No século passado, eu lembro-me, não vivíamos dentro de momentos. Agora são os momentos os factos ou ódios dos nossos dias. Ontem foi a hora da terra. Haverá fotografias, das velas. De resto, bastava abrir as janelas, os outros prédios encandeavam.
Foi só uma hora. É incrível como pássa depressa. Num fim de semana onde se perde (no relógio oficial) uma hora. Num domingo que é dia do teatro ( o que é isso). Num treino para "eleições livres e democráticas", viu-se que até nos clubes há gente "à rasca". Pena é ser no meu clube. É ser um fragmento da baixa dignidade a que chegámos.
Democracia foi um conceito. Não tem nada a ver com gestão da coisa pública (uns malandros com bolsos sem fundo). Não tem nada a ver com representatividade. Não tem nada a vem com sintonia. Estamos apertados lá fora, onde uma UE mostra que se é europeia não tem união, com países na fila para a bancarrota e sem vontade (política e económica) de os salvar.
Japão que anda no fio da navalha, agora que sabemos que Chernobyl continua, 25 anos depois (!!) a por-nos todos em risco. São riscos a mias, dentro de momentos.
Lembro-me de ter começado a ler, para aí aos 13 anos, com a mesma avidez com que devorei Cosmos e o Cérebro de Broca, um outro livro de Carl Sagan, "O caminho que nenhum homem trilhou", em co-autoria. Era sobre a eventualidade de uma guerra (ou desastre) nuclear e suas consequências. Não o consegui acabar. Aliás, não consegui sequer ler muito da descrição da nossa morte colectiva (da vida na terra) e do inverno nuclear estéril.
A Estrada, de Cormac McCarthy, e respectivo filme (não tanto em tons cinza escuro-poeira), trazem reminescências desse futuro. Dentro de momentos.
Por cá, espera-se, por vezes, nos sites institucionais, para aprender (se não se conseguiu até agora), como o simplex funciona em rede (não funciona, é simples). É trágica, a maneira como os políticos se transformaram em excrescências e os parvos que somos continuamos a não reagir.
(o mais comezinho, que é a irritação do vizinho, isso sim, já dá tema para os homens ditos da luta; resta perguntar - luta, de quê, porquê, para quê - para os desnortear; eles pura e simplesmente encarnam o chorinho nacional com alegria & youtube) Resta também perguntar, quais homens, é que não os vejo. Dentro de momentos.