explodindo para o altíssimo
em surdina
Parece que passaram cinco anos. Não consigo desligar o comparativo.Mas lembro-me menos. Tive que ver de manhã quantos anos tinham passado, não tinha a certeza. Lembro-me de ver colegas e enfermeiras/ enfermeiros espanhóis agarrados ao telemóvel e à TVE o dia inteiro. Colados. Não estavam tranquilos, mas não eram a face do medo. Não sei se haveria algum mesmo de Madrid. Um colega é de lá perto, perto de Toledo, o que não é bem a mesma coisa. Uma colega do País Basco, com um feitiozinho irritante, a quem eu chamava Etarra no gozo andava sorumbática, do tipo não olhem para mim que não fiz nada. E foi assim.
Não foi mediático, mas mudou até a Hola por mais de um número. Não dava para um filme mas morreram parece que 191 pessoas (contra mais de 2000...). É muita gente, mais que muitos acidentes de avião, feridos nem se contam, há hora de ponta, as bombas invadiram o metro, dia onze.
Onze como onze, onze antes das eleições, onze que podia ser ETA ou AlQaeda, o que interessa, é terrorismo. Espalhou o caos em Madrid, mas os nossos irmãos madrilenos, num acesso de civilidade que seria difícil imaginar deste lado da fronteira, organizaram-se ordeiramente em longas filas para dar sangue.
É estranho o meu distanciamento do caso, não por juízo de valores e não ser "emocionante qbp como pessoas a cair de altas torres apanhadas por aviões". Não, e gostava de me sentir tão madrilena como eles neste dia. Nunca estive em Madrid, nunca fui a Espanha sem ser a Badajoz, não tenho nada contra espanhóis, não nasci a 18 de Março. 11, oposto solar de 11, Setembro e Março em oposição. Virgem e Peixes, os que não se entendem, frente a frente.
No outro 11 senti-me agredida, tinha estado lá, gosto de aviões, gosto de Nova Iorque (embora suspeite que as minhas memórias e fotografias de sítios que deixaram de existiram, mais que o gozo da viagem tenham aumentado a nostalgia), percebo melhor inglês do que espanhol, pasme-se, não técnicos. Tão longe aqui tão perto, tão perto lá tão longe. Uma semana antes dos meus anos. Deve ser essa vontade de esganar o Bin Laden por procuração (ou quem quer que o tenha feito) por me ter estragado os anos, todos os anos, todos os Setembros, enquanto me lembrar.
Setembro é mês de lembranças (do Verão), Março é mês de esperança (da Primavera). O século 21 está para todos os medos. Evolução no terror foram os ataques na Índia.
Depois do onze. Porque o segundo onze ficará para sempre como segundo onze, aconteceu numa capital habituada a atentados, aconteceu no Al Andaluz, Ibéria, que já foi árabe, porque o modus operandi não encaixa, não me cheira tão facilmente a Al Qaeda, que também não tenho a certeza que não seja uma farsa.
Mas foi, como todos os atentados terroristas, planeado para o máximo impacto. À hora torpe de ir para o emprego da qual os civis inocentes que apanham sempre e em cheio não podiam escapar. Gente houve que perdeu braços e pernas, outros paraplégicos, outros com medo do metropolitano, é tão grande a lista do medo instalado pela qual alguns de nós estão prontos a abdicar de tantos direitos.
Hoje não consigo escrever um texto coerente sobre o assunto, concluo. Tenho um peso na cabeça e um trabalho do tamanho do mundo para fazer em menos horas que as necessárias. Tenho os olhos cansados apesar dos óculos de tanto olhar para o écran. Tudo tem brilho a mais. A televisão fala demais, há serial killers a mais. Este onze é pouco demais, o que acaba por ser uma benção, já que o outro é como se nascesse comigo em cada ano, quer queira, quer não.