Estranhamente, são as histórias mais "desviantes" que me cativam... a mim e aos produtores de cinema - já há calendário para o filme baseado neste livro.
É lindo o livro, não sei se o filme vai conseguir captar toda a perspectiva do mundo visto por um rapaz de 9 anos (tal como em ET, vemos tudo pelos olhos de Elliott).
Bruno tem 9 anos, uma família dir-se-ía quase funcional, embora a Mãe abuse no licor, o pai ande fardado e a irmão mais velha não lhe ligue.
Bruno vivia em Berlim e tinha avós de que gostava muito. Por motivos profissionais, a família muda-se para longe, acompanhando o pai nas novas funções.
Aí entra o Fúria, Acho-vil e as montanhas de pessoas que estão do outro lado da vedação com pijamas às riscas. E Shmuel, o rapaz-gémeo que nasceu no mesmo dia que Bruno, mas acabou do outro lado da História.
É uma história de atrocidades vivida numa primeira pessoa que se encontra na paz dos anjos e só sabe que há judeus, mas não o que são. O próprio Shmuel é tão politicamente correcto como um rapaz de 9 anos pode ser.
O resto é uma história, feita para convencer, e não para comover, todas as idades, e não mais um estilo Harry Potter.
Bruno pensa muitas vezes em passar para o outro lado, porque precisa de amigos, de pessoas, ele vê os prisioneiros famintos e exaustos como pessoas, está longe da propaganda e do assobio da raça.
Até que um dia não volta para casa. Muito mais tarde, seguimos com o pai, comandante em Acho-vil, até ao sítio da vedação que separa a superioridade ariana dos bichos, onde encontraram a roupa de Bruno. E vemos com ele o sítio por onde Bruno se esgueirou para o lado errado da Civilização. E imaginamos com ele o que aconteceu quando algumas portas se fecharam e a luz se apagou.
"Este é o fim da história de Bruno e da sua família. Claro que tudo isto aconteceu há muito tempo e nada parecido poderá voltar a acontecer.
Não nos dias de hoje, não na época em que vivemos." 2006
Be. Very. Afraid.
Entretanto, agarre-se o livro, um primor.