Assim de repente, dá-me vontade de escrever uma data de coisas. Por devoção umas, por irritação outras.
Mas primeiro, funeral blues. É um poema que não tem igual. Lembro-me do o ter redescoberto no ano do Cambridge, já depois de ter visto Quatro Casamentos e um Funeral.
É claro que chorei no funeral, quando o John Hannah recita o poema em perfeito escocês contido.
Se o filme deixa a marca, a leitura deixa a memória. E Auden escreveu tantas tolices (lindas) acerca do amor.
Esta é a (des) encarnação do amor, ausente, presente, o que quer que seja. É alguém que se queixa, que está ferido e só, mas diz as palavras mais bonitas, indescritíveis, sobre o que era o seu amor, sobre o que lhe ficou a faltar. São raras as pessoas capazes deste blues profundo.
"... era o meu Norte, o meu Sul, meu Este e Oeste,
a minha semana de trabalho, o meu descanso de Domingo,
minha tarde, minha noite, minha fala, minha canção..."
Para além do mais, é um blues em verso, que numa tradução fiel se torna, também, intraduzível. Talvez por isso seja genial. Todos os dias.