Algo de estúpido, ou melhor ainda, um sentimento de completa imbecilidade/inutilidade deste mundo que nos rodeia, faz-me andar de greve. Greve de tudo, até de pensar. Sobretudo de pensar. Estamos na altura do piloto automático para reduzir perdas e danos.
O piloto automático não chora não ri não se importa e sobretudo não protesta. Custa-lhe agachar se não estiver na sua natureza, mas é-lhe impossível crescer ou falar sem ser por circunstância. O piloto automático circula mas não ouve a intuição nem segue o instinto - não é coração nem razão.
Mas nem por isso o piloto automático poupa os neurónios ou o miocárdio. As células sofrem enclausuradas. O piloto automático não tem preocupações com o colesterol nem com o SNS. O piloto automático quer que todos se vão *****, de preferência bem longe, porque não gosta de proximidades e tem um desejo secreto de vazar as carótidas a qualquer intrometido, por baixo do ar que não é cool, porque também já deixou de lhe ligar.
O piloto automático joga todos os dias mas não sabe porquê; nada de muito complicado, mas supera sudokus acima da média -são automáticos, os números; o piloto automático é por isso muito parecido com a "conjuntura", a economia, a "austeridade" a crise, a sombra de nós mesmos, o nosso futuro hipotecado.
O piloto automático não adormece pela simples razão de que nunca está verdadeiramente acordado - não no sentido zombie do termo, porque senão não pagaria impostos, mas no sentido "dormente". Está sempre dormente, numb, estúpido, em estupor, porque não se revê em nada, não se parece com nada, não quer ser nada.
Vê amiúde televisão, faz zapping, pode folhear tudo mas não se concentra, o miolo já não lhe interessa. Está parado. Nada o fará andar senão o reflexo dos seu olhos, lá no fundo onde existe alguém a ver e a ficar para a fotografia.
Se o piloto automático ainda tiver a capacidade de se encontrar a si mesmo.
