Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



quinta-feira, outubro 11, 2012

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(esta era a imagem que queria conseguir ter feito upload ontem;
é assim que visualizo o fundo qunado não se está no fundo mas se tem a determinação de que se está; é assim que imagino que as pessoas com pés e cabeça ficam quando lhe atiram uma deserção à queima roupa; deserção de amizade, de respeito, de confiança, de responsabilidade, de sentido de família, de integridade. Valores muito em moda, por isso tantas versões deste quadro andam no mercado negro)
Just scream - and be numb.

quarta-feira, outubro 10, 2012

A vida é f*d*d* (mas é o melhor que podemos arranjar)

Amadurecer, pois, dizem que é bom. Pensar, processar, ouvir, e opinar apenas em assunto revisto e compilado.
Acontece que amadurecer, correndo o risco de apodrecer, nos dias que correm, é ouvir 50.000 duzias de bestialidades e incongruências por dia e não dar troco. Laissez vivre, laissez faire, le monde va pour lui même.
Não tanto assim. Já depois de Miguel Esteves Cardoso (a sua alma conservada em uísque se mantenha em descanso) ter descoberto, como todos os homens de uma certa idade mental, que o amor é f*d*d*, atrevo-me a acrescentar mais -a vida é assim todos os dias, uns mais, outros menos.
E não me apetece ponderar. Estou farta de pensar nos lados das questões e na lógica, coisa que já se finou há mais de 10 anos a esta parte.
Hoje, entre outros dias, estou farta e indignada. Tenho direito a soltar a minha indignação. Não é só minha e não tem sequer a ver com a troika nem com a economia baseada na evidência (que é como um ensaio clínico em que se consegue provar absolutamente tudo o que se quiser, estatisticamente - até que coelhos e gaspares fazem bem ao coração).
Hoje a minha indignação é diferente, mais pessoal, uma irritação profunda na consciência, no sentido de dever para com os outros, fundamentalmente no respeito, uma grande facada, e na amizade também. Caímos sempre no mesmos. paspalhos manipuláveis.
Hoje (ainda na 3ª feira), uma doente faltou à diálise. Fui sabendo os detalhes -aparentemente tomou 40 comprimidos de anticoagulante oral e, à falta de melhor, baygon (marca registada) para acompanhar.
Ou será que tomou? Não se sabe. Para quem tomou, foi rápida a chegar ao hospital, as análises não mostravam alterações compatíveis com intoxicação. Com 40 comprimidos de varfine, uma pessoa pura e simplesmente morre com uma hemorragia interna, o sangue não coagula. Ela andava com a tensão alta e a sangrar do nariz. Parece-me boa ideia. O baygon (marca registada) pode ter sido -ou não- um mau susbstituto para o 605F.
Ainda estamos nas suposições. Não consegui saber muito mais, tirando que não tinha depressão do estado de consciência, e aparentemente não sangrava. Há 12h. O telemóvel foi sabiamente desligado antes da crise.
Eu não atiro normalmente assim de rajada. A doente tem uma história pesada, mas tem uma filha menor, uma família, pessoas que se preocupam com ela na clínica, entre médicos, enfermeiros, colegas de turno, secretárias. Tendo uma doença grave desde a adolescência, vários médicos se preocuparam sempre com o melhor para ela. Hoje decidiu atirar-lhes, a todos sem excepção, um obrigadinha muito português e um balde de água fria.
Se realmente fez o que fez com ideação suicida, não me sinto capaz de lhe perdoar, nem mesmo no outro mundo. Se foi para chamar a atenção, foi uma manobra extremamente estúpida e egoísta (não se deve imitar tudo o que se vê na televisão). Fui eu que lhe passei a receita do varfine na 5ªf; hoje isso tem-me roído a cabeça o dia inteiro. Ando a pensar se sou capaz, alguma vez mais, de lhe passar uma receita.
É muito mau quebrar um ciclo de confiança. Os doentes sabem que estou ali para os ajudar, a doença deles é crónica; há um grau de interacção que tem de funcionar a longo prazo. mas aqui, o elo quebrou-se. Ela achou que não havia razão para (...) ou que ninguém a compreendia (...) ou sabia ou que ela passava(...). A isso chama-se empatia, e não é preciso espetar uma faca no coração para saber que doi.
Espero que ela reveja quantas pessoas pôs em cheque com este cenário - apetecia-me chamar-lhe outra coisa -histriónico. Psicótico, segundo consta. Há coisas que nunca estou à espera que aconteçam, mas acontecem sempre -bang.
É mais "fácil" estar a fazer suporte avançado de vida durante duas horas, como voz de comando e a partir costelas, do que receber notícias destas.
Eu própria pensava que tinha mais respeito pelas decisões do outros, por mais idiotas que parecessem. Mas nem por isso. Auto-inflingir morte ou danos permanentes por fins masoquistas, como"chamada de atenção", quando até se pode possuir um pouco de todas as pequenas riquezas do mundo (as que verdadeiramente interessam) não me comove. Demove-me e destroi-me uma amizade. Para variar, encarquilha o coração. A responsabilidade it's a bitch. Pois é, alguém havia de ter pensado nisso hoje de madrugada.
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