Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



quarta-feira, novembro 11, 2009

suspended animation

Não vou continuar. Pelo menos não vou continuar nestes moldes. Não sou pessoa de diários, que nunca os tive, sou pessoa de comentários, mas são demasiado grandes. Não nasci para sms, tweetar, fazer "vida" no hi5 ou facebook.
Não nasci para virtual. O espaço virtual em que mais me empenhei foi este, porque é meu e me revejo, mesmo nas atitudes que já mudei, porque é honesto e catártico. Vem da cabeça e do coração.
Acontece que anda atrasado, e muito, em relação à minha realidade e me vejo impossibilitada de o por em dia, sem estar ligada a um pc 24 sobre 24 horas, o que pode ser normal para o Pacheco Pereira, mas para mim não é. 
Trabalho com computadores, a internet é uma ferramenta magnífica, mas é isso mesmo. Fica por aí. É consultável, é imprimível, mas não é real. É uma base de dados mas não é cultura, e não é companhia.
Apetece-me escrever a sério, em papel, ou em Word, que é o sucedâneo das máquinas de escrever. Tenho muito para escrever em papel, que considero, apesar de perecível, muito mais nobre e inalterável . Mais real, neste tempo em que as verdades & alternativas se sobrepõem.
Por consequência, o tempo que tenho não chega, e ainda agora postei várias mensagens incompletas que andam a vaguear há meses, porque me são importantes.
O livro Musicofilia, por exemplo, como vários livros de Italo Calvino, de que me tornei incontestável fã, e de Machado de Assis, e de Albert Camus, outros livros, de Bruce Chatwin, Mia Couto, Vinicius & Pessoa, tantos que me esquecerão nesta lista dos lidos recentemente. Música da mesma maneira, nem vale a pena referir tanta coisa boa. Os lugares que vi, portugueses de Portugal, aqui tão perto, entre Mafra e o Samouco, passando por baixo da ponte Vasco da Gama e entrando pelo leito do Tejo adentro, pronta a alcançar os flamingos quase na banda de cá, na maré baixa.
Poderia dizer - Sim, andei no fundo do Tejo, apesar de nadar como um prego e não tive que me vacinar contra todas as pragas, como o Prof. Marcelo quando decidiu numa outra encarnação tomar banho em troca de uma Câmara. E continuar uma longa história de um belo passeio, mas nunca mais acabava.
Podia contar que tenho dois afilhados e nenhum deles é da minha espécie, mas não é por isso que me sinto menos orgulhosa deles (Filipa e Carocho). Podia contar que não acredito que os animais sejam maltratados na União Zoófila, porque já lá fui visitar a Filipa várias vezes e pude ver que são cada vez mais, mas nas melhores condições possíveis, vivendo apenas de "dádivas benévolas".
Podia perguntar o que é uma dádiva benévola e desinteressada hoje em dia. Podia contar as aventuras eleitorais que não me tiraram o sono, e a certificação de que pela bússola eleitoral online não sou direita nem esquerda (absoluto eixo dos yyy) e ligeiramente a dar para o conservador (seja lá o que isso queira dizer), mais perto do Partido da Terra e mais longe do BE (julgava que o partido de que estivesse mais longe fosse aquele dos skins, hélas, até já votei no BE...). Podia dizer que as eleições e os gatos e o Cavaco foram uma grande palhaçada, só não dão é vontade de rir.
Podia dizer que tenho mais coisas em comum com o Ricardo Araújo Pereira & Paulo Portas do que desconfiava (& sobretudo com o Paulo Portas, mas nada a ver com a Sharon Stone, graças a Deus).

Ok. Eu digo esta. Somos todos tigres chineses, eu e o RAP do mesmo ano, PP com mais 12, obviamente; andámos todos, sim todos, pelo menos alguns anos no mesmo colégio -S. João de Brito; eles os dois em humanísticas, eu em saúde; tivémos os 3, sim, os três, a mesma professora de Português, que achava que os nabos de ciências não sabiam nada da disciplina, e para a qual ter que engolir um 18 deve ter sido indigesto (não sei quanto é que eles tiveram, o RAP ía um ano atrás e nem me lembro dele, tirando no anuário; do Portas ela dizia sempre o meu Paulo, mas tb nessa altura ele ainda fingia bem que era jornalista). E o PP é cinéfilo, virginiano e organizado nas ideias. Não me puxem, que já é demais, acabaram as semelhanças.

Podia dizer como vai o meu status freelancer, e discorrer àcerca da adaptação e capacidade de encaixe que é preciso ter para viver esta vida. Podia falar de netos.
Podia falar do facto de ter perdido o melhor chefe que alguma vez houve à face do mundo e arredores sem perceber porquê. Mas estou demasiado ocupada a não perder a pessoa que está por trás do chefe, que ele nunca gostou de ser.
Podia falar sobre a teoria da evolução e variações que afirmam que pelo facto de nos termos tornado sedentários e produzirmos excedentes, inventámos o capitalismo, mas isso parece-me mesmo muito idiota. Ainda hoje há caçadores/recolectores em todos nós, somos todos cro-magnons que não se emanciparam e ficaram presos nas ratoeiras que nós próprios e este "mundo moderno" tratámos de inventar.
Podia afirmar plenamente que sou uma não-alinhada, militâncias fazem-me urticária na alma e só milito pelo Sporting, agora e sempre. E que sou recolectora, principalmente, jardineira, observadora e ouvinte.
E por isso mesmo, para ter tempo para ver, ouvir, pensar e fazer, o blog ficará a partir desta data com uma prioridade diferente.
Em animação suspensa. É preciso chamar mais pessoas à vida real sem ser por meios virtuais. Por isso vou repensá-lo com calma. Para estimular e para fazer pensar, não para ser terapêutico para mim. Não haverá lista de espera, apesar de o Raul Solnado ter morrido e ter visto finalmente o Wall-E, filme da Pixar que ninguém deveria perder.
Vou deixar o meu livrodepoemas amadurecer.
Vou voltando para o regar, podar, falar com ele, recomeçar. Diferente.


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