Um Mia Couto diferente do literário: tratam-se de textos de opinião, publicados em revistas ou escritos para convenções. Posso dizer que me surpreende pela novidade de não por os Moçambicanos a falar por si próprios aquela língua tão feita de sonho, céu e África; aqui quem fala é o próprio, em português corrente.
Posso dizer que a capacidade de baralhar o alfabeto e dele saírem delícias de palavras para ler e para ouvir é uma das características de que mais gosto em Mia Couto. Aqui surge coloquial, colocando questões prementes sobre o futuro de África, sobre as relações entre Ciência e Literatura (o que mais gostei), sobre a sua visão do mundo e do seu próprio país (algumas farpas bem lançadas).
Penso que o problema recorrente da identidade Africana se põe a qualquer povo que tenha um número de etnias suficiente esmagador. Portugal é o paraíso dos santos, Homo lusitanus (excepto alguns transviados como o Ti Alberto João). Já Espanha tem galegos, catalães, bascos, cada um a puxar a sua meia. Imagine-se agora a Europa inteira, onde fica o nosso Europeísmo? Só se fôr mesmo na comissão. A característica da Europa é ser Velha.
A característica das Américas é serem um melting pot, um caldo, uma mistura de água com azeite, é a procura da própria identidade.
África é muito diferente, está dividida em muitos países, fronteiras geográficas das ex-colónias, que não traduzem minimamente a sua etnicidade; África é diversidade, e fome e doença também, e sobretudo um sentimento de indignação pela diferença.
Por alguma razão, Moçambique já não é oficialmente PALOP, Moçambique não existe. Existe Mozambique, membro da Commonwealth. E isto diz tudo.
Quanto ao resto, apesar de tudo, uma vez que têm que haver dois, gosto mais do outro Mia.