Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



terça-feira, maio 31, 2011

Pelos púdicos

Estamos no quarto escuro, de castigo com orelhas de burro, no interminável fundo do túnel, e no entanto a vida autista continua. Os pelos púdicos ou públicos. A vergonha, a desgraça e as causas pelas quais somos superiores aos finlandeses...narradas por um inglês que diz "paaásteule di natta" custard sauce e, obviamente, "Mawreenho" (the best damn portuguese in the world).
Estamos em pré campanha, em campanha e em triatlo.
O três está na moda. Tal como Portas (Paulo) prefiro triunvirato a troika. Troika faz lembrar perestroika, coisa útil e moderna. Triunvirato aquela forma romana de governo de 3 cabeças, que acaba por ter mais parecenças com uma gárgula. FMI tem 3, letras. Mas não é isso que está em causa, o que é o FMI? Não é ele que empresta o polme das massas, é a União e a Angela. Não são os "moderados" que escolhem o juro, são as almas europeias apoquentadas com os especuladores.
Essas mesmas solidárias almas que não se importarão de jogar os pobres (de facto, ou de espírito) à sua sorte, mal vejam a estabilidade da sua Europa/Marco afectada. Não estamos nos Estados Unidos da América.
Mas por falar de fenómenos do entrocamento, basta ter um pé em Nova Iorque para se cair em orgias, sobretudo se se for economista e cabeça de proa bancária. Vai tudo visitar o quase modelo assassino putativo com requintes de malvadez de facto das revistas tugas cor de rosa. O mundo é uma aldeia.
E uma aldeia faz o nosso mundo. 3. Fátima, futebol e fado, triatlo. O mesmo fenómeno (!) do entroncamento provoca halos solares em presença do espírito de João Paulo II (que enviou altos cirros -nuvens- para efeito pirotécnico). Futebol, somos os maiores, taças, taças e mais FCP. Pelos na venta, pouco púdicos.
Fado, a campanha do nada a caminho do zero absoluto. O soutor por extenso Fernando Nobre e as casacas da assembleia, o "quando eu for 1º ministro", as fracas multidões por encomenda, o público pateta Catroga sem telemóvel, a múmia televisiva Teixeira dos Santos, o sim o não mas talvez é possível, os tiros nos pés e os sapatos de cimento. Como é possível tal falta de senso, sentido de responsabilidade, de estado, estando nós por um fio?
Ninguém (quase) promete nada, porque todos sabem que não vão cumprir. Os homens que não são da luta, vergonha, gel público, dinheiros ganhos com xaropada. Fala-se de demagogia. O quase engenheiro ainda fala, do mesmo, em português técnico.
Nós que vemos a barca voltar-se e as grilhetas irem ao fundo, já devíamos saber que para este país não há remédio. Até Salazar beneficiou da "conjuntura" - afinal, ele não passou "pela crise mais grave desde há oitenta eanos".
Vamos votar? Em que ideias, em que motor, se os neurónios pararam? Numa altura onde parece tão imperativo que os cidadãos tomem voz activa, participem, agarrem no futuro com as mãos, que escolha temos? Os espanhóis demonstram-nos que não é só melhor não se abster, como também é melhor votar no mal menor que em branco.
Por tantas causas andei a ler o Ensaio sobre a Lucidez (é pena, mas o voto em branco é neste romance um McGuffin, já que se trata no fundo de uma crítica mais profunda ao mundo, à sociedade e a realpolitik em continuação ao Ensaio sobre a Cegueira) de Saramago. Não me satisfez o sentido do voto.
Acabei agora de ler "Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos", de Tony Judt, que vai contando a triste história do Estado-providência desde o fim da 2ª guerra mundial até às crises actuais. É preciso voltar a ter ética, humanidade, valores sociais, aprender com o passado e planear o futuro, sob pena de construirmos uma aldeia global da qual todos fomos excluidos. Não podemos pensar no lucro com a ganância actual. A receita do triunvirato e as privatizações não estão muito consentâneas com "o remédio mais equilibrado". Também não sei se o nosso governo estará alguma vez preparado para ser o mais equilibrado. Ouvi apenas uma pessoa pronunciar com esse sentido a palavra "solidariedade", e é realmente o que precisamos. Não apenas dos bancos alimentares e da caridade cristã (ou de outra religião).
Trocar a técnica pela ética, que conceito antiquado. Mandem-se às urtigas os pelos. Todos.
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