Pedras Rolantes

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segunda-feira, setembro 15, 2008

A guerra, agora a frio - da Normandia de Ryan a Dunquerque de Expiação

Penso que não erro muito ao dizer que entre estes filmes se passaram aproximadamente 10 anos. Têm uma guerra em comum e tudo diferente. Spielberg vs BBC, ianques vs bifes, história de combate vs história de amor. Um é baseado num romance, outro numa história que podia ser verdadeira. Acabam os dois mal, com é óbvio, acabam todos como heróis? Nem tanto.
Spielberg devia ter cortado a cena do cemitério militar, mas foge-lhe sempre a câmara para os finais redundantes... depois de um filme tão tocante, não havia necessidade. O desembarque da Normandia é visto de uma forma brutal, não a preto e branco, mas quase em sanguínea, ao nível dos soldados que se vão descobrindo como carne para canhão. Não são os aliados em todas a sua glória, mas são os aliados em todo o seu poder descontrolado.
A patrulha do capitão Miller, o homem como os outros que até era professor, e agora treme descontroladamente, não é divina, enviada do céu para matar nazis e salvar a humanidade e arredores. É humana também. Por vezes nem sabem como reagir perante um inimigo que também tem cara e braços e pernas como eles.
Dez anos depois, a humanidade afundou-se, em Dunquerque são os ingleses e franceses que retiram, que fogem, que destroem paradeixar ao inimigo apenas terra queimada. O livro é ainda mais literal na agonia da desistência antes de uma verdadeira batalha. Os ingleses nem têm expediente para retirar os seus soldados do continente. Acabam de se ver sozinhos na guerra contra todos e a França (e a Bélgica) caíram com o sopro. Tanto que a única opção é fugir, até ver o mar, e na praia, desesperar.
Um fumo negro. O soldado mais que raso Ronnie-que-podia-ter-sido-médico-e-ter-vivido-o-seu-grande-amor-não-fosse-ter-sido-preso-e-trocado-a-prisão-pelo-exército mantém-se vivo (ou morto) perante a miragem de regressar, de voltar para. Um coro de soldados canta a cantiga mais triste que é possível. Não volta para. Era tudo miragem. Do outro lado, Londres é bombardeada e nos hospitais vêem-se calamidades. Uma expiação paralela à linha central do romance seria - Porque é que Ronnie se alistou, sabendo que iria combater numa guerra imensa? Para regressar? Numa altura em que já se suspeitava o que significava exactamente regressar (como a geração anterior, ao regressar das trincheiras)? Ou para se perder? Suspeito que todo o filme, o seu tom, é feito desta desencantada desistência.
O 1º filme ganhou óscares (menos o "escândalo" de melhor filme, bastante untado pelos produtores de Shakespeare in Love), o 2º globos de ouro e BAFTA, nada de óscares, tirando a partitura original. Isto diz muito acerca das actuais posições europeia e americana perante "os mundos" em que hoje o mundo se divide.
Já não há humanidade nem esperança. Desperdício, desespero, nunca voltar.
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