Hoje uma senhora muito simpática e, graças a Deus, não muito doente, disse-me que estou sempre muito bem disposta, que devia haver mais gente como eu... Eu respondi-lhe que quem está ao pé de mim é que me faz bem ou mal disposta, e no caso dela, era impossível não me sentir bem disposta.
Eu, que vejo os ângulos todos, comparo, corrijo, e me acho picuinhas, trago boa disposição! Mal comparada é como o bocejar...pega-se facilmente.
Geralmente, quando trabalho estou bem disposta, a menos que me calhe um verdadeiro cromo pela frente (e me divirto a pensar no bom que era ter um alçapão como o Tio Patinhas, ou uma caçadeira de dois canos, para enfiar na cara dos Metralhas ou da Maga Patológika) e são poucos os dias de consulta em que não acabo satisfeita, embora às vezes moída.
Há coisas que compensam no dar e receber sem esperar ao mesmo tempo, muitas. Pena que cada vez menos gente o sinta ou sinta disponibilidade/necessidade de o fazer. Não é dar parte de fraco/a. É estar. Estar simplesmente. Disponível.
Cortar uma fatia do horário. Ser como os amigos e as estrelas que estão sempre lá, longe, mas tão perto. Aperceber-se que cada dia não tem de ser um combate gorado com a vida, fight or flight, lutar ou fugir. Não andar sempre à beira dessa luta/fuga. Não resvair sempre para a fuga. É mais cómodo sobreviver a fugir do que a lutar. É um combate sem confronto, sem decisão, sem futuro. Cada dia que passa sem se ouvir o tempo, sem se ir à luta, é um dia que não se viveu.
E quando digo ir à luta, quero dizer lutar por aquilo que sonhamos/pensamos/acreditamos e por aqueles que estimamos. Quem me iria resgatar ao mundo inferior ou ao inferno? Quem estaria eu disposta a resgatar? Há muitas pessoas que ficariam surpreendidas, e eu, obviamente, como sempre, passaria por parva.Nem é preciso ir tão longe para perceber que o sou, todos os dias.
Uma parva bem disposta que acredita.