Pedras Rolantes

"A vida é aquilo que acontece enquanto estás demasiado ocupado a fazer outros planos" John Lennon



"You can't always get what you want, but sometimes, yeah just sometimes, you can get what you need" The Rolling Stones



terça-feira, agosto 16, 2011

Por ver morrer uma pomba

Anteontem saí para caminhar pela noitinha, enganando o calor com uma lua ainda quase cheia. A fauna natural do bairro passeava, humanos parados na esplanada, em frente à bola (uma vez mais) ou caminhando no habitual passeio higiénico dos caninos.
Os morcegos esvoaçavam em elipses à volta dos candeeiros sentido mosquitos, mas também à volta de vidrões e outros recipientes de lixo selectivo (somos um bairro que separa o que recicla, ainda que muitas vezes não pareça, dado os enchumaços que se plantam ao longo dos vários contentores). É a vida de recolectores na cidade - alimentar-se do que resta, do lixo, do que povoa o lixo.
Pelos vistos há agora vizinhos do quarteirão abaixo que dão guarida a gatos. Quando se dá comida e água num pratinho, e encosto debaixo de um motor, é certo que eles aparecem e agradecem.
A praga que tem vindo a afligir várias partes de Lisboa (e que antes era turística, porque confinada à baixa) de pombas pombas e mais pombas (gordas, imensas e gordas, a quem por reflexo condicionado quase toda a gente oferece comida) também nos atinge, especialmente havendo esplanadas que contribuem para a engorda. As ditas pombas agradecem tudo, beirais, sítios minúsculos para se encarrapitarem, tudo.
A vizinhança com o aeroporto (e falcões residentes) não as inibe. São muitas, e os tubos digestivos funcionam abundantemente. Adoram empoleirar-se em fila nos semáforos. Adoram passar a espécie infiltrante e preponderante, até no Jardim da Gulbenkian, competindo com os patos por cada bicada de pão.
Gosto de persegui-las, na esperança de um enfarte fatal do miocárdio devido à aterosclerose galopante sem dúvida associada a tanta obesidade.
Antes de ontem, dormia uma pomba, de cabeça escondida sobre a asa, no chão mesmo, perto da porta de entrada do meu prédio. A suprema lata, pensei eu - agora é para nós muito fácil pensar qualquer coisa que seja acerca dos outros (e pombas). Ela acordou mas não fugiu. mal andava, com uma asa desconjuntada. No dia seguinte encontrei-a morta e não consegui pensar em enxotar pombas. E é tudo.
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