Estou a escrever a uma hora decente, o que é estranho, ainda mais a um sábado. A minha vida é estranha, e é disso que vou escrever.
O John Lennon foi o guru atribuído a este blog, por causa da sua maravilhosa frase que sintetiza todas as frases. Ele tinha essa capacidade, na letra e na música. Não quero saber quanto ácido, quantas tripes, quantas curtes, quanto mau carácter, quão mau pai, mau filho e mau espírito santo, quanto karma e quanto desincarna.
Não quero saber ascendente, descendente ou meio-do-céu, já-lhe sei o chinês e é uma pena - é um atributo, um atributo a mais, não uma pessoa. Com o Carl Sagan é a mesma coisa, só que tive sorte de ser mais tempo sua contemporânea.
O John Lennon morreu quando eu tinha 6 anos e praticamente desconhecia os Beatles... mas já me babava com o Cosmos. São mundos à parte onde a gente se perde.
A realidade alternativa onde eu gostava de ser boa música (aplicada, etc), a realidade alternativa onde eu gostava de ser astrónoma (física) como no Contacto e astronauta (como eu pensava que eram os astronautas nos anos 70).
Algumas ilusões passam, outras ficam. Algumas tristezas ficam, outras passam. Nunca serei minimamente virtuosa em qualquer instrumento, adoro música e tenho uma perda de audição na frequência da voz humana do ouvido direito que não investigo há muito tempo.
Carl Sagan morreu com uma doença que eu estou apta a tratar - 40 a 60% das vezes, teoricamente, a curar num país de uma outra realidade. Ele tinha uma irmã compatível 6/6 (totalmente) e fez 2 transplantes de medula no melhor hospital do mundo nesse aspecto. E morreu. Poeira de estrela.
Tem piada, no outro dia eu a (tentar) fotografar estrelas com o telemóvel (2 megapx), pensei para comigo "pixel dust", pó de pixel, como é parecido com pixye dust , pozinho de perlimpimpim da Sininho.
Isto é uma das coisas que me acontece, divagar, mesmo num dia mau. Mas queria dizer, acerca dos meus gurus e das minhas coisas, I'm a Keeper, sou uma "guardadora", uma daquelas pessoas que se arrepende amargamente de deitar coisas fora (principalmente do próprio disco rígido), sou uma recolectora, guardo tudo o que vejo e gosto (vá lá, não é tudo). Guardo conchas, búzios, ouriços, fósseis, procuro-os.
Sou também uma "procuradora" (no sentido de rastreadora), o google foi inventado para mim...no país errado.
Nunca me contento com meias tintas, tenho que saber o suficiente para dominar a matéria, seja doença ou tratamento, local, livro ou filme ou pessoa, analiso divido disseco até ficar às peçazinhas como os móveis do IKEA, mas do tamanho de Legos (racionalização nórdica...). Não há problema, gosto ainda mais de os montar (com competência, diga-se de passagem) certinhos e direitinhos com estavam antes (arte de csi, não contaminar as provas).
Para que é que isto me serve? O mundo é à prova de lógica, ficava o IKEA ao contrário... Não que se notasse muito. Para me chatear, porque é irritante e ninguém está realmente interessado em explorar miudezas. Eu sei que na natureza não há 2 coisas iguais, exactamente iguais, e na diferença estará a alegria do mundo, sabendo procurá-la. Esqueço-me da árvore, da floresta? Não, irritantemente, a minha lista de espera também as contempla.
Gostava de ter uma daquelas máquinas fotográficas bestialmente bué bué bué da boas para estar sempre tlic tlic tlic perto e longe, zoom e grande angular. Interessa-me mais guardar imagens que sons ou cheiros. Pensamentos, esses ficam cá dentro, olfacto, muito ultrapassado nas laqueações de vasos do nariz (no entanto, acho, que o subestimo), audição, o que quero fica cá muito dentro, é irónico, tenho uma queda para timbres de voz e para escalas. Posso dizer que facilmente implico ou não com uma pessoa consoante a voz, é talvez a característica que primeiro me atinge (conscientemente). O que curiosamente não tem nada a ver com os pressupostos científicos de ponta. O olhar, gosto de guardar como se fosse um outro olhar para além do meu, daí a doidice das fotografias (dará por si só muitos temas).
I'm a keeper, gosto de guardar de ver de integrar de ouvir, de fazer funcionar de dar sentido de empurrar, de falar e de dar. Quando se é um bom keeper também se é um bom giver. Pena que o mercado esteja tão mau.
E não, realmente não compensa, só complica, não vejo uma única vantagem evolutiva em termos biológicos ou humanos que possa trazer, na actual conjuntura. Apesar da dor de cabeça, a conjuntura que se lixe.