Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



terça-feira, agosto 30, 2011

Sleep

o surreal existe. o mundo é a fonte de todos os medos e todas as preocupações. estar acordado, dormente ou a dormir, cantando sozinhos perante o Youtube ou num coro global de 2500 pessoas? o impossível possível, o improvável banal.
I close my eyes & go to sleep.



The evening hangs beneath the moon
A silver thread on darkened dune
With closing eyes and resting head
I know that sleep is coming soon

Upon my pillow, safe in bed,
A thousand pictures fill my head,
I cannot sleep, my minds aflight,
And yet my limbs seem made of lead

If there are noises in the night,
A frightening shadow, flickering light…
Then I surrender unto sleep,
Where clouds of dream give second sight.

What dreams may come, both dark and deep
Of flying wings and soaring leap
As I surrender unto sleep
As I surrender unto sleep.
Charles Anthony Silvestri, 1965-present

sábado, agosto 20, 2011

just

E por vezes as noites duram meses


David Mourão-Ferreira

"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos"

(...)

terça-feira, agosto 16, 2011

Por ver morrer uma pomba

Anteontem saí para caminhar pela noitinha, enganando o calor com uma lua ainda quase cheia. A fauna natural do bairro passeava, humanos parados na esplanada, em frente à bola (uma vez mais) ou caminhando no habitual passeio higiénico dos caninos.
Os morcegos esvoaçavam em elipses à volta dos candeeiros sentido mosquitos, mas também à volta de vidrões e outros recipientes de lixo selectivo (somos um bairro que separa o que recicla, ainda que muitas vezes não pareça, dado os enchumaços que se plantam ao longo dos vários contentores). É a vida de recolectores na cidade - alimentar-se do que resta, do lixo, do que povoa o lixo.
Pelos vistos há agora vizinhos do quarteirão abaixo que dão guarida a gatos. Quando se dá comida e água num pratinho, e encosto debaixo de um motor, é certo que eles aparecem e agradecem.
A praga que tem vindo a afligir várias partes de Lisboa (e que antes era turística, porque confinada à baixa) de pombas pombas e mais pombas (gordas, imensas e gordas, a quem por reflexo condicionado quase toda a gente oferece comida) também nos atinge, especialmente havendo esplanadas que contribuem para a engorda. As ditas pombas agradecem tudo, beirais, sítios minúsculos para se encarrapitarem, tudo.
A vizinhança com o aeroporto (e falcões residentes) não as inibe. São muitas, e os tubos digestivos funcionam abundantemente. Adoram empoleirar-se em fila nos semáforos. Adoram passar a espécie infiltrante e preponderante, até no Jardim da Gulbenkian, competindo com os patos por cada bicada de pão.
Gosto de persegui-las, na esperança de um enfarte fatal do miocárdio devido à aterosclerose galopante sem dúvida associada a tanta obesidade.
Antes de ontem, dormia uma pomba, de cabeça escondida sobre a asa, no chão mesmo, perto da porta de entrada do meu prédio. A suprema lata, pensei eu - agora é para nós muito fácil pensar qualquer coisa que seja acerca dos outros (e pombas). Ela acordou mas não fugiu. mal andava, com uma asa desconjuntada. No dia seguinte encontrei-a morta e não consegui pensar em enxotar pombas. E é tudo.

segunda-feira, agosto 01, 2011

11.06.2001 - Indiana USA

(escrito após a execução de Timothy McVeigh e após ter visto a sua última entrevista ao "60 minutes"; há, para mim, actos de terrorismo, que transformam os dias comuns em puro medo, e crimes contra a humanidade, onde estes se enquadram; não me compete julgar quem comete assassínios em consciência, mas pelo menos posso opinar sobre as sociedades que os julgam e as penas que lhes são aplicadas. Que seria hoje de Hitler se tivesse Twitter e Facebook?)
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Terre Haute Skylight


(11.6.2001, Indiana,USA)
"Eu sou o dono do meu destino
Eu sou o comandante da minha Alma"
William Henley
1992- discurso de tomada de posse, Nelson Mandela
2001- últimas palavras de Timothy McVeigh

Diz-se que durante o seu transporte para a cela da morte, McVeigh pediu para parar e olhar a lua e as estrelas. Diz-se que o seu último desejo foi um jantar de gelado de chocolate com hortelã-pimenta.

Diz-se que o diabo branco americano morreu, que a pena se cumpriu. Se se fez justiça ou não, cabe a cada cabeça, muitas achando demasiado brando o método que o recambiou para as chamas ardentes, algumas rezando pela sua pobre alma ("temos que lhe perdoar, só assim ficaremos livres").

A caridade cristã norte-americana patrocinou um circuito fechado de TV para as vítimas e familiares de vítimas do atentado de Oklahoma que não tiveram a suprema felicidade de ser sorteados juntamente com alguns jornalistas para poderem assistir em directo, embora não in loco, aos 7 minutos e meio de uma morte há muito anunciada.

Diz-se que a vida imita a arte, a arte imita a vida; esta foi a Parte 1: "Dead Man Walking" de Tim Robbins, com Susan Sarandon e Sean Penn. Ainda se ouve Bruce Springsteen ao virar da esquina, quando os médicos e os guardas prisionais regressam a casa.
Descrição: McVeigh é amarrado a uma maca, seguem-se 3 injecções: 1ª, um sedativo, que prepara o organismo para não reagir, não haver aquela luta puramente animal, desenfreada e inconsciente, reflexo de sobrevivência que cai mal na CNN; 2ª, cloreto de pancurónio, derivado do curare, paralisa toda a musculatura esquelética, incluindo o diafragma daí resultando paragem respiratória (asfixia); 3ª, cloreto de potássio, provoca interferência na condução cardíaca, desregulando-a, levando à paragem.

Em 7 minutos e meio, paragem cardio-respiratória forçada. Não há reanimador na sala da morte, embora, em circunstâncias normais, qualquer doente nestas condições tivesse que ser imediatamente reanimado (no Juramento de Hipócrates, nunca diz para matar o próximo). Em circunstâncias normais, médicos especialistas teriam que esperar 48 horas para confirmar a morte cerebral, segundo apertados critérios.

"The Green Mile", baseado numa novela de Stephen King, leva-nos aos anos 30, tempo da "old sparky" (literalmente velha faísca), cadeira eléctrica cuja voltagem fazia apagar as luzes da vizinhança quando em utilização.

Timothy McVeigh desistiu por moto próprio da panoplia de recursos a tribunais, pedindo clemência. Decidiu não passar o resto da vida a esperar; assim, soube o tempo que lhe faltava viver.

Até o pedido do Papa caíu em saco roto aos pés do júnior e oligofrénico Bush. A Democracia baluarte dos valores do mundo moderno soçobrou à justiça olho por olho, dente por dente. Mostra bem a desagregação de um país onde os alunos do secundário praticam tiro ao alvo com os colegas e professores, tentando depois um harakiri estilo Pokemon. O país onde o anquilosado Charlton Heston clama por armas para todos. O país onde "pessoas normais", como o nosso vizinho da frente, perdem a cabeça e se tornam serial killers no McDonalds da esquina (será a BSE?).

O problema de McVeigh não era ter tendências de extrema direita, mas ser inteligente, ter formação militar (sendo até condecorado), e, sobretudo, ser um verdadeiro WASP. Nenhum americano lhe perdoa o facto de, com premeditação, ter agido como terrorista em próprio solo americano, destruindo um edifício federal como um castelo de cartas.

Se não fosse americano, era devolvido à precedência, e faziam-se umas manifs de vez em quando em frente à Casa Branca. Sendo americano, abriu uma ferida que não estanca no orgulho americano, no patriotismo sem limites e na paranóica caça às bruxas que inconscientemente defende os cidadãos americanos dos seus colonizadores europeus.

No filme "XFiles-Fight the Future", acharam a ideia de McVeigh tão boa que a recriaram em Dallas. Teoria da conspiração? O FBI nem sempre foi conhecido pelas suas virtudes, antes pelo seu poder velado.

Servindo uma vez mais de advogada do diabo (nunca pretendo pôr em causa a culpabilidade de McVeigh), o nosso terrorista é o típico introvertido e pacato cidadão com uma educação militar de códigos morais rígidos (quem mata quem em "American Beauty"?), que eventualmente chega a um ponto de colisão com o sistema, de não retorno ("Um dia de raiva", excelente desempenho de Michael Douglas), em que todos os mecanismos se dirigem para um objectivo concreto e a própria ideia de vida (própria e dos outros) se relativiza e secundariza até deixar de existir como tal. Segue apenas um comando, tal como a massificação da sociedade o moldou.

As reacções emocionais assoberbadas pelo aparentemente frio e contido nemésis americano na sua entrevista ao "60 minutes" não permitem julgamentos livres de preconceitos. Pessoalmente, não descobri uma mente intuitivamente criminosa, um pavão preconceituado neo-nazi como o pintaram. Perpetrou um acto terrorista contra a Mãe de todas as instituições, o estado americano, tendo morrido muitas pessoas inocentes. Não se esquivou à responsabilidade. Estava preparado para o crime e o castigo, como um soldado na frente de uma batalha.
E assim perante o Deus que é citado nas notas de dólar, e George W Bush, o tal senhor que parece que é presidente dos EUA mas não tem bem a certeza, Timothy McVeigh olhou para a câmara de televisão estrategicamente colocada no tecto, olhos fixos do efeito do sedativo…

…Aquele que já morreu vos saúda.

Na Noruega não se passa nada

A Noruega é como o Canadá. Nunca se passa nada que não seja relacionado com peixe ou genocídios em massa. O bacalhau, as palmetas, bomba e tiro a noruegueses, matança de focas bebés. Se acrescentarmos a Dinamarca, eis o príncipe Hamlet, que também não tem antecedentes muito favoráveis.
É um país do qual não se ouve falar. Até da Islândia se fala. Da falência e dos vulcões que ameaçam o espaço aéreo.
Dia 22 a Noruega entrou para a história dos noticiários sórdidos. Uma bomba "artesanal" num edifício público, um homem vestido de polícia a matar jovens trabalhistas numa ilha.
O dito Anders foi comparado a Timothy McVeigh, o  americano que pôs uma bomba num edifício federal em Oklahoma em 1995 (o material da bomba "caseira" é semelhante, porque é fácil de obter). Timothy foi condenado à morte e executado em 2001, por actos terroristas em solo americano. Bin Laden (presumivelmente), demorou mais tempo (mais sem tribunal nem júri).
Aí não concordo. O nórdico loiro que se passeava com as suas ideias de supremacia da raça "europeia", não comunista, não muçulmana, não "matriarcal (sic), não outra que mui cristã, imbuído do seu grande sentido de missão, por várias redes sociais, qual templário alado, vaticinou uma chacina sem quartel a acabar em 2089, com direito a vídeo no Youtube.
"Celebrate us martyrs of the conservative revolution, for we soon dine in the kingdom of heaven".
Obviamente, há espírito de missão. Haverá células adormecidas há espera do toque do mestre. Parece-me tudo muito mais maquiavélico. Timothy manifestou-se contra o governo federal - matando gente. Anders proclama o mundo novo - matando gente à queima roupa e manipulando os media mesmo na reclusão da prisão. Mudam-se os tempos.
O que é certo é que não me importava de ver a cabeça de Anders empalada, enquanto que nunca fui a favor da pena de morte para Timothy. Problema de proximidade? Des-sensibilização e intolerância televisivas?
Não sei explicar. É como o mundo, anda complicado.
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