Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



domingo, maio 22, 2011

Piotr & a naftalina





Já aqui tenho escrito elogios rasgados à Fundação Calouste Gulbenkian, pelos programas e ousadia em seguir pelo perfil da música do mundo com casa cheia.
Hoje é a altura de cobrar o dízimo pelos programas pré-temporada. Nada disto afecta a perfomance de Piotr Anderzewicz (espero não estar a dar grande calinada no nome do artista), mas não havia necessidade.
A casa estava cheia de clareiras, como se a crise tivesse desabado no dia anterior. Ora o concerto estava esgotado há tempos, portanto a desistência por não encontrar um trapinho dos anos 80 teve custos.
Digo isto porque, ao contrário de todos os concertos que já lá assisti, com excepção do de Nikolai Lugasnky, num Janeiro que tirou as martas ou seus afilhados naturais ou sintéticos do armário, e trouxe toda a gente podre de chique a valer (coisa com que não me incomodei, estava nas filas da frente, embora o subreptício cheiro da naftalina andasse pelo ar), que costumam trazer espectadores à civil e de todas as faixas etárias, este caiu da tripeça.
A população naftalínica com uma necessidade extrema de se arranjar e ficar a conversar com os igualmente geriártricos amigos e companheiros de série de concertos (porque é um must) quase fazia o pleno. Para completar, vi um ex-ministro (Mário Lino, Jamé)e um ministro demissionário (Mariano Gago).
Perante isto, tive pena que pessoas que provavelmente iriam apreciar mais um concerto de um pianista pouco convencional não terem direito a bilhete (1º compram os "habitués" da casa, tirando os bilhetes oferecidos), enquanto a maioria, que foi fugindo devagarinho dos encores, só faz figura de corpo, tosse e perfume fora de prazo presente, sem mais revezes do que picar o ponto.
Acabei com os espectadores, vamos ao pianista. Fiquei a saber que, se houvesse maneira de tocar piano deitado, Piotr agradeceria, embora à primeira vista não pareça jovem de se sentar á beira de um chaparro. Mas sentou-se numa cadeira (com encosto), e não no tradicional, frugal e quebra-costas banco. Bom para as costas dele. De Bach, Schumann, Chopin, nada a acrescentar. Obviamente trata-se de um intérprete que toca com excelência aquilo que gosta de tocar, e como já tem gabarito, pode mandar aquilo que não gosta para as urtigas com orgulho. Adora Lisboa, onde tem casa, e é um excelente mestre de cerimónias. Ainda tocou várias valsas de Schumann para (nós) os indefectíveis dos encores (e podia continuar).
Espero poder continuar a ouvi-lo e vê-lo em melhores condições.

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