Como é que no meio do nada, aparece um dia tão cheio? Porque sim e pronto. Coisas há que estão acima da humana explicação.
Primeiro, começando pelo fim, o Luar de Janeiro foi tão pouco, tão húmido e com tanto véu - tanto que, horas depois, já tipicamente chovia. A fotografia é emprestada do sr. Abrupto, em dia de concerto até a Lua tem que diminuir o protagonismo.
Segundo, nunca vi uma concentração tão grande de casacos de pele/pseudo-pele/"estou pouco me lixando". Numa casa tão quente. A Gulbenkian tem uma excelente sala de concertos. Infelizmente o público podia>devia>tinha a obrigação de ser melhor e menos coquette. Estive o tempo todo a pensar "tanta Marta...", ou melhor, como-seria-bom-ter-um-sprayzinho-daqueles-estraga-tudo. Mas depois não via o Lugansky. Shame on me.
Terceiro, vi/ouvi/falei com provavelmente o melhor pianista do mundo (marca registada). Sendo melga profissional de autógrafos na defunta Festa da Música, conheci o russo imberbe & loiro (que devia andar por volta dos 29-30 anos, em 2001) na Festa da Música Russa em que ele tocou Rachmaninov ("O" Rach3). E depois cá fora tinha um ar tão timidozinho que corava ao ver as capas dos CDs.
No ano passado veio tocar Liszt e Chopin ao Palácio Nacional de Sintra (em Junho; ele gosta muito de Sintra) e lá conversámos enquanto ele autografava. Ele faz ponto de honra em conversar com os ouvintes que quiserem, logo depois do trabalho todo; em Sintra ainda estava de white tie, mas já falava muito mais. Então desta vez reuni coragem para lhe perguntar se ele já se tinha visto no you tube a ensaiar o rach3 de t-shirt e calções.
"Não tenho muito tempo para a internet...mas isso foi quando...a sério?, t-shirt verde e calções?...o Rach 3? não, não...ahhh piratas, piratas"! Em inglês ou em francês, you name it. Prometeu concerto em t-shirt, a sério. E não, não tem as mãos no seguro.
Bem, já agora, convém dizer que o Janacek, Chopin, Rachmaninov e 3 encores foram exactamente o que eu esperava que fossem, brilhantes. O homem, as mãos, são a música. É assim tão bom.
Bem, já agora, convém dizer que o Janacek, Chopin, Rachmaninov e 3 encores foram exactamente o que eu esperava que fossem, brilhantes. O homem, as mãos, são a música. É assim tão bom.
(e porque se está a tornar uma época altamente produtiva, infelizmente, durante a Sonata do Rachmaninov, desatei a chorar nada furtivas lácrimas e estava a pensar que ainda tinha que me surripar até à saída lateral, que não era longe; não foi preciso, a música que nos embala para outros pensamentos e outras histórias tb nos trás de volta, e voltei, fora ou dentro do tempo).