Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



domingo, agosto 02, 2009

absolut python

Já vai para que tempos que ando para escrever sobre este bando. Conheci-os, salvo seja, para aí aos 12 anos (sou portanto, uma second rate python, ie Bean e Blackadder antes de PythonFawlty Towers, um pouco, e Allo Allo, muito).

Já me tinha fartado por essa altura de ver o telejornal, embora as opções fossem limitadas - 1986, antes da febre do serviço público, paranoicas e cabo. Por consequência, via a essa hora a RTP2 deliciando-me com a 5ª dimensão, Hitchcock apresenta, Uma Família às Direitas... Um dia de Verão houve em que uma destas faltou, já não me lembro qual, e apareceram os Malucos do Circo.

Depois de vários pensamentos "mas que diabo?", fui-me tornando fã, não fatalmente, mas fã. Só há relativamente poucos anos vi todos os filmes que eles vieram a fazer, de culto absoluto, embora quando passei pelo Cambridge fossem já uma referência bem presente para todos os aprendizes de bife bem passado.

Vem isto a propósito dos Monty Python à Portuguesa, muitíssimo bem, por ordem decrescente de altura, Bruno Nogueira, António Feio, Miguel Guilherme, Jorge Mourato e José Pedro Gomes; não via outros tarados a fazerem este tipo de comédia, assim como o Nuno Markl a alindar os textos. Acho que foi no ano passado, única vez em que entrei no Casino de Lisboa. Foi mesmo bom, porque nenhum deles se faz passar por nenhum dos originais para efeitos de piada.

Porque realmente, pegando no busílis, que são dois livros, A Filosofia segundo os Monty Python e Monty Python por Monty Python, fiquei um bocado shaken, e muito stirred.

O primeiro livro, quem somos, para onde vamos, versão de interpretação séria de humor britânico, consegue provar que um bom Python, se quiser, até prova as causas de existência (ou desistência) de Deus (conforme estiver para aí virado).

O segundo é estarrecedor. A voz é dada aos próprios, upper middle class Oxford & Cambridge  + um americano. Comparam-se aos Beatles. Hélas, não podem uns com os outros, desde sempre. Foi assim que funcionou. Oxford (Palin e Jones) contra Cambridge (Cleese e Chapman), mais americano de artes plásticas desertor do Vietname, pró-Oxford (Gilliam) e ainda the silly bitch que sempre deu pª o lado que lhe apeteceu (Idle). Nunca se deram bem. Da discussão nasceu estranhamente a boa luz, a piada SEM o punchline, o humor que transformava o real em absurdo...

Foram todos "irmãos" de cursos falhados, penso que Palin e Jones de Letras ou História, Gilliam de Ciência Política (?), Idle nem sei de quê, Cleese de Direito e Chapman de Medicina. Todos concordam que Chapman era um génio (quase sempre em trip alcoólica) porque Chapman está morto. Depois, atiram-se uns aos outros, excepto Palin e os seus diários, que tentava por todos de acordo. Eventualmente, após 4 bons filmes (Cleese discorda), cheios de royalties, deixaram de se aturar, ponto. Cleese ficou no registo de humor BBC, Idle passou os Pythons para a Broadway, Palin já deu várias voltas ao planeta na horizontal, vertical e diagonal pela BBC, Jones compõe música, gosta de Portugal e faz documentários sobre História, e Gilliam realiza filmes, uns fantásticos (Brazil, O Rei Pescador, Os Irmãos Grimm), outros que não vêem a luz do dia.

A soma é melhor que as partes? Foi diferente. Foram realmente os Beatles da televisão? Isso, e muito mais, cativaram audiências britânicas e americanas (os conservadores passaram-se), e, mais importante que isso, as piadas, a mensagem (subversiva ou o que se quiser chamar-lhe) estão mais fresquinhas que se tivessem nascido hoje.

Digo mais. Hoje ninguém tinha um pingo de cabeça para atinar com elas. Essa é que é essa.
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