São vários meses de hibernação, pelo frio, pelo calor, pela indiferença, pela raiva, pela impotência. Dormir, um dormir pejado de sonhos (bons & maus) persegue-me, enrola-me. É melhor não pensar, quando pensar é tão mau. Pensar só às vezes.
Que tal, quase viver ao contrário, como se o estado acordado não fosse para levar a sério e dormir fosse viver. De facto, dormir É viver. Morremos mais depressa sob total ausência de sono do que de comida. Sono e água, é tudo. É escapista, e embora reconfortante (os gatos que o digam, cheios de zen, dormem 20h por dia e sonham quase todo o tempo - não os alcançamos nem em bebés), um ninho, um regalo, é também andar para trás (ficando parado).
Não me apetece pensar no que se pássa "lá fora", tenho demasiado atrito, anticorpos, o que seja. Não quero por os pauzinhos nem ao sol nem à chuva nem ao calor nem ao frio. Dormir pode proteger talvez o cérebro (de si próprio), mas desmineraliza, atrofia (ossos, músculos). Dormir cála o que queremos dizer sem podermos, mas também tira a força para o virmos a fazer.
Hipnotiza, balança, apaga. Fica em stand-by, a gastar à mesma, mas sem fazer nada. Acordar, quando se tem ritmos circadianos de trabalho que variam todos os dias, é uma espécie de ressaca seguida de síndrome de abstinência. A realidade ácida e corrosiva está lá na mesma. A força não.
Dormir implica pensar mas não escrever. Implica deixar de ter método, implica deixar tudo para uma outra vez. Vai para o Entrudo, essa festa (?) passada em trabalho.
Entretanto, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Acordei.