Agora uma parte de mim não sabe
e a outra não quer pensar
uma parte de mim recusa
e a outra finge que não vê
Uma parte de mim desespera,
a outra cede ao cansaço;
uma parte de mim deixou de saber o caminho,
a outra não quer dar um passo
Uma parte de mim quer fugir,
as duas partes sabem que estou presa
atolada num rio salgado, lama espessa
a que foi costumeiro chamar vida antes de chamar desastre
o mundo que senti real
ou real é demais para que o consiga viver
ou se tornou em miragem torta
lá
longe
onde
não chego
(nem faço tenções de chegar)
quero desligar algo, abandonar algo,
fazer de conta que algo
nada é algo nada é tudo
encarcerado tudo é nada
nada soa nada grita
nada fala nada lança um braço
nada me agarra
não vejo lá em baixo o fundo (que não há)
uma parte de mim quer desistir;
a outra gostaria de gritar-
estão as duas perdidas no medo
de
existir.