeia, vivia sozinho, sem condições de higiene, num casebre sem condições. Esta parte, tal como os roubos e maus tratos a galinhas, burros, ovelhas, são sempre mencionadas.
Já a maneira como morreu, ao pé de casa num beco, ou em flagrante delito num galinheiro, levantam a suspeita da conspiraçãozinha do silêncio. Morreu logo, ou quando chegou ao Hospital. Há consenso na gravidade dos ferimentos, mas em mais nada. Facadas em todo o corpo, no ânus e no peito? Oficialmente só no peito, mas a esvair-se em sangue? Enquanto estava de queixo caído, no Jornal da noite da SIC, falaram no quebra-cabeças para a GNR, mas disseram também que tinha marcas de ter estado amarrado, de outros tipos de ferimentos (em certas partes do corpo que se adivinham), ou seja, tortura.
15 pessoas gostam disto, não conto quem é a favor da pena de morte, porque já bloqueei quase todos.
A truculenta não sra CV acrescenta aos seus milhares de opiniões truncadas (da cabeça): "Antes de haverem tribunais, antes de haverem juízes, a justiça era praticada por quem?". Jesus! Por quem? O que temos na cabeça? Não está inerente a nós um sistema de valores? Não há em todas as sociedades, mesmo primitivas (vulgo cromagnons para a sra CV) um conselho de anciãos e de pessoas de importância (xamã, chefe da tribo, médico, sacerdote) que formam o seu conselho de Justiça?
Deixa assim, imediatamente de ser olho por olho... Não consta também que a Natureza funcione assim com os seus (nós todos e todas as espécies). Não há acção-reacção, mas sim relação.
Para mal dos seus burricos, a Burricadas tomou a opção de "moderar" o fórum pelo lado mais extremista. Fogo com fogo. Infelizmente, embora a leitura do face se faça em E, já muitas vezes tinha visto comentários pouco abonatórios da Burricadas a "nós", pessoas normais que comem carne (somos omnívoros), que não concordam com a extinção dos circos, que têm toda a consideração pela natureza e pelos animais e pelas plantas mas não se deixam amordaçar pela antropomorfização que organizações como a Animal e o partido qualquer coisa andam a tentar fazer. Eles não gostam de animais. Eles querem um leitmotiv para arruaçar, como a quase sra CV.
Houve (in)justiça pública? Houve. Os queridos vizinhos de Proença a Velha não mataram o Jaime ovelha, por sevícias, mas por roubo, por vergonha.
"José Rocha, 87 anos, foi obrigado a acabar com a criação de galinhas devido a ‘Jaime ovelha’. "Há dois meses foi ao meu galinheiro e roubou-me uma galinha. Esteve com ela em casa durante quatro dias e depois devolveu-ma muito maltratada e levou outra. Tive de matar a galinha violada", conta José Rocha, que não pediu explicações ao agressor por "medo dele"." Ainda me hão-de explicar, biologicamente, como é possível violar galinhas... agora matá-las por estarem maltratadas, quem foi? Alguém mata os inúmeros pobres de espírito que tais, que sentem tantas vezes o impulso de se "aliviar" nas ovelhas? Toda a gente sabe. Toda a gente já ouviu histórias.
Há zoófilias piores, em termos de danos internos para pessoas e animais, e consoante seja o "parceiro" activo ou passivo - assim de repente estou a ver que já não devem querer falar disto. Há documentários (fidedignos).
Tenho para mim que Jaime foi vítima de muita coisa a vida inteira, sendo as principais a ignorância e o preconceito. A justiça poderia nada ter a ver com isto.

Quanto aos mirones, que o que fazem é opinar e comentar, achando que tolerância é uma espécie de predicado que assiste aos"ricos e não á populaça", cortesia CV. Com uma pequena ajuda da Burricadas, que prontamente se voluntaria a torcionar quem fizesse o mesmo aos seus animais, vizinhos e amigos.
Moderação perfeita, justiça perfeita. No mundo deles. E se um burro matar outro burro? Devia haver um questionário para organizações que tratam de animais, como nos states há para quem adopta. Afinal tem que se saber se afinal eles têm capacidade de tomar conta dos burros com responsabilidade. Pelos vistos, opinar e perder amigos com responsabilidade é coisa que não lhes sobe à cabeça. (o que também é uma forma muito perversa de justiça privada - eu gosto de ti desde que penses o mesmo que eu)
Tudo isto me deixa insatisfeita e triste porque sei que é uma agulha num palheiro (neste particular, também cheguei a fazer parte dele), e aquilo que é mais fácil pedir-se ás pessoas, sobretudo nestas alturas, que é um pouco de bom senso, deixou, simplesmente, de existir, ser viável. Respondem com orgulho na sua falta de visão e de civilidade.
Depois de uma gata salva e morta por humanos, humanos que se enxovalham, alegadamente por animais. Já não é por amor aos animais, Burricadas, é por falta de vitamina B12, e de amor a si próprios, que começaram, também, a ouvir e vender o disco riscado.
Tenho pena, posso dizê-lo, dos vossos animais e sinceramente, posso dizê-lo, tenho medo do que vocês próprios lhes possam fazer.
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