Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



segunda-feira, setembro 08, 2008

And now for something completely different...

Acabei de ler um livro, facto já de si inédito, uma vez que nos últimos dois meses foram mais os que comecei, e que foram ficando em stand-by, do que os que acabei. Na lista de espera ficam ainda Umberto Eco, Pablo Neruda, Joseph Mitchell e Susan Sontag.

Há espaço, há tempo(?), haverá disponibilidade...

Acabei de ler Os Palhaços de Deus, de Morris West. Fiquei de rastos. Não faz completamente o meu género porque mete uma ou outra subtrama que não aquece nem arrefece, e o enorme McGuffin sobre o qual se baseia é um pouco...difícil de digerir.

No entanto, é fácil descortinar (basta ler uma página), que não é Dan Brown et al, que atira uma espécie de quase ideia que se calhar pode quase ser verdade se uma data de outras quase verdades pudessem quase existir (vende muito e não leva com muitos processos da opus dei). Não, este homem trata o boi (o Vaticano) pelos cornos, no que é aliás especialista. Escreve muito bem e consegue ser tanto filosofo como poeta. Misturar a parte mais intimista com a política internacional do pé para a mão (os americanos são piores, os agentes da CIA quase que se arrependem, mas depois arrependem-se de se arrependerem, é como se fizessem o trabalho de Judas).

Finalmente a trama, é ao mesmo tempo boa e insuficiente. A mensagem não tão subliminar é a de que o Vaticano se devia deixar de rococós e vir ter com os fieis (ideia perigosíssima...baseada no senso comum), que o pensamento cristão devia ser baseado nos crentes e na sociedade e comunidade de crentes e não no sr. cardeal que veste Prada (28 anos depois). Tudo bem. O pior é que o McGuffin se torna personagem, o fim do mundo e o Filho do Senhor, que cirurgicamente se fartaram da treta do livre arbítrio e decidiram trucidar-nos, salvo uns tantos que passam a viver como os primitivos cristãos.

 Se é preciso que do caos venha a ordem, porquê deste caos, porquê sermos todos palhaços de Deus, porquê as crianças com trissomia 21 serem os petits buffons? O meu Deus não conhece o mal, ama-nos e ao seu filho, que não vem para negociar mais uns dias antes do fim do mundo e dizer este pode passar este não. Torna-se num soldado nazi à porta do supremo campo de concentração... Mas Ele não morreu para nos salvar (a todos)?

É-me portanto um pouco difícil engolir o final, embora admita que é corajoso ( o tio Dan punha algum ET a salvar-nos com muito glamour...). É feito de desespero, e de descrença em nós próprios, e se em 1981 havia a guerra fria e as ogivas nucleares, a bem dizer, há hoje alguma coisa que nos "salve" mais do fim do mundo? Simplesmente suspeito que ele não se vai fazer anunciar, vai acontecendo todos os dias.

A premissa de que se as pessoas soubessem que o mundo ia acabar se suicidariam em larga escala é lógica, mas também implica uma certa dose de lógica interna que não sei se existiria nos dias de hoje, sendo remetida para aquelas seitas marginais.

Não me considero marginal como cristã; acredito em Deus pelo coração, não é coisa que se prove; pratico-o sempre que posso (muito mais do que rezar o terço) com todas as falhas inerentes. Não posso acreditar neste fim. É um bom livro, excessivamente triste e pessimista (embora às vezes tente amenizar a dureza dos temas). Brinque-se com o Vaticano, mas não com os Palhaços.
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