Há tanto por dizer, que se amontoa às camadas. Estou encerrada por dentro. Não é uma questão de apetecer, querer. É uma questão de anestesiar, sedar, curarizar, induzir o sono, deixar de me preocupar onde começa (ou onde acaba) a justiça, a preguiça, a vergonha. É a moínha ouvir-se tão alto que nem uma dor forte a pudesse aniquilar (á la House).
É saber que esta viagem será indefectivelmente pior que as outras, porque já resistiu a mais defesas e filtros, ou seja, por selecção adaptativa, contornou as resistências da hospedeira. A hospedeira por agora não se interessa. Começa a viagem com uns sapatos de cimento e no Tejo profundo.
Como não cabe no meu sistema de crenças que um Deus bom tenha punições eternas para aqueles que criou, o Inferno religioso é para mim uma metáfora. O Inferno real somos nós que o fazemos, de diversas maneiras. E eu vou viajar pelo meu.
O meu é frio, frio, cinzento quase a preto e branco, mas com a recordação do que já teve cores. É baço e vazio, como uns olhos sem alma. Passa por lá alguma música, no sentido apenas de me azucrinar, música de que gosto, não allegros mas adagios, cordas e não piano. Não há flores, as árvores estão nuas, é sempre inverno cinzento, tudo hiberna. Nunca neva, porque seria uma novidade feliz a despromover o evento. Finalmente, não há ninguém, a não ser eu, e o ar gelado (e a minha cabeça gelada também).
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Portanto, por dias indeterminados, não sei se escrevo, se escreverei, ou quando voltarei a fazê-lo. Tenho que parar de pensar que estou atrasada como o coelho da Alice. Tenho que parar. Para tentar aquecer. É estranho. Não é lógico. Não sei como sair da teia sem tentar. Posso até escrever posts do Inferno, mas não sei. "I know not what tomorrow will bring" seems fine by me.