Hoje o mundo está estranho diluído e frio sem vírgulas nem pausas.
A minha Avó contou-me várias vezes, aliás afiançou-me que os fantasmas existem, estão cá e fazem os vivos sentir-se arrepiados e estranhos. Quando ela era pequena morava no Bairro Alto, não a coqueluche de hoje, mas de outra maneira muito diferente, um bairro com vida. Ela contou-me que ao lusco-fusco, antes de ser bem noite, contra as velas se viam sombras de pessoas sem corpo para fazer frente à luz. E não podia ser outra coisa qualquer não senhora.
Está frio muito frio e chove formam-se poças leitos rios mares. Tenho frio quero rodear-me de velas acesas. Hoje vi pessoas dissolverem-se e tornarem-se fantasmas. Positivo/negativo, gémeas univitelinas de fotografia convencional mas não normal. No princípio do século XX, um inglês decidiu que havia de fotografar fadas. E fotografou. Mas ninguém senão ele as via nas fotografias. Talvez as fadas se dissolvam e os fantasmas gostem de velas.
Mas as pessoas dissolvem-se, os fantasmas são líquidos, como o homem do Magritte ceci n'est pas une pipe chovendo do céu com um parapluie? O inacreditável é que eu não acredito em fantasmas, embora certas fotografias do google me tenham feito arrepios na espinha.